sábado, 29 de abril de 2023

Queria João Rodrigues

 QUERIA

 

JOÃO RODRIGUES

 

Queria vir de um canto

De amor ou de paixão

Queria poder sentir

O que sentiram no ato

Sem beijos e abraços

Tudo poderia ser

Já que eu ia nascer

Lá no canto de alguém

Tentando me encontrar

Perdido no manto errante

De último em último lugar,

 

No meio do corpo do ser

Com amor ou sentimento

No cantar de um cantor

Na dor do amor ardente,

 

No controle da paixão

No abismo do viver

Queria poder ser

O que alguém pensou

Ser o fruto do amor

De um ato de poder

Como uma luz que acende

Num candeeiro pendente

De um olhar sorridente

De amar, amar, amar,

 

Queria poder chorar

Por vontade de ter

Na impossibilidade do ser

Um parceiro de alguém

Queria poder gritar

Venha cá meu grande amor

Mesmo sentindo dor

Gostaria de estar

Assentado ali do lado

Buscando me encontrar,

 

Sabendo que sou motivo

Vivo de poder viver

Queria sair a correr

Rumo a alguém para abraçar

Sorridente a pensar

No que poderia ter,

 

Queria fechar os olhos

Na escuridão do beijo

Ver minha alma gritar

Na vitória do desejo

Sentir o sangue no corpo

Desrespeitando a paixão

Acendendo a ilusão,

 

Queria me ver viver

Dividir com o meu eu

Ou então compartilhar

No abismo do viver

Vender a mim o que tenho

Somando para meu bem

Ter um total de engano

Sem engano de ninguém,

 

Queria me ver nascer

De um ventre de ilusão

Minhas células agradecidas

Sem ver ninguém a sofrer

Saciando sentimentos,

 

Queria ser enrolado

Na maciez da lã

Agraciado por um fã

Depois de uma canção,

 

Queria receber

No gosto ou paladar

Na fome sempre a chorar

No gesto acalentador

Matando a fome da dor

Cumprindo cada papel

Na cabeça de alguém

No manto da consciência

Pousar na amargura

Na dura fã competência,

 

No comprimento da corda

Na dobra da ilusão

Na grande cidade habitada

Lá na floresta azul,

 

Na imensidão do mar

No desejo da escuridão

Na muleta estirada

Lá no canto do salão,

 

Como o degrau da escada

Na distância do meu ser

Cada dia sempre a viver

Subindo em um destino

Como o tocar do sino

No alto do santuário

Avisando lá distante

Seres que vão voar

E misturando ao ar

Escondendo-se nas nuvens

E encontrando ao sol

Depois do mar de fumaça

Nas ondas da ilusão

Fazendo da terra um abismo

No mar curto do ser

Nos pequenos pés corados

Da donzela tentadora

Desejada por alguém

A conhecer a paixão

No enamorar da vida

Nos passos da emoção

No caminho desconhecido

De cada nota expedida

Sem letra em nossa mente

No nascer só por nascer

Registrando sentimento

Que mesmo sem querer ser

Sendo o que de querer

Contente mesmo a sofrer

De querer, querer, querer,

 

Queria ir para longe

No canto ver o olhar

Ver o sorriso ouvir o som

Da natureza vivendo

Protegida a cantar

Batendo palmas

Quantas palmas

Palmas de gratidão

Por Deus criar

Motivos e as razões,

 

Queria assim poder

Dar direito a liberdade

De certa forma a sorrir

No caminho a seguir

Encontrando-me ao rio

Depois da confusão,

Na praia do desencanto

Querendo no desconforto

Do desgosto de alguém

Na casa do seu poder

Cantar sempre a sofrer

Esvaziando o tempo

Misturando-se ao vento

De somente ser um ser

Cuidando com o cuidado

De alguém que ensinou

O comportamento do bem

Pregando somente o amor,

 

Quantos que não fizeram

Fechou-se no sério

Esquecendo de sorrir

No desconforto sem ter

A cor desconfiante

Da pequenez do ser,

 

Eu queria ser o que penso

Se eu pudesse pensar

Correria para alguém

Sem medo de te amar,

 

Poderia ser

Eu um feliz,

Ou uma flor a nascer

Mesmo na imaginação,

 

Correndo assim

Carregando um coração

Pesando os meus desejos

Como termostato de beijo

Medindo a compaixão

Olhando, olhando, olhando,

 

Sentindo a lágrima cair

Na lembrança do viver

Que ficou sem poder

Até mesmo de querer,

 

Seguindo o caminho perdido

Demonstrando-me fingido

Somente pra não sofrer

Talvez esperando

O que nunca vai chegar,

 

Corajosamente a tentar

Mesmo na inocência

Olhando pelo espelho

Tentando me encontrar

Como um pedaço de ser

Na oficina da mente,

 

Queria pois

Queria sim

Desejar o que,

De não ver alguém sofrer

Se eu pudesse curar

A dor doida da sorte

Escondida no destino

Da vida do mentiroso

Do orgulho vadio,

 

Fechar na corrente o fio

Desligar meu pensamento

Interrompendo o convívio

Que fez doer o coração

Murchando a flor do amor

Regada pela paixão,

 

Queria poder dizer

Ao mundo inteiro contente

Falar com todos

Amor que já guardei

Amor que já sonhei

Amor que quero dar

Amor que sem penar

Amor a cantar,

 

Hinos sem canção

Somente no sentimento

Dançando valsa

Escondendo o sofrimento,

 

Queria sair andando

De mãos dadas com alguém

Que sentisse a minha falta

Assim eu seria,

Seria um ser felizardo

Não importava ser

Amado ou desamado,

 

O certo é que eu seria

O mais feliz da terra

Só de poder tocar

Na sua delicada mão

Receber o seu calor

Ou o seu amor fraterno

No cadeado aberto

Dos pés ao coração,

 

Queria correr, correr

Sorrir, sorrir, sorrir, sorrir

Mesmo sem saber onde ir,

 

Amar, amar, amar

Ordem que muitos deram

Eu nunca obedeci,

 

Queria poder ter

Além deste mandamento

Distante do sofrimento

Eu sempre queria estar

Vendo montes azuis

Cordilheiras e pomares

Pântanos e vertentes

Lagos e grandes mares,

 

Como lágrimas do ser

Eu queria como queria

Queria sempre assim,

 

Queria sentir a luz

Queria iluminar

Queria poder ver

Queria ter a visão

Queria ser a canção

Queria, queria, queria,

 

Queria encaminhar

O passaporte da sorte,

 

Queria andar com ela

Queria ser a janela

E ver toda manhã

O subir do sol,

 

Sem importar com o calor

Esconder-me na cortina

Enroscar em seus cabelos

Respirar o seu perfume

Adivinhar o seu desejo,

 

Ler as histórias dos olhos

Como estrelas a cintilarem,

 

Queria poder falar

Afogado na emoção

Sentir o coração

Pedindo para ser amado

Ver o seu corpo jogado

Na esteira do querer

Isso que eu queria

Queria, queria, queria,

 

Queria poder falar

Em todos os meus instantes

De alegrias vividas

Mesmo até esquecidas,

 

Queria ouvir zunir

O vendaval do viver

Além do canto do tempo

Do nada de ser ou ser,

 

Queria mesmo a correr

Queria poder

Queria cantar

Queria sofrer

Queria saber

Queria crer,

 

Queria ir sem sentir

Queria olhar

Queria,

 

Queria provar do fim

Ser o dono de mim

Queria sim

Queria ser assim,

 

Queria me despedir

Se fosse possível

Sem chorar,

 

Queria poder

Não te esquecer

Queria agora

Antes de tudo

Não ficar mudo,

 

Queria

O que eu queria

Queria sempre

Para sempre

Sempre eu queria.

 

Contudo o meu querer

Nunca me fez crer

Como poderia ser

O que sempre sem saber

Como iria acontecer,

 

Portanto eu queria

Navegar no além

Conhecer o meu alguém,

 

Ou onde estaria

O que do tudo que eu queria

Se é que posso ter

Ou vou ficar no querer

De querer, querer, querer,

 

Devo chorar

Se não sei o que fazer

Se só vivo no quer,

 

Onde estou

Num canto

Ou no aberto,

Que deserto

Turbilhão de incerteza

De tanto que de querer

Perco-me só de quer,

 

Queria ir

Nem mesmo sei o destino

Prá onde vou

Somente a querer

Sem saber

O que querer,

 

Queria sim

Viver eternamente

Ser um ser simplesmente

Assim eu estaria contente

Nem precisaria chorar

Por mim ou por alguém

Que mesmo nem sei quem

Queria ser,

 

Queria contestar

Contra o próprio mal

Desembainhar o punhal

Na sangria do novilho

Queria sair do trilho

Chega de confusão

De tanto lutar pelo pão

Queria deixar pra lá,

 

Que pedir dinheiro

Para o mais pobre dos seres

Ver se negaria a mim

O que talvez não tivesse,

 

Só sei que eu queria,

 

Queria confundir

O olhar do invejoso

Prender o mentiroso

Na sua rede maldita,

 

Só isso que queria,

 

Queria fazer a guerra

Ser somente uma lembrança

Queria ser a esperança

De todos os desenganados,

 

Nada mais eu queria,

 

Queria o passado

Só para ter ao meu lado

O sorriso de alguém

Que até sem pensar

A mim iria falar

O que eu queria ouvir

Talvez contente a sorrir,

 

Como eu queria,

 

Queria lutar

Sim queria

Por um espaço maior

Assim não seria

Apenas o que queria,

 

Isso eu queria,

 

Só sei que eu queria

Saber como seria

O meu que de querer

Quanto eu queria.

 

 

FIM

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