QUERIA
JOÃO RODRIGUES
Queria vir de um canto
De amor ou de paixão
Queria poder sentir
O que sentiram no ato
Sem beijos e abraços
Tudo poderia ser
Já que eu ia nascer
Lá no canto de alguém
Tentando me encontrar
Perdido no manto errante
De último em último lugar,
No meio do corpo do ser
Com amor ou sentimento
No cantar de um cantor
Na dor do amor ardente,
No controle da paixão
No abismo do viver
Queria poder ser
O que alguém pensou
Ser o fruto do amor
De um ato de poder
Como uma luz que acende
Num candeeiro pendente
De um olhar sorridente
De amar, amar, amar,
Queria poder chorar
Por vontade de ter
Na impossibilidade do ser
Um parceiro de alguém
Queria poder gritar
Venha cá meu grande amor
Mesmo sentindo dor
Gostaria de estar
Assentado ali do lado
Buscando me encontrar,
Sabendo que sou motivo
Vivo de poder viver
Queria sair a correr
Rumo a alguém para abraçar
Sorridente a pensar
No que poderia ter,
Queria fechar os olhos
Na escuridão do beijo
Ver minha alma gritar
Na vitória do desejo
Sentir o sangue no corpo
Desrespeitando a paixão
Acendendo a ilusão,
Queria me ver viver
Dividir com o meu eu
Ou então compartilhar
No abismo do viver
Vender a mim o que tenho
Somando para meu bem
Ter um total de engano
Sem engano de ninguém,
Queria me ver nascer
De um ventre de ilusão
Minhas células agradecidas
Sem ver ninguém a sofrer
Saciando sentimentos,
Queria ser enrolado
Na maciez da lã
Agraciado por um fã
Depois de uma canção,
Queria receber
No gosto ou paladar
Na fome sempre a chorar
No gesto acalentador
Matando a fome da dor
Cumprindo cada papel
Na cabeça de alguém
No manto da consciência
Pousar na amargura
Na dura fã competência,
No comprimento da corda
Na dobra da ilusão
Na grande cidade habitada
Lá na floresta azul,
Na imensidão do mar
No desejo da escuridão
Na muleta estirada
Lá no canto do salão,
Como o degrau da escada
Na distância do meu ser
Cada dia sempre a viver
Subindo em um destino
Como o tocar do sino
No alto do santuário
Avisando lá distante
Seres que vão voar
E misturando ao ar
Escondendo-se nas nuvens
E encontrando ao sol
Depois do mar de fumaça
Nas ondas da ilusão
Fazendo da terra um abismo
No mar curto do ser
Nos pequenos pés corados
Da donzela tentadora
Desejada por alguém
A conhecer a paixão
No enamorar da vida
Nos passos da emoção
No caminho desconhecido
De cada nota expedida
Sem letra em nossa mente
No nascer só por nascer
Registrando sentimento
Que mesmo sem querer ser
Sendo o que de querer
Contente mesmo a sofrer
De querer, querer, querer,
Queria ir para longe
No canto ver o olhar
Ver o sorriso ouvir o som
Da natureza vivendo
Protegida a cantar
Batendo palmas
Quantas palmas
Palmas de gratidão
Por Deus criar
Motivos e as razões,
Queria assim poder
Dar direito a liberdade
De certa forma a sorrir
No caminho a seguir
Encontrando-me ao rio
Depois da confusão,
Na praia do desencanto
Querendo no desconforto
Do desgosto de alguém
Na casa do seu poder
Cantar sempre a sofrer
Esvaziando o tempo
Misturando-se ao vento
De somente ser um ser
Cuidando com o cuidado
De alguém que ensinou
O comportamento do bem
Pregando somente o amor,
Quantos que não fizeram
Fechou-se no sério
Esquecendo de sorrir
No desconforto sem ter
A cor desconfiante
Da pequenez do ser,
Eu queria ser o que penso
Se eu pudesse pensar
Correria para alguém
Sem medo de te amar,
Poderia ser
Eu um feliz,
Ou uma flor a nascer
Mesmo na imaginação,
Correndo assim
Carregando um coração
Pesando os meus desejos
Como termostato de beijo
Medindo a compaixão
Olhando, olhando, olhando,
Sentindo a lágrima cair
Na lembrança do viver
Que ficou sem poder
Até mesmo de querer,
Seguindo o caminho perdido
Demonstrando-me fingido
Somente pra não sofrer
Talvez esperando
O que nunca vai chegar,
Corajosamente a tentar
Mesmo na inocência
Olhando pelo espelho
Tentando me encontrar
Como um pedaço de ser
Na oficina da mente,
Queria pois
Queria sim
Desejar o que,
De não ver alguém sofrer
Se eu pudesse curar
A dor doida da sorte
Escondida no destino
Da vida do mentiroso
Do orgulho vadio,
Fechar na corrente o fio
Desligar meu pensamento
Interrompendo o convívio
Que fez doer o coração
Murchando a flor do amor
Regada pela paixão,
Queria poder dizer
Ao mundo inteiro contente
Falar com todos
Amor que já guardei
Amor que já sonhei
Amor que quero dar
Amor que sem penar
Amor a cantar,
Hinos sem canção
Somente no sentimento
Dançando valsa
Escondendo o sofrimento,
Queria sair andando
De mãos dadas com alguém
Que sentisse a minha falta
Assim eu seria,
Seria um ser felizardo
Não importava ser
Amado ou desamado,
O certo é que eu seria
O mais feliz da terra
Só de poder tocar
Na sua delicada mão
Receber o seu calor
Ou o seu amor fraterno
No cadeado aberto
Dos pés ao coração,
Queria correr, correr
Sorrir, sorrir, sorrir, sorrir
Mesmo sem saber onde ir,
Amar, amar, amar
Ordem que muitos deram
Eu nunca obedeci,
Queria poder ter
Além deste mandamento
Distante do sofrimento
Eu sempre queria estar
Vendo montes azuis
Cordilheiras e pomares
Pântanos e vertentes
Lagos e grandes mares,
Como lágrimas do ser
Eu queria como queria
Queria sempre assim,
Queria sentir a luz
Queria iluminar
Queria poder ver
Queria ter a visão
Queria ser a canção
Queria, queria, queria,
Queria encaminhar
O passaporte da sorte,
Queria andar com ela
Queria ser a janela
E ver toda manhã
O subir do sol,
Sem importar com o calor
Esconder-me na cortina
Enroscar em seus cabelos
Respirar o seu perfume
Adivinhar o seu desejo,
Ler as histórias dos olhos
Como estrelas a cintilarem,
Queria poder falar
Afogado na emoção
Sentir o coração
Pedindo para ser amado
Ver o seu corpo jogado
Na esteira do querer
Isso que eu queria
Queria, queria, queria,
Queria poder falar
Em todos os meus instantes
De alegrias vividas
Mesmo até esquecidas,
Queria ouvir zunir
O vendaval do viver
Além do canto do tempo
Do nada de ser ou ser,
Queria mesmo a correr
Queria poder
Queria cantar
Queria sofrer
Queria saber
Queria crer,
Queria ir sem sentir
Queria olhar
Queria,
Queria provar do fim
Ser o dono de mim
Queria sim
Queria ser assim,
Queria me despedir
Se fosse possível
Sem chorar,
Queria poder
Não te esquecer
Queria agora
Antes de tudo
Não ficar mudo,
Queria
O que eu queria
Queria sempre
Para sempre
Sempre eu queria.
Contudo o meu querer
Nunca me fez crer
Como poderia ser
O que sempre sem saber
Como iria acontecer,
Portanto eu queria
Navegar no além
Conhecer o meu alguém,
Ou onde estaria
O que do tudo que eu queria
Se é que posso ter
Ou vou ficar no querer
De querer, querer, querer,
Devo chorar
Se não sei o que fazer
Se só vivo no quer,
Onde estou
Num canto
Ou no aberto,
Que deserto
Turbilhão de incerteza
De tanto que de querer
Perco-me só de quer,
Queria ir
Nem mesmo sei o destino
Prá onde vou
Somente a querer
Sem saber
O que querer,
Queria sim
Viver eternamente
Ser um ser simplesmente
Assim eu estaria contente
Nem precisaria chorar
Por mim ou por alguém
Que mesmo nem sei quem
Queria ser,
Queria contestar
Contra o próprio mal
Desembainhar o punhal
Na sangria do novilho
Queria sair do trilho
Chega de confusão
De tanto lutar pelo pão
Queria deixar pra lá,
Que pedir dinheiro
Para o mais pobre dos seres
Ver se negaria a mim
O que talvez não tivesse,
Só sei que eu queria,
Queria confundir
O olhar do invejoso
Prender o mentiroso
Na sua rede maldita,
Só isso que queria,
Queria fazer a guerra
Ser somente uma lembrança
Queria ser a esperança
De todos os desenganados,
Nada mais eu queria,
Queria o passado
Só para ter ao meu lado
O sorriso de alguém
Que até sem pensar
A mim iria falar
O que eu queria ouvir
Talvez contente a sorrir,
Como eu queria,
Queria lutar
Sim queria
Por um espaço maior
Assim não seria
Apenas o que queria,
Isso eu queria,
Só sei que eu queria
Saber como seria
O meu que de querer
Quanto eu queria.
FIM
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