quinta-feira, 27 de abril de 2023

O Caçador João Rodrigues

 O CAÇADOR

 

JOÃO RODRIGUES

 

Nas brenhas do sertão

Perto do rio pandeiro

Aconteceu uma desgraça

Num pequeno arraial

Numa tarde de céu claro

Na casa de Zé Ribeiro,

 

O coronel Aragão

Pra mostrar o seu poder

Mandou matar Zé Ribeiro

E toda sua família,

 

Só sobrou o filho João

Chamado de caçador

Porque estava distante

Na casa do seu avô,

 

No arraial tinha Anita

A namorada de João

Que logo foi avisá-lo

Do que tinha acontecido

Montada em um alazão,

 

João já estava de volta

Ao encontrar sua amada

Notou que algo terrível

Anita ia dizer...

 

- Fale querida, fale

Não precisa fraquejar

Deixe sua voz bradar

Porque tu és tão bela,

 

-Não é caso de brincar

Sou obrigada dizer

O coronel Aragão,

 

O que quer dizer  querida

Que mataram o meu pai...

 

- Sua mãe e seus irmãos

Também chegaram ao fim,

 

- Coronel desgraçado

O que será de mim!

Sem família, sem ninguém

Neste mundo sem assim,

 

- Estou do seu lado amor

Pro que der, eu estarei

Morrerei por sua causa...

 

- Não importa Anita

Nunca serei o mesmo

Não tenho amor pra te dar

Só ódio vou carregar

Pela minha vida inteira,

Até mesmo a floresta

Ficou atordoada

Quando João relatou

O ódio que o levaria

Pro resto de sua vida,

 

A beleza de Anita

Parecia acabar

Como viver agora

Sem o seu grande amor...

 

- Não chores, Anita

Não chores

Pois não posso te ouvir

Não tenho nem como ver

Os seus prantos rolarem,

 

- Pra onde foram seus olhos?

Onde está o nosso amor?

E aquele homem forte

Chamado de Caçador?

 

- Ainda sou ele

O caçador de coronel

Você é testemunha

De quantos que já cacei

Que mataram de certa forma

Pais que não eram meus

Porém agora querida

Sinto uma grande dor

No peito do caçador

Pois foi meu pai que morreu,

 

A noite chegava

Com o seu manto de trevas

João ainda avistava

Restos mortais do seu pai

As marcas da violência

Do coronel Aragão,

 

Anita sempre ao seu lado

Tentando aconselhar

Seus lindos olhos brilhando

Nos restos de chamas

Que lentamente ardiam

Os esteios do casa,

 

Amigos de Zé Ribeiro

Pousavam ao lado de João

Demonstrando amizade

E grande consideração,

 

-O que pretende  Caçador?

Pra enfrentar o coronel?

Já que este é o seu destino

Como o dedo e o anel,

 

- Foram longe  delegado

Nem sei o que fazer

Já defendi outras pessoas

Lutei por outra razão

Nunca pensei um dia

Matar o velho Aragão,

 

- Você não pode matá-lo

Eu vou mandar prender

O coronel será julgado

E ninguém vai defender,

 

- Não vejo nenhum juiz

Que possa ter o direito

Capaz de tirar delegado

Esta grande agonia

Que assola a nação

Que povoa a terra

Desde a sua existência,

 

- Compreendo Caçador

Mas não posso deixar

Você sair por ai

Fazendo o que bem quiser...

 

- Não posso Doutor

Porque não sou coronel

Sou mais um dos coitados

Que se cala na miséria

Não Doutor, não

Nunca me calei

Não é agora que vou calar

Se tentar me impedir

Terá um amargo fim,

 

- Eu sou autoridade

Não sou um homem qualquer

Por isso Caçador

Você precisa escutar.

 

- Não tenho ouvidos Doutor

Pra ouvir tanta besteira

O Coronel Aragão

Nunca te respeitou

Pra ele sua autoridade

É uma coisa qualquer,

 

João se despediu

Do povo e de sua amada

Montou em seu cavalo

E pôs o pé na estrada,

 

- Ele me deixou falando

Reclamando o delegado

Quando João partiu

Só pranto ele deixou...

 

- Calma minha filha, calma

Caçador sabe o que faz

Logo ele estará de volta

Coitado do velho Aragão!

 

- Não sei dona Neiva

Se o destino tem razão

Porque ele não me trouxe

Outro homem para me amar,

 

- Não fique triste filha

Todos homens são assim

Não se lembra do seu pai...

 

- Meu pai

Pobre homem

Deus lhe dê um bom lugar,

 

A dona Neiva olhando

A  parede onde estava

O retrato de Gerson

Assim relatou chorando:

 

- Sofrimento

Sofrimento sem você Gerson

Nas noites frias...

 

- Tudo por causa dos coronéis

Não fosse aquele desgraçado

Meu pai estaria vivo,

 

- Não adianta pensar

O que passou, passou

Só nos resta sofrer

Até quando o nosso dia...

 

O dia amanheceu em Pilão

Anita e sua mãe

Guardavam em seus olhares

A saudade de João,

 

- O delegado disse

 Que vai procurar  Caçador

E não permitirá

Brigar com o coronel,

 

- O Doutor Patrocínio

Está brincando com a sorte

Se não se afastar de João

Encontrará com a morte,

 

- Lá vem vindo ele

O que será que quer

Será que vem pedir

Pra não nos entrometer,

 

- Deve ser minha filha

Alguma coisa ruim

Quando os homens estão

À procura de alguém

É como se fossem um cão

Farejando um vivente

Correndo na densa mata,

 

- Bom dia Dona Neiva

Posso falar com Anita?

 

- Sim delegado

Aguarde que vou chamar

Hoje ela esta muito triste

Com a partida do Caçador,

 

- O que quer de mim Doutor

Não basta que o Caçador

Declarou na escuridão

De ódio e desespero?

 

- O que vou fazer

É impedir uma desgraça

Chega de tanta matança

Isto faz doer

No fundo do coração,

 

- Você é autoridade Doutor

Escolheu o seu ofício

João é um Caçador

Não recebe do estado

Para proteger coronel

Com cara de retardado

Dele é chumbo sem pena

Não adianta reclamar

Quem entra em sua mira

Está marcado pra morrer

Hoje é o coronel Aragão

Depois pode ser você,

 

- Está me ameaçando?

Só por confiança no João

Eu posso até te prender

Por desacato a autoridade,

 

- O caso não é esse Doutor

Será que não compreende

O que os coronéis já fizeram

Em toda esta região

Todos estaríamos mortos

Se não fosse o Caçador,

 

- Mas o que fizeram

Agora é diferente

Eu cheguei para por ordens,

 

- Ordens Doutor, que ordens

Grande ordem colocou

Bem perto do seu nariz

Zé Ribeiro assassinado

Dentro de sua casa

Com a família massacrado,

 

Acho melhor o senhor ir

Procurar se encontrar

Descobrir o seu dever

E cumprí-lo se puder

Antes que seja tarde

Pois os homens de Aragão

Devem aparecer

Para matarem a sede

Do vandalismo que vivem,

- Eu vou embora Dona Neiva

Pela sua educação

Mas para o seu governo

Sei o que devo fazer

Sou eu que mando aqui

Ninguém vai se intrometer,

 

O delegado se foi

Com seus capangas do lado

Anita ficou olhando...

 

Os dias se passaram

Nem notícias de João

Onde estaria agora

O homem da solução,

 

- Mãe, Caçador nem notíicias

O que será que aconteceu?

Será que está lutando?

Ou será que morreu?

 

- Vire essa boca pra lá filha

Ele não pode morrer

Pois é ele a salvação

Pra nós duas neste lugar

Se o Caçador morrer

Eu nem sei o que será,

- Não sei mãe, não sei

Ninguém do coronel

Apareceu em Pilão,

 

- Será que eles

Descobriram

Que Caçador ficou vivo?

 

- Ah! Devem saber

O delegado foi avisar

Eles são encarregados

De proteger os bandidos,

 

Antes de Anita terminar

Viu a cidade invadida

Homens do coronel

Chegavam de todos os lados,

 

- Chegaram mãe, chegaram

Vi que estavam demorando

O que vieram fazer?

O que estão procurando?

 

- Pode esperar encrenca filha

Parece chegar o nosso fim

Deus que nos ajude

Mandando o Caçador,

 

Os homens bebiam no bar

Festejando algo impossível

O Doutor Patrocínio

Foi tirar satisfação,

 

- Por que o coronel Aragão

Não veio com vocês?

 

- Devemos responder?

Ou damos um tiro nele?

Hem! O que devemos fazer?

 

- Perguntei pelo coronel

Pistoleiro retardado

Tome o que merece,

 

O delegado atirou

O homem foi ao chão

Os demais se rebelaram...

 

- Não podemos aceitar

Somos pistoleiros respeitados

Ninguém nos desafia

Delegado retardado,

 

Em poucos minutos

Muitos estendidos no chão

Inclusive o delegado

Estirado como um cão,

 

Poucos homens restaram

No sangrento tiroteio

Montaram em seus cavalos

E se foram em desespero,

 

Anita foi ao local

Tomar conhecimento

Seu coração no peito

Bradava de sofrimento,

Também foi o pastor

Ver o que aconteceu

Aos seus filhos cristãos

Que da vida tinham partido,

 

- E o que vai fazer pastor?

Com tanta humilhação

Será que seu Deus

Não vai mandar solução?

 

- Deus sabe o que faz, Anita

Não precisa desesperar

Se foi sua decisão

Ninguém ia impedir

Portanto minha filha

Só nos resta esperar,

 

Orando por Vossa Proteção

Pra nos defender da morte

Ver se um dia em Pilão

A paz irá chegar,

 

- Você está louco, pastor

No mundo inteiro é assim

Pessoas prostadas nos templos

Em busca de solução

Orando por um deus invisível

Que nunca vem ajudar

E todo dia que passa

Só a morte que se vê

Provocada por coronéis

Que não os vimos orar

Porém paga seus salários

Para continuar a desgraça,

 

- Não ganho de coronel

Sou pago pelo cristão

Não me envolvo em política

Minha profissão é orar,

 

- Não envolve em política

O seu Deus é diferente?

Não somos todos iguais

Porque deixam marginais,

 

- Filha, deixe o pastor

Você não vai mudar

Nem o pensamento

De pessoas decididas

A servir a escravidão

Se escondendo na gravata

Para enganar o irmão,

 

-  Até a senhora dona Neiva

Que é temente a Deus

Hoje está contra mim

Que tanto lhe ouvi chorar

Depois que dei conselhos

Agora veio pagar,

 

- Essa semana que passou

Foi muito boa para viver

Sempre na expectativa

Do que ia acontecer

Mas não esperei que fosse

Tanto descontentamento,

 

- Porém estou feliz

Pelo que está acontecendo

Apesar de ver gente morta

Não posso me conter

Neste instante é revolta

Que tenho para dizer,

 

- Diz Anita, diz

Pode dizer a vontade

Mas nada vai mudar

Quantos anos vivo aqui

Quantos já vi morrer

Quantos que disseram

E calaram no tempo

Foram soterrados

No destino sem querer

Hoje você está dizendo

Nem mesmo sabe o quê,

 

Pilão mergulhada no sertão

Via seu povo morrer

Nem a força de Caçador

Impedia o vandalismo

Nem a igreja com a fé

Conseguiu aliviar

A desgraça possuída

Pelo vendaval da sorte

A pobre sendo encolhida

Lentamente pela morte,

 

Pra onde foi o Caçador

Desde a noite de aflição

Deixando ali seu amor

Esquecida no sertão,

 

Anita e dona Neiva

Perdidas na esperança

Esperando o Caçador

Realizar a vingança,

Nas noites só o luar

Nos dias o sol ardente...

 

- Lá vem o senhor Paulo

O que será que ele quer

Será que não entendeu,

 

- Existem pessoas minha filha

Que não sabem querer

Muitas se perdem

A procura do ninguém.

 

- Mas pelo que sinto

Ele procura alguém

Só pode ser a senhora,

 

- Não sei o ele quer filha

Pois só tenho solidão

No meu peito um coração

Que já nem sabe amar,

 

- Mas quem sabe o dele

Ainda está suportando

Com tanto tempo viúvo

Pode estar esperando,

 

Enquanto Anita falava

A Neiva perdia-se no tempo

Vendo o homem chegar

Lhe dava até impressão

Que lhe deu satisfação,

 

- Bom dia senhora Neiva

Quanto tempo eu esperei

Para poder vir em sua casa

Não imagina o que sonhei,

 

- Pode entrar senhor Paulo

A que lhe devo a visita?

 

Neiva até parecia

Ainda estar navegando

Acordada ou sonhando

No deslizar de sua mente,

 

- No longe às vezes eu vejo

No tempo da juventude

Ainda recordo o que fui

E quem eu queria amar

Porém o tempo levou

Só tenho recordação

Como dói meu coração

Em busca de outro amor,

 

- Mas o que tem a ver

Minha mãe com seu passado

Que longe ficou jogado?

 

- Muitas coisas Anita

No por acaso do viver

Nos faz chorar de contente,

 

Neiva até sorridente

Ouvia o homem falar

Pensando que fosse dela

A lembrança relatada,

 

- Senhor Paulo meu amigo

Nunca pensei em chegar

No caminho do viver

E justamente encontrar

Alguém muito distinto

Para me acompanhar,

 

Com a declaração de Neiva

Anita se retirou

Levando consigo a lição

Da vida e do amor

Com a beleza profunda

Tal como o cristal

Em nossa imaginação,

 

Os dois ficaram a sós

Puderam se refletirem

Mesmo sem ter aonde irem

Por onde recomeçar,

 

- Neiva como você

Parece tanto com ela

Que se foi pela janela

Perdida na minha mente,

 

- Sei Paulo, o que diz

Foram muitos os meus dias

Num sorriso que não via

O momento de chegar,

 

- Porém hoje chegou

Nosso momento esperado

De dois corações cansados

Na ilusão do viver

Pois até nos fez sofrer,

 

Neiva de olhos fechados

Beijou Paulo ardentemente

Com seus bustos hesitados

Com tetas provocadoras

Suas mãos como as garras

De fera devoradora,

 

Paulo como uma peça

Se entregou ao feitiço

No desejo de poder

Representar seu papel,

 

Agora o solteirão

Começava a amar

Um coração gigante

De uma viúva potente

Dona de muito gado

Querida por muita gente,

 

Anita veio chegando

Quando Paulo falou:

 

- Anita, quero dizer

Que pode ficar tranqüila

Não vou roubar sua mãe

Nem quero ser o seu pai...

 

Antes da conclusão

Anita interrompeu:

 

- Mas sendo pra minha mãe

Fugir do sofrimento

Esquecer o que se deu

No luto deste lugar

Que tanto me fez chorar

Eu viverei contente,

- Farei o que puder

E também vou te ajudar

Ajudar o Caçador

Eliminar o coronel

Depois iremos embora

Viver em outro lugar

Eu com Neiva, você e João

Lá nos confins do sertão

Bem longe vamos morar,

 

- Ali nascerão nossos filhos

Sob o céu nublado

Irão brincar na areia

Em sombras dos arvoredos

Revelarem seus segredos

De suas felizes inocências,

 

Neiva falava contente

Completando o seu desejo

Sentindo o sabor do beijo

Que acabava de ganhar

E eternamente

Na sua mente  guardar,

 

- Lindo, mamãe, lindo

Difícil de acreditar

Que exista tal lugar

Onde se vivem contentes,

 

- Nada é difícil Anita

Basta ir procurar,

 

- Todos lugares seu Paulo

Existe o tal coronel

É uma peste maligna

Nasce em qualquer lugar

Vem ao mundo pra matar

A quem bem entender,

 

- Mas não chegaram filha

Vivermos contentes

Alegres e sorridentes

Como Paulo relatou,

 

- Pra que mamãe

Viver esta fantasia

Sabendo que um dia

Tudo vai se transformará

Quando o coronel chegar

Com o bando de safados

Chamados  empregados

Só porque vivem a matar,

 

- O mundo Anita

Ele sempre foi assim

Nada vai consertar

O importante é viver,

 

- Viver, viver

Isso é vida seu Paulo

Andar correndo no tempo

Abraçando ao relento

Sem ao menos ouvir

Pelo menos um sim

Na espera do fim,

 

A mente de Anita

Parecia flutuar

A de Neiva e de Paulo

Viviam a fantasia,

- Mas o que vamos fazer

Para irmos deste lugar

Viver isso ai

Que acabamos de falar?

 

- Buscar o nosso amigo

Do luto arrasador

Combater o coronel

Sem nenhuma piedade

Vingar a morte de todos

Causada por sua mão

E junto com Caçador

Vamos longe pro sertão,

 

- É o que pretende fazer

Pra cumprir o seu intento

Uma vez que Caçador

Nem notícias nos deu,

 

- Vamos à sua procura

Ver o que aconteceu,

 

- Acho que somos loucas

De aceitar o seu convite,

 

- Só se for você

Pois Neiva eu sei que vai

Às vezes o seu amor

Pelo amigo Caçador,

 

- Já sei o que quer dizer

Quanto a isso é diferente

Morrerei por Caçador

E pelo amor entre a gente

Mas em que condição

Isto que relatei,

 

- Preparamos os cavalos

Armas e munição

Atacaremos a fazenda

Do coronel  Aragão

Se Caçador foi embora

Não ficarei constrangido

Afinal o Zé Ribeiro

Sempre foi meu amigo,

 

Neiva ficou contente

Pelo que Paulo falou

Em relação amizade

Fortificou seu amor

Agora tudo era belo

Pois na mente o castelo

Foi o que Neiva pintou,

 

- Eu estou com Paulo

Esta será a solução

Ajudar o Caçador

E irmos para o sertão,

 

- Então está combinado

Vou juntar os companheiros

Acabar logo com isso

Pois não agüento esperar

Pra nós dois no sertão

Nossa vida festejar,

 

- Vá Paulo, vá meu amor

Eu também estou sentindo,

 

Paulo saiu levando

No peito a esperança

De partir para o sertão

Levando o seu amor

Viver ali como um rei

Num trono de glória e paz

Distante dos coronéis

Que sempre causam pavor

E ninguém sabe o que faz,

 

Anita sentia inveja

Do namoro de sua mãe

Pois muito tempo sozinha

Nunca via ninguém beijar

E naquele corpo lindo

Jamais viu alguém tocar,

 

- Estou feliz pela senhora

Vejo no seu olhar

Como vai ser bom mamãe,

Se a vida continuar,

 

E em poucos dias

Paulo deu conta de tudo

Levando instantes mudos

Para ninguém comentar

Preparou os companheiros

Para batalha final

Seu intento principal

Da conquista de seu bem

Matar o velho Aragão

Juntar ao seu amigo João

Levar as suas amadas

Para os confins do sertão,

 

- Mãe está tudo pronto

Só pelo jeito que vejo

O seu Paulo sorrindo

Está vindo pra cá,

 

Anita tinha razão

Pois Paulo vinha contente

Tudo já preparado

Para batalha sangrenta,

 

- Bom dia querida

Só vim lhe avisar

Que nesta tarde iremos

Atrás do velho Aragão

Ver se encontramos

O nosso amigo João,

 

- Vejo algo estranho

Com o nosso Caçador

Parece prisioneiro

Sofrendo em algum lugar

Nas garras de uma fera

Ele vive a penar,

 

- Se for do velho Aragão

Ele será libertado

Pois está tudo pronto

Para o grande momento

De libertar a Pilão

Das garras da safadeza

Do coronel Aragão,

 

O sol descia no vale

Do pequeno rio pandeiro

Paulo e seus comandados

Seguia com o destino

De matar o assassino

De muitos naquele lugar

Apagar o desespero

Da morte de Zé Ribeiro

Que o fazia penar,

 

Pois um segredo existia

Entre Paulo e seu irmão

Que era o Zé Ribeiro

O pai do ilustre João

Seu sobrinho Caçador

Não sabia a verdade

E qual era a razão,

 

Porém no passado

Quando Timóteo morreu

Despediu-se dos filhos

Por entre o desespero

Dizendo na aflição:

 

- Júlio, você Júlio

Cuide do Zé e do Paulo

Do Nivaldo e do Roberto

De Neuza e Izabel,

 

Enquanto o velho morria

Nos braços do filho

Júlio sorria e chorava

Na promessa do tratado,

 

E poucos anos passaram

Mas nada pode fazer

Pois contra os coronéis

Não a força que tolere

Nas mentes como janelas

Fogem as soluções

Pois sonhos de vidas

Sãos estendidos

Pelos campos do sertão,

 

Da safra de Timóteo

Só Zé Ribeiro e Paulo

Como o bem e o mal

Como um segredo eterno

Por uma sobrevivência,

 

Porém cada um

Carrega a ilusão

Como uma onda do mar

Na imensidão sem fim

De água se misturando

No compasso a bailar,

 

Zé Ribeiro morreu

Deixando apenas a dor

No peito do seu irmão

Viúvo e sem valor

Que clamava às vezes

Pelo que seu pai deixou,

 

Agora era diferente

Ele era a semente

Mesmo triste ou contente

Tinha que resolver

Vingar a triste morte

Que lhe fazia sofrer,

 

Paulo com sua amada

Com a Anita do lado

Seguiam em direção

Do vale assombrado

Lutar contra o coronel

Vingar a morte de Zé

Ajudando o Caçador,

 

Acompanhavam o trio

Pistoleiros atirados

Azes em pontaria

Montadores de cavalos

Pois os dias do Aragão

Parecia estar contado,

 

Anita ia na frente

Vestida para lutar

Revólver e carabinas

Faca machado e facão

Pronta pro desafio

Montada no alazão,

 

Neiva também seguia

Armada até os dentes

Para cumprir seu intento

Libertar o Caçador

Do pesadelo que vivia

No rosto dela se via

A expressão de terror,

 

Paulo como o chefe

Comandava a caravana

Subindo e descendo serras

Atravessando os vales

Levando em seu semblante

O seu destino infernal,

 

Começava anoitecer

Quando o bando chegou

No alto do morro pardo

Pertencente ao Aragão

Com muita atenção

O pobre Paulo falou:

 

- Agora gente, escute

Para o que eu vou dizer

Atacaremos a fazenda

Logo ao anoitecer

Atirando em todo mundo

Suceda o que suceder,

 

Todos ouviram o Paulo

Com a maior atenção

Pois lutar contra o tal velho

Parecia ambição

Notava em cada olhar

O fim do velho Aragão,

 

A relva se escondia

No vale de escuridão

Atrás do morro pardo

Vivia o velho Aragão

Condenado a morrer

Sem nenhuma compaixão,

 

Em poucos minutos

A batalha se travou

Enquanto muitos morriam

Mergulhados na dor

Mesmo no desconhecido

Anita ali atirando

Gritava pelo amor,

 

- Apareça coronel

Vamos acertar o tratado

Chega de seu império

Desta coroa infernal,

 

Entre explosões se viam

Crianças chorando a morrer

Mãe tentando salvar

Na batalha o seu bebê

Mas nada adiantava,

 

- Gente, não desanime

Nós vamos vencer

Precisamos da vitória,

Paulo falava consigo

No grito do sentimento

Sentindo que estava perto

O seu último momento

Acabar com Aragão

Encontrar o Caçador

Abandonarem Pilão

Juntos com as amadas

Tio e Sobrinho partindo

Pra viver no sertão,

 

Neiva como serpente

Lançava o seu veneno

Matando como uma peste

Nada fazia parar

Pois a vontade de amar

Com a fúria do desejo

Ainda com o sabor do beijo

Lhe fazia atirar,

 

De um lado e do outro

Começava a morrer

Paulo percebia

Que algo acontecia

Estranho na escuridão,

 

- Você vai morrer Coronel

Saia da sua toca

 

Se Paulo estava triste

No instante se alegrou

Anita nem se fala

Com a voz do seu amor

Neiva pairou na paz

Ao ouvir o Caçador,

 

E em poucos instantes

Aragão ficou cercado

Com sua casa em chamas

E o Caçador gritava,

 

- Coronel Aragão

Saia de dentro da toca

Chegou o momento de dor

Sua esperança já morrerá

Nas garras do Caçador,

 

- Vai embora desgraçado

Relatou o Coronel

Sentindo a dor do fim

E o que seria agora

Tentar então um tratado

Pro futuro melhorar

Mesmo que não cumprisse

Ao menos sobreviveria

Na sua vida mais um dia

No império da safadeza

Na eloquência sem beleza

Do desrespeito profundo,

 

- Hoje é seu fim Coronel

Sem nenhuma compaixão

Sou Paulo de Timóteo

Irmão de Zé Ribeiro

Viúvo por sua causa,

 

Quando João ouviu

O que Paulo relatou

Se sentiu animado

Devido a sua existência

Pois por parte do seu pai

Achava não ter ninguém,

 

Foi como um alento

Para ajudá-lo a lutar

Os revólveres nas mãos

Pareciam de brincadeira

O resto dos pistoleiros

Logo chegaram ao fim,

 

O Coronel se entregou

Quando se viu derrotado

Paulo ia atirando

Mas Caçador relatou:

 

- Não Tio, não faça isso

Não suje as suas mãos

Pra que matar um rato

Carniceiro do sertão

Vamos levá-lo pro povo

Decidir o seu destino,

 

- Fico grato Caçador

Pelo nome que falou

Vamos levar o Coronel

Para o povo julgar,

 

João abraçou Anita

Enquanto Neiva falava,

 

- E você Caçador

Onde esteve esses dias,

 

- Fui á busca de alguém

Para me ajudar a lutar,

 

Caçador trouxe sim

Pistoleiros para lutar

De um lugar distante

Donos de precisão

Quem entrava na mira

Morriam sem perdão,

 

O Coronel amarrado

Não tinha o que dizer

Caçador conversava

Paulo estava contente

Abraçando a sua Neiva

Se sentia sorridente,

 

Os pistoleiros de Caçador

Conduziam o Coronel

Até chegaram em Pilão

No tronco foi amarrado

Ele gritava e turrava

Parecia um bicho acoado,

 

Naquela noite de glória

Na madrugada contente

Todos cantavan a vitória

Pelo fim do Aragão

Paulo e Caçador

Seguiam como reis

Andando entre os amigos

Que fizeram o tiroteio,

 

Pilão independente

Paulo era o delegado

Pois todos concordavam

Por sua disposição

E o grande Caçador

Seria o novo chefão,

 

Quando o dia amanheceu

Foi a hora do julgamento

Condenar o velho imundo

Que vivia de matar gente,

 

Já de sol alto e quente

Na praça do arraial

Paulo Ribeiro gritou

Com voz de autoridade

Assim todos se reuniram

Para ouvirem o seu relato,

 

- Eu sou Paulo Ribeiro

Houve um salva de palmas

Anita e Neiva ao lado

Daquele grande lutador

Valente e poderoso

Tio do Caçador,

 

- Que todos dêem opinião

Pro destino do Coronel

E se devemos predê-lo

Ou cobrar o valor

Por tudo que ele fez

Se devemos enforcá-lo,

 

Naquele minuto de silêncio

E a multidão gritou:

 

- Deve pagar pelo que fez

Devolver o que roubou

E depois ser enforcado,

 

O pobre velho Aragão

Nem parecia ouvir

Mas  Caçador falou:

 

- Tenho uma idéia justa,

 

- Pode falar Caçador,

 

Exclamou Paulo Ribeiro,

- Quero dar oportunidade

Uma vez o Coronel

Convido-o prum desafio

Nesta praça de Pilão

E quem atirar primeiro

Se estenderá no chão,

 

Anita veio assustada

Com a idéia de Caçador

Lhe beijou com carinho

E em seguida falou:

 

- Eu serei a desafiante

 

Todos gritaram assustados

Paulo porém relatou:

 

- Não vejo nada errado

Anita tem o direito

De lutar com o Coronel

Não temos preconceito,

 

Assim soltaram a cobra

Com uma arma na mão

O vento assoprava forte

Tirando poeira do chão

Anita e o Coronel

Esperavam pela sorte

Um dos dois tiria a morte

Sem nenhuma compaixão,

 

Porém num piscar de olhos

O Coronel atirou

Mas foi Paulo Ribeiro

 Que morto logo caiu

E o Coronel gritando

Aflito ele dizia:

 

- Eu sou irmão de Timóteo

Aquele grande traidor

Agora estou feliz

Pois a família acabou,

 

E atirando em Anita

Neiva foi atingida

Caçador matou em fim

O irmão do seu avô

Matou para não ver

O velho Aragão vencer

E eliminar o seu amor,

 

A pobre Anita gritava

Em tamanha aflição

Vendo a mãe que morria

Lá Praça de Pilão

Porém era acalentada

Com as carícias de João,

 

- Vamos minha querida

Pois tudo chegou ao fim

Sou o culpado de tudo

Pois até o Coronel

Pertencia ao meu sangue

Nunca pude imaginar

Pois a partir de hoje

Nunca mais irei lutar

Quero lhe dar lindos filhos

Bem longe desse lugar,

 

Anita e Caçador

Saíram a galopar

Rumo ao sertão

Felizes foram viver

E o povo de Pilão

Alegres puderam ver

O casal sumindo ao longe.

 

FIM

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