O CAÇADOR
JOÃO RODRIGUES
Nas brenhas do sertão
Perto do rio pandeiro
Aconteceu uma desgraça
Num pequeno arraial
Numa tarde de céu claro
Na casa de Zé Ribeiro,
O coronel Aragão
Pra mostrar o seu poder
Mandou matar Zé Ribeiro
E toda sua família,
Só sobrou o filho João
Chamado de caçador
Porque estava distante
Na casa do seu avô,
No arraial tinha Anita
A namorada de João
Que logo foi avisá-lo
Do que tinha acontecido
Montada em um alazão,
João já estava de volta
Ao encontrar sua amada
Notou que algo terrível
Anita ia dizer...
- Fale querida, fale
Não precisa fraquejar
Deixe sua voz bradar
Porque tu és tão bela,
-Não é caso de brincar
Sou obrigada dizer
O coronel Aragão,
O que quer dizer querida
Que mataram o meu pai...
- Sua mãe e seus irmãos
Também chegaram ao fim,
- Coronel desgraçado
O que será de mim!
Sem família, sem ninguém
Neste mundo sem assim,
- Estou do seu lado amor
Pro que der, eu estarei
Morrerei por sua causa...
- Não importa Anita
Nunca serei o mesmo
Não tenho amor pra te dar
Só ódio vou carregar
Pela minha vida inteira,
Até mesmo a floresta
Ficou atordoada
Quando João relatou
O ódio que o levaria
Pro resto de sua vida,
A beleza de Anita
Parecia acabar
Como viver agora
Sem o seu grande amor...
- Não chores, Anita
Não chores
Pois não posso te ouvir
Não tenho nem como ver
Os seus prantos rolarem,
- Pra onde foram seus olhos?
Onde está o nosso amor?
E aquele homem forte
Chamado de Caçador?
- Ainda sou ele
O caçador de coronel
Você é testemunha
De quantos que já cacei
Que mataram de certa forma
Pais que não eram meus
Porém agora querida
Sinto uma grande dor
No peito do caçador
Pois foi meu pai que morreu,
A noite chegava
Com o seu manto de trevas
João ainda avistava
Restos mortais do seu pai
As marcas da violência
Do coronel Aragão,
Anita sempre ao seu lado
Tentando aconselhar
Seus lindos olhos brilhando
Nos restos de chamas
Que lentamente ardiam
Os esteios do casa,
Amigos de Zé Ribeiro
Pousavam ao lado de João
Demonstrando amizade
E grande consideração,
-O que pretende Caçador?
Pra enfrentar o coronel?
Já que este é o seu destino
Como o dedo e o anel,
- Foram longe delegado
Nem sei o que fazer
Já defendi outras pessoas
Lutei por outra razão
Nunca pensei um dia
Matar o velho Aragão,
- Você não pode matá-lo
Eu vou mandar prender
O coronel será julgado
E ninguém vai defender,
- Não vejo nenhum juiz
Que possa ter o direito
Capaz de tirar delegado
Esta grande agonia
Que assola a nação
Que povoa a terra
Desde a sua existência,
- Compreendo Caçador
Mas não posso deixar
Você sair por ai
Fazendo o que bem quiser...
- Não posso Doutor
Porque não sou coronel
Sou mais um dos coitados
Que se cala na miséria
Não Doutor, não
Nunca me calei
Não é agora que vou calar
Se tentar me impedir
Terá um amargo fim,
- Eu sou autoridade
Não sou um homem qualquer
Por isso Caçador
Você precisa escutar.
- Não tenho ouvidos Doutor
Pra ouvir tanta besteira
O Coronel Aragão
Nunca te respeitou
Pra ele sua autoridade
É uma coisa qualquer,
João se despediu
Do povo e de sua amada
Montou em seu cavalo
E pôs o pé na estrada,
- Ele me deixou falando
Reclamando o delegado
Quando João partiu
Só pranto ele deixou...
- Calma minha filha, calma
Caçador sabe o que faz
Logo ele estará de volta
Coitado do velho Aragão!
- Não sei dona Neiva
Se o destino tem razão
Porque ele não me trouxe
Outro homem para me amar,
- Não fique triste filha
Todos homens são assim
Não se lembra do seu pai...
- Meu pai
Pobre homem
Deus lhe dê um bom lugar,
A dona Neiva olhando
A parede onde estava
O retrato de Gerson
Assim relatou chorando:
- Sofrimento
Sofrimento sem você Gerson
Nas noites frias...
- Tudo por causa dos coronéis
Não fosse aquele desgraçado
Meu pai estaria vivo,
- Não adianta pensar
O que passou, passou
Só nos resta sofrer
Até quando o nosso dia...
O dia amanheceu em Pilão
Anita e sua mãe
Guardavam em seus olhares
A saudade de João,
- O delegado disse
Que vai procurar Caçador
E não permitirá
Brigar com o coronel,
- O Doutor Patrocínio
Está brincando com a sorte
Se não se afastar de João
Encontrará com a morte,
- Lá vem vindo ele
O que será que quer
Será que vem pedir
Pra não nos entrometer,
- Deve ser minha filha
Alguma coisa ruim
Quando os homens estão
À procura de alguém
É como se fossem um cão
Farejando um vivente
Correndo na densa mata,
- Bom dia Dona Neiva
Posso falar com Anita?
- Sim delegado
Aguarde que vou chamar
Hoje ela esta muito triste
Com a partida do Caçador,
- O que quer de mim Doutor
Não basta que o Caçador
Declarou na escuridão
De ódio e desespero?
- O que vou fazer
É impedir uma desgraça
Chega de tanta matança
Isto faz doer
No fundo do coração,
- Você é autoridade Doutor
Escolheu o seu ofício
João é um Caçador
Não recebe do estado
Para proteger coronel
Com cara de retardado
Dele é chumbo sem pena
Não adianta reclamar
Quem entra em sua mira
Está marcado pra morrer
Hoje é o coronel Aragão
Depois pode ser você,
- Está me ameaçando?
Só por confiança no João
Eu posso até te prender
Por desacato a autoridade,
- O caso não é esse Doutor
Será que não compreende
O que os coronéis já fizeram
Em toda esta região
Todos estaríamos mortos
Se não fosse o Caçador,
- Mas o que fizeram
Agora é diferente
Eu cheguei para por ordens,
- Ordens Doutor, que ordens
Grande ordem colocou
Bem perto do seu nariz
Zé Ribeiro assassinado
Dentro de sua casa
Com a família massacrado,
Acho melhor o senhor ir
Procurar se encontrar
Descobrir o seu dever
E cumprí-lo se puder
Antes que seja tarde
Pois os homens de Aragão
Devem aparecer
Para matarem a sede
Do vandalismo que vivem,
- Eu vou embora Dona Neiva
Pela sua educação
Mas para o seu governo
Sei o que devo fazer
Sou eu que mando aqui
Ninguém vai se intrometer,
O delegado se foi
Com seus capangas do lado
Anita ficou olhando...
Os dias se passaram
Nem notícias de João
Onde estaria agora
O homem da solução,
- Mãe, Caçador nem notíicias
O que será que aconteceu?
Será que está lutando?
Ou será que morreu?
- Vire essa boca pra lá filha
Ele não pode morrer
Pois é ele a salvação
Pra nós duas neste lugar
Se o Caçador morrer
Eu nem sei o que será,
- Não sei mãe, não sei
Ninguém do coronel
Apareceu em Pilão,
- Será que eles
Descobriram
Que Caçador ficou vivo?
- Ah! Devem saber
O delegado foi avisar
Eles são encarregados
De proteger os bandidos,
Antes de Anita terminar
Viu a cidade invadida
Homens do coronel
Chegavam de todos os lados,
- Chegaram mãe, chegaram
Vi que estavam demorando
O que vieram fazer?
O que estão procurando?
- Pode esperar encrenca filha
Parece chegar o nosso fim
Deus que nos ajude
Mandando o Caçador,
Os homens bebiam no bar
Festejando algo impossível
O Doutor Patrocínio
Foi tirar satisfação,
- Por que o coronel Aragão
Não veio com vocês?
- Devemos responder?
Ou damos um tiro nele?
Hem! O que devemos fazer?
- Perguntei pelo coronel
Pistoleiro retardado
Tome o que merece,
O delegado atirou
O homem foi ao chão
Os demais se rebelaram...
- Não podemos aceitar
Somos pistoleiros respeitados
Ninguém nos desafia
Delegado retardado,
Em poucos minutos
Muitos estendidos no chão
Inclusive o delegado
Estirado como um cão,
Poucos homens restaram
No sangrento tiroteio
Montaram em seus cavalos
E se foram em desespero,
Anita foi ao local
Tomar conhecimento
Seu coração no peito
Bradava de sofrimento,
Também foi o pastor
Ver o que aconteceu
Aos seus filhos cristãos
Que da vida tinham partido,
- E o que vai fazer pastor?
Com tanta humilhação
Será que seu Deus
Não vai mandar solução?
- Deus sabe o que faz, Anita
Não precisa desesperar
Se foi sua decisão
Ninguém ia impedir
Portanto minha filha
Só nos resta esperar,
Orando por Vossa Proteção
Pra nos defender da morte
Ver se um dia em Pilão
A paz irá chegar,
- Você está louco, pastor
No mundo inteiro é assim
Pessoas prostadas nos templos
Em busca de solução
Orando por um deus invisível
Que nunca vem ajudar
E todo dia que passa
Só a morte que se vê
Provocada por coronéis
Que não os vimos orar
Porém paga seus salários
Para continuar a desgraça,
- Não ganho de coronel
Sou pago pelo cristão
Não me envolvo em política
Minha profissão é orar,
- Não envolve em política
O seu Deus é diferente?
Não somos todos iguais
Porque deixam marginais,
- Filha, deixe o pastor
Você não vai mudar
Nem o pensamento
De pessoas decididas
A servir a escravidão
Se escondendo na gravata
Para enganar o irmão,
- Até a senhora dona Neiva
Que é temente a Deus
Hoje está contra mim
Que tanto lhe ouvi chorar
Depois que dei conselhos
Agora veio pagar,
- Essa semana que passou
Foi muito boa para viver
Sempre na expectativa
Do que ia acontecer
Mas não esperei que fosse
Tanto descontentamento,
- Porém estou feliz
Pelo que está acontecendo
Apesar de ver gente morta
Não posso me conter
Neste instante é revolta
Que tenho para dizer,
- Diz Anita, diz
Pode dizer a vontade
Mas nada vai mudar
Quantos anos vivo aqui
Quantos já vi morrer
Quantos que disseram
E calaram no tempo
Foram soterrados
No destino sem querer
Hoje você está dizendo
Nem mesmo sabe o quê,
Pilão mergulhada no sertão
Via seu povo morrer
Nem a força de Caçador
Impedia o vandalismo
Nem a igreja com a fé
Conseguiu aliviar
A desgraça possuída
Pelo vendaval da sorte
A pobre sendo encolhida
Lentamente pela morte,
Pra onde foi o Caçador
Desde a noite de aflição
Deixando ali seu amor
Esquecida no sertão,
Anita e dona Neiva
Perdidas na esperança
Esperando o Caçador
Realizar a vingança,
Nas noites só o luar
Nos dias o sol ardente...
- Lá vem o senhor Paulo
O que será que ele quer
Será que não entendeu,
- Existem pessoas minha filha
Que não sabem querer
Muitas se perdem
A procura do ninguém.
- Mas pelo que sinto
Ele procura alguém
Só pode ser a senhora,
- Não sei o ele quer filha
Pois só tenho solidão
No meu peito um coração
Que já nem sabe amar,
- Mas quem sabe o dele
Ainda está suportando
Com tanto tempo viúvo
Pode estar esperando,
Enquanto Anita falava
A Neiva perdia-se no tempo
Vendo o homem chegar
Lhe dava até impressão
Que lhe deu satisfação,
- Bom dia senhora Neiva
Quanto tempo eu esperei
Para poder vir em sua casa
Não imagina o que sonhei,
- Pode entrar senhor Paulo
A que lhe devo a visita?
Neiva até parecia
Ainda estar navegando
Acordada ou sonhando
No deslizar de sua mente,
- No longe às vezes eu vejo
No tempo da juventude
Ainda recordo o que fui
E quem eu queria amar
Porém o tempo levou
Só tenho recordação
Como dói meu coração
Em busca de outro amor,
- Mas o que tem a ver
Minha mãe com seu passado
Que longe ficou jogado?
- Muitas coisas Anita
No por acaso do viver
Nos faz chorar de contente,
Neiva até sorridente
Ouvia o homem falar
Pensando que fosse dela
A lembrança relatada,
- Senhor Paulo meu amigo
Nunca pensei em chegar
No caminho do viver
E justamente encontrar
Alguém muito distinto
Para me acompanhar,
Com a declaração de Neiva
Anita se retirou
Levando consigo a lição
Da vida e do amor
Com a beleza profunda
Tal como o cristal
Em nossa imaginação,
Os dois ficaram a sós
Puderam se refletirem
Mesmo sem ter aonde irem
Por onde recomeçar,
- Neiva como você
Parece tanto com ela
Que se foi pela janela
Perdida na minha mente,
- Sei Paulo, o que diz
Foram muitos os meus dias
Num sorriso que não via
O momento de chegar,
- Porém hoje chegou
Nosso momento esperado
De dois corações cansados
Na ilusão do viver
Pois até nos fez sofrer,
Neiva de olhos fechados
Beijou Paulo ardentemente
Com seus bustos hesitados
Com tetas provocadoras
Suas mãos como as garras
De fera devoradora,
Paulo como uma peça
Se entregou ao feitiço
No desejo de poder
Representar seu papel,
Agora o solteirão
Começava a amar
Um coração gigante
De uma viúva potente
Dona de muito gado
Querida por muita gente,
Anita veio chegando
Quando Paulo falou:
- Anita, quero dizer
Que pode ficar tranqüila
Não vou roubar sua mãe
Nem quero ser o seu pai...
Antes da conclusão
Anita interrompeu:
- Mas sendo pra minha mãe
Fugir do sofrimento
Esquecer o que se deu
No luto deste lugar
Que tanto me fez chorar
Eu viverei contente,
- Farei o que puder
E também vou te ajudar
Ajudar o Caçador
Eliminar o coronel
Depois iremos embora
Viver em outro lugar
Eu com Neiva, você e João
Lá nos confins do sertão
Bem longe vamos morar,
- Ali nascerão nossos filhos
Sob o céu nublado
Irão brincar na areia
Em sombras dos arvoredos
Revelarem seus segredos
De suas felizes inocências,
Neiva falava contente
Completando o seu desejo
Sentindo o sabor do beijo
Que acabava de ganhar
E eternamente
Na sua mente guardar,
- Lindo, mamãe, lindo
Difícil de acreditar
Que exista tal lugar
Onde se vivem contentes,
- Nada é difícil Anita
Basta ir procurar,
- Todos lugares seu Paulo
Existe o tal coronel
É uma peste maligna
Nasce em qualquer lugar
Vem ao mundo pra matar
A quem bem entender,
- Mas não chegaram filha
Vivermos contentes
Alegres e sorridentes
Como Paulo relatou,
- Pra que mamãe
Viver esta fantasia
Sabendo que um dia
Tudo vai se transformará
Quando o coronel chegar
Com o bando de safados
Chamados empregados
Só porque vivem a matar,
- O mundo Anita
Ele sempre foi assim
Nada vai consertar
O importante é viver,
- Viver, viver
Isso é vida seu Paulo
Andar correndo no tempo
Abraçando ao relento
Sem ao menos ouvir
Pelo menos um sim
Na espera do fim,
A mente de Anita
Parecia flutuar
A de Neiva e de Paulo
Viviam a fantasia,
- Mas o que vamos fazer
Para irmos deste lugar
Viver isso ai
Que acabamos de falar?
- Buscar o nosso amigo
Do luto arrasador
Combater o coronel
Sem nenhuma piedade
Vingar a morte de todos
Causada por sua mão
E junto com Caçador
Vamos longe pro sertão,
- É o que pretende fazer
Pra cumprir o seu intento
Uma vez que Caçador
Nem notícias nos deu,
- Vamos à sua procura
Ver o que aconteceu,
- Acho que somos loucas
De aceitar o seu convite,
- Só se for você
Pois Neiva eu sei que vai
Às vezes o seu amor
Pelo amigo Caçador,
- Já sei o que quer dizer
Quanto a isso é diferente
Morrerei por Caçador
E pelo amor entre a gente
Mas em que condição
Isto que relatei,
- Preparamos os cavalos
Armas e munição
Atacaremos a fazenda
Do coronel Aragão
Se Caçador foi embora
Não ficarei constrangido
Afinal o Zé Ribeiro
Sempre foi meu amigo,
Neiva ficou contente
Pelo que Paulo falou
Em relação amizade
Fortificou seu amor
Agora tudo era belo
Pois na mente o castelo
Foi o que Neiva pintou,
- Eu estou com Paulo
Esta será a solução
Ajudar o Caçador
E irmos para o sertão,
- Então está combinado
Vou juntar os companheiros
Acabar logo com isso
Pois não agüento esperar
Pra nós dois no sertão
Nossa vida festejar,
- Vá Paulo, vá meu amor
Eu também estou sentindo,
Paulo saiu levando
No peito a esperança
De partir para o sertão
Levando o seu amor
Viver ali como um rei
Num trono de glória e paz
Distante dos coronéis
Que sempre causam pavor
E ninguém sabe o que faz,
Anita sentia inveja
Do namoro de sua mãe
Pois muito tempo sozinha
Nunca via ninguém beijar
E naquele corpo lindo
Jamais viu alguém tocar,
- Estou feliz pela senhora
Vejo no seu olhar
Como vai ser bom mamãe,
Se a vida continuar,
E em poucos dias
Paulo deu conta de tudo
Levando instantes mudos
Para ninguém comentar
Preparou os companheiros
Para batalha final
Seu intento principal
Da conquista de seu bem
Matar o velho Aragão
Juntar ao seu amigo João
Levar as suas amadas
Para os confins do sertão,
- Mãe está tudo pronto
Só pelo jeito que vejo
O seu Paulo sorrindo
Está vindo pra cá,
Anita tinha razão
Pois Paulo vinha contente
Tudo já preparado
Para batalha sangrenta,
- Bom dia querida
Só vim lhe avisar
Que nesta tarde iremos
Atrás do velho Aragão
Ver se encontramos
O nosso amigo João,
- Vejo algo estranho
Com o nosso Caçador
Parece prisioneiro
Sofrendo em algum lugar
Nas garras de uma fera
Ele vive a penar,
- Se for do velho Aragão
Ele será libertado
Pois está tudo pronto
Para o grande momento
De libertar a Pilão
Das garras da safadeza
Do coronel Aragão,
O sol descia no vale
Do pequeno rio pandeiro
Paulo e seus comandados
Seguia com o destino
De matar o assassino
De muitos naquele lugar
Apagar o desespero
Da morte de Zé Ribeiro
Que o fazia penar,
Pois um segredo existia
Entre Paulo e seu irmão
Que era o Zé Ribeiro
O pai do ilustre João
Seu sobrinho Caçador
Não sabia a verdade
E qual era a razão,
Porém no passado
Quando Timóteo morreu
Despediu-se dos filhos
Por entre o desespero
Dizendo na aflição:
- Júlio, você Júlio
Cuide do Zé e do Paulo
Do Nivaldo e do Roberto
De Neuza e Izabel,
Enquanto o velho morria
Nos braços do filho
Júlio sorria e chorava
Na promessa do tratado,
E poucos anos passaram
Mas nada pode fazer
Pois contra os coronéis
Não a força que tolere
Nas mentes como janelas
Fogem as soluções
Pois sonhos de vidas
Sãos estendidos
Pelos campos do sertão,
Da safra de Timóteo
Só Zé Ribeiro e Paulo
Como o bem e o mal
Como um segredo eterno
Por uma sobrevivência,
Porém cada um
Carrega a ilusão
Como uma onda do mar
Na imensidão sem fim
De água se misturando
No compasso a bailar,
Zé Ribeiro morreu
Deixando apenas a dor
No peito do seu irmão
Viúvo e sem valor
Que clamava às vezes
Pelo que seu pai deixou,
Agora era diferente
Ele era a semente
Mesmo triste ou contente
Tinha que resolver
Vingar a triste morte
Que lhe fazia sofrer,
Paulo com sua amada
Com a Anita do lado
Seguiam em direção
Do vale assombrado
Lutar contra o coronel
Vingar a morte de Zé
Ajudando o Caçador,
Acompanhavam o trio
Pistoleiros atirados
Azes em pontaria
Montadores de cavalos
Pois os dias do Aragão
Parecia estar contado,
Anita ia na frente
Vestida para lutar
Revólver e carabinas
Faca machado e facão
Pronta pro desafio
Montada no alazão,
Neiva também seguia
Armada até os dentes
Para cumprir seu intento
Libertar o Caçador
Do pesadelo que vivia
No rosto dela se via
A expressão de terror,
Paulo como o chefe
Comandava a caravana
Subindo e descendo serras
Atravessando os vales
Levando em seu semblante
O seu destino infernal,
Começava anoitecer
Quando o bando chegou
No alto do morro pardo
Pertencente ao Aragão
Com muita atenção
O pobre Paulo falou:
- Agora gente, escute
Para o que eu vou dizer
Atacaremos a fazenda
Logo ao anoitecer
Atirando em todo mundo
Suceda o que suceder,
Todos ouviram o Paulo
Com a maior atenção
Pois lutar contra o tal velho
Parecia ambição
Notava em cada olhar
O fim do velho Aragão,
A relva se escondia
No vale de escuridão
Atrás do morro pardo
Vivia o velho Aragão
Condenado a morrer
Sem nenhuma compaixão,
Em poucos minutos
A batalha se travou
Enquanto muitos morriam
Mergulhados na dor
Mesmo no desconhecido
Anita ali atirando
Gritava pelo amor,
- Apareça coronel
Vamos acertar o tratado
Chega de seu império
Desta coroa infernal,
Entre explosões se viam
Crianças chorando a morrer
Mãe tentando salvar
Na batalha o seu bebê
Mas nada adiantava,
- Gente, não desanime
Nós vamos vencer
Precisamos da vitória,
Paulo falava consigo
No grito do sentimento
Sentindo que estava perto
O seu último momento
Acabar com Aragão
Encontrar o Caçador
Abandonarem Pilão
Juntos com as amadas
Tio e Sobrinho partindo
Pra viver no sertão,
Neiva como serpente
Lançava o seu veneno
Matando como uma peste
Nada fazia parar
Pois a vontade de amar
Com a fúria do desejo
Ainda com o sabor do beijo
Lhe fazia atirar,
De um lado e do outro
Começava a morrer
Paulo percebia
Que algo acontecia
Estranho na escuridão,
- Você vai morrer Coronel
Saia da sua toca
Se Paulo estava triste
No instante se alegrou
Anita nem se fala
Com a voz do seu amor
Neiva pairou na paz
Ao ouvir o Caçador,
E em poucos instantes
Aragão ficou cercado
Com sua casa em chamas
E o Caçador gritava,
- Coronel Aragão
Saia de dentro da toca
Chegou o momento de dor
Sua esperança já morrerá
Nas garras do Caçador,
- Vai embora desgraçado
Relatou o Coronel
Sentindo a dor do fim
E o que seria agora
Tentar então um tratado
Pro futuro melhorar
Mesmo que não cumprisse
Ao menos sobreviveria
Na sua vida mais um dia
No império da safadeza
Na eloquência sem beleza
Do desrespeito profundo,
- Hoje é seu fim Coronel
Sem nenhuma compaixão
Sou Paulo de Timóteo
Irmão de Zé Ribeiro
Viúvo por sua causa,
Quando João ouviu
O que Paulo relatou
Se sentiu animado
Devido a sua existência
Pois por parte do seu pai
Achava não ter ninguém,
Foi como um alento
Para ajudá-lo a lutar
Os revólveres nas mãos
Pareciam de brincadeira
O resto dos pistoleiros
Logo chegaram ao fim,
O Coronel se entregou
Quando se viu derrotado
Paulo ia atirando
Mas Caçador relatou:
- Não Tio, não faça isso
Não suje as suas mãos
Pra que matar um rato
Carniceiro do sertão
Vamos levá-lo pro povo
Decidir o seu destino,
- Fico grato Caçador
Pelo nome que falou
Vamos levar o Coronel
Para o povo julgar,
João abraçou Anita
Enquanto Neiva falava,
- E você Caçador
Onde esteve esses dias,
- Fui á busca de alguém
Para me ajudar a lutar,
Caçador trouxe sim
Pistoleiros para lutar
De um lugar distante
Donos de precisão
Quem entrava na mira
Morriam sem perdão,
O Coronel amarrado
Não tinha o que dizer
Caçador conversava
Paulo estava contente
Abraçando a sua Neiva
Se sentia sorridente,
Os pistoleiros de Caçador
Conduziam o Coronel
Até chegaram em Pilão
No tronco foi amarrado
Ele gritava e turrava
Parecia um bicho acoado,
Naquela noite de glória
Na madrugada contente
Todos cantavan a vitória
Pelo fim do Aragão
Paulo e Caçador
Seguiam como reis
Andando entre os amigos
Que fizeram o tiroteio,
Pilão independente
Paulo era o delegado
Pois todos concordavam
Por sua disposição
E o grande Caçador
Seria o novo chefão,
Quando o dia amanheceu
Foi a hora do julgamento
Condenar o velho imundo
Que vivia de matar gente,
Já de sol alto e quente
Na praça do arraial
Paulo Ribeiro gritou
Com voz de autoridade
Assim todos se reuniram
Para ouvirem o seu relato,
- Eu sou Paulo Ribeiro
Houve um salva de palmas
Anita e Neiva ao lado
Daquele grande lutador
Valente e poderoso
Tio do Caçador,
- Que todos dêem opinião
Pro destino do Coronel
E se devemos predê-lo
Ou cobrar o valor
Por tudo que ele fez
Se devemos enforcá-lo,
Naquele minuto de silêncio
E a multidão gritou:
- Deve pagar pelo que fez
Devolver o que roubou
E depois ser enforcado,
O pobre velho Aragão
Nem parecia ouvir
Mas Caçador falou:
- Tenho uma idéia justa,
- Pode falar Caçador,
Exclamou Paulo Ribeiro,
- Quero dar oportunidade
Uma vez o Coronel
Convido-o prum desafio
Nesta praça de Pilão
E quem atirar primeiro
Se estenderá no chão,
Anita veio assustada
Com a idéia de Caçador
Lhe beijou com carinho
E em seguida falou:
- Eu serei a desafiante
Todos gritaram assustados
Paulo porém relatou:
- Não vejo nada errado
Anita tem o direito
De lutar com o Coronel
Não temos preconceito,
Assim soltaram a cobra
Com uma arma na mão
O vento assoprava forte
Tirando poeira do chão
Anita e o Coronel
Esperavam pela sorte
Um dos dois tiria a morte
Sem nenhuma compaixão,
Porém num piscar de olhos
O Coronel atirou
Mas foi Paulo Ribeiro
Que morto logo caiu
E o Coronel gritando
Aflito ele dizia:
- Eu sou irmão de Timóteo
Aquele grande traidor
Agora estou feliz
Pois a família acabou,
E atirando em Anita
Neiva foi atingida
Caçador matou em fim
O irmão do seu avô
Matou para não ver
O velho Aragão vencer
E eliminar o seu amor,
A pobre Anita gritava
Em tamanha aflição
Vendo a mãe que morria
Lá Praça de Pilão
Porém era acalentada
Com as carícias de João,
- Vamos minha querida
Pois tudo chegou ao fim
Sou o culpado de tudo
Pois até o Coronel
Pertencia ao meu sangue
Nunca pude imaginar
Pois a partir de hoje
Nunca mais irei lutar
Quero lhe dar lindos filhos
Bem longe desse lugar,
Anita e Caçador
Saíram a galopar
Rumo ao sertão
Felizes foram viver
E o povo de Pilão
Alegres puderam ver
O casal sumindo ao longe.
FIM
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