A VAQUINHA PINTADA
JOÃO RODRIGUES
Certo dia Rodrigues estava assentado num banco naquela pequena varanda que existia em sua velha casa na Lagoa Comprida que era o seu reino desde aquela época que tinha conhecido a sua velha e inseparável companheira Tida. A esposa dedicada que todo homem deseja para viver.
Tida por sua vez já cansada da labuta contava ainda com a demão do seu Rodrigues que era uma pessoa instintivamente maravilhosa, tinha lá seus defeitos, mas quem não tem. Contudo para Tida ele era o homem que uma mulher sempre deseja, bom, compreensivo e bravo às vezes, mulheres gostam disso, faz parte dos desejos desses seres extraordinários que vieram ao mundo para dar a luz filhos.
Seus filhos já estavam criados, cada um vivendo em suas casas muitos distante daquele lugar aonde nasceram, parecia na verdade uma praga, pois toda aquela geração por aquela vizinhança ao chegar a maior idade iam para as grandes cidades à procura de uma vida melhor.
Rodrigues sentia saudades, muita saudade dos seus filhos, Tida por sua vez, alem da saudade sentia também falta de uma vaquinha pintada que um dia não voltou para o seu curral, pois toda vez que ela a Avistava ao longe uma criação ia logo ver se era a sua vaquinha pintada.
Nesse dia da minha história o seu Rodrigues estava então ali no banco descansando o seu velho corpo quando avistou um lindo garrote que entrou no curral em busca de sal...
- Tida, me trás um pouco de sal, tem um boi a procura de sal!
- Só tem pra fazer o juntar e o almoço de amanha Rodrigues.
- Traga o sol mulher, vou mais tarde à cidade comprar. Pode trazer o que tem...
Tida como sempre obediente ao esposo foi até ele com o pouco de sal que lhe restava e deu a ele dizendo:
- Nem sabe de quem é o boi!
- Não importa Tida, ele nos procurou por algum motivo, vamos dar o sal a ele.
Rodrigues gostava muito dos animais, era apaixonado por eles, teve oportunidade de viver na cidade, mas preferiu o campo e foi de onde tirou o sustento para criar os seus três filhos que Deus lhe concedeu. O certo é que ele colocou o sal no cocho e ficou olhando com alegria o boi comer o sal, era pouco, foi umas duas lambidas do boi e já não tinha mais. Mesmo assim o boi deu uns pulos no curral e se foi querendo dizer ao seu Rodrigues, muito obrigado.
O sol já descia no horizonte, seu Rodrigues apanhou o cavalo e foi a cidade comprar o sal para Tida como tinha prometido. E ele trouxe dois sacos de sal. Perecia estar preparando para receber o boi novamente. E o dia amanheceu novamente no sertão. Cedo seu Rodrigues cuidou dos animais enquanto Tida cuidava da casa e de suas plantinhas que com suas flores coloridas davam um tom de alegria eterna no ambiente.
A tarde chegou e como de costume seu Rodrigues estava no velho e amigo banco no alpendre da casa quando seu quer caiu no sono e ao acordar viu entrando no curral o boi que tinha consigo mais dois lindos bois.
- Tida, trás o sal mulher, o boi trouxe mais dois, e são lindos...
Tida dessa vez não reclamou, pois tinha dois sacos de sal, ela levou o sal para Rodrigues e disse:
- Você com seus bois desconhecidos, e entrou pra dentro da casa com ar de deboche.
Rodrigues não ligou, foi até o cocho e colocou o sal e ficou os vendoeles comerem até se fartarem e logo depois deram um show de cambalhotas no curral e se foram. Rodrigues ficou por demais feliz, feliz por ver como os animais irracionais são tão compreensivos, meigos e amigos. Esteve ali em seu curral três touros de aproximadamente 500 quilos cada um. Uma tonelada e meia de vida e alegria brincando no seu curral. Fazendo um show para ele, apenas ele na platéia, Rodrigues ganhou aquele espetáculo e passou a noite feliz com sua Tida olhando as estrelas naquele terreiro mergulhado na escuridão do sertão.
- Sabe Tida, esses bois que estão vindos aqui comer sal está me trazendo muita alegria, nunca me senti tão feliz como nesses dias.
- Eu seu Rodrigues, você nem tomou o seu remédio.
- É mesmo mulher, vou tomar, o médico disse que não posso descuidar.
Rodrigues foi tomar o remédio e em seguida foi dormir. No dia seguinte a rotina continuou, ele já estava aflito para que chegasse logo a tarde para ver se os seus amigos voltavam e desse novamente aquele espetáculo de cambalhotas de ontem.
- Você está muito diferente Rodrigues, acho que é essas visitas desses bois desconhecidos.
- Deve ser Tida, nunca me senti tão feliz depois que os nossos filhos se foram.
- Estou notando.
Nesse dia Tida já estava interessada com a visita milagrosa dos bois em busca de sal, pois tanto tempo vivendo ali nunca tinha ocorrido um fato como esse. Contudo no seu coração estava um vazio difícil de preencher com a falta da sua vaquinha pintada.
Rodrigues não sentia tanta falta da vaquinha pintada, mas agora estava sentindo falta dos bois desconhecidos, não pelos bois e sim pelo espetáculo de cambalhotas que eles te ofereciam depois de comerem o sal como forma de pagamento talvez...
- Tida, trás o sal, e veja quantos bois chagaram trazendo junto uma vaquinha pintada, a sua vaquinha mulher, ela veio com os bois.
Tida levou o sal e ao ver a vaquinha relatou:
- Só pode ser coisa de Deus, Rodrigues, percebeu que os bois não têm ferro.
- O que quer dizer com isso mulher?
- Que são filhos dela, são nossos bois, e dá pra fazer seis juntas de boi...
Rodrigues serviu o sal para eles e sorria ao ver a vaquinha pintada lamber a mãe de Tida. FIM
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