sábado, 29 de abril de 2023

Poemas II João Rodrigues

 

Poemas II

 

DO OUTRO LADO

 

De um lado penso no outro

Penso se é do mesmo jeito

Mas nem sei que jeito

Pois nem sei o jeito deste

Como será o outro lado

Será do jeito que não sei,

 

Tudo tem outro lado

Lado de baixo e de cima

Lado da frente e de trás

Lado direito e esquerdo

Tudo tem lado

Até o lado tem lado,

 

Lado de cá e de lá

Lado do tudo e do nada

Lado do lado do lado

Lado do bem e do mal

Lado de cada lado

Eu vivo no lado do lado,

 

A vida também tem lado

A morte o lado tem

A paz reserva seu lado

A guerra destrói seu lado

A ilusão é um lado

Que o homem vive no lado,

 

O lado da fantasia

O lado da falsidade

O lado da esperança

O lado de eternidade

O lado do desespero

Que vive a humanidade,

 

 

João Rodrigues

 

 

CANTIGA

 

Todos ouviam cantar

Era alguém que cantava

Era uma cantiga antiga

Por ali passavam

E ouviam cantar

Cantavam sem parar,

 

Até num certo dia

Alguém também cantou

Cantou a mesma cantiga

Que cantavam ali

Assim nunca mais cantaram

Pois o encanto acabou,

 

Quem não tinha cantado

Quando ali passava

A espera de ouvir cantar

Cantava a cantiga

Não parava de ser cantada

Que cantiga que cantiga,

 

Agora todos cantam

Cantam a cantiga

Cantiga que cantavam

Sem saber mas cantam

Eu também canto

Quando ouço alguém cantar,

 

Minha cantiga que canto

Meu canto de minha cantiga

Pois sei que sou mais um

Que canta a sua cantiga

Que assim alegra sua vida

Ao cantar, cantar a cantiga,

 

 

João Rodrigues

 

 

FALAM

 

Todos falam, falam

Fala no mesmo tom

Em um tom sem tom

Mas falam de tudo

Falam do bem e do mal

Todos falam como falam,

 

Falam de tristezas

Falam no tom

Num tom chocante de pesar

Assim falam e falam

Falam de Deus e do diabo

E como falam a falam,

 

Falam também de mim

Falam o que não falo

Se não falo eles falam

Prefiro não falar que falam

Pois ouço falarem

Falam do que não falo,

 

Falam até de si

Quando se cansam de falar

Falam re-falam e falam

E não importa que falem

Pois não sabem o que falam

E não param de falar,

 

O mundo já acabou

Mas ainda estão falando

Já não existe a luz

Falam na escuridão

Não tem ninguém pra ouvir

Mesmo assim falam e falam,

 

 

João Rodrigues

 

 

VERGONHA

 

Tenho vergonha de ver

Tenho vergonha de ser

Tenho vergonha de ter

Tenho vergonha

Que vergonha tem

Quanta vergonha,

 

Tenho vergonha

De ser o que sou

De ter o que tenho

E do que não tenho

Tenho vergonha

Muita vergonha,

 

Morro de vergonha

Vergonha só de pensar

Pura vergonha que tenho

De não poder ter

Porque tenho vergonha,

 

Só me resta vergonha

Vergonha até de olhar

Pra não me ver chorar

De tanta vergonha

Atrás da minha vergonha

De tanta vergonha,

 

Vergonha da minha vergonha

Sei que é vergonha

Vai e vem vergonha

Nada mais do quê vergonha

Encontro-me na vergonha

E me perco na vergonha,

 

 

João Rodrigues

 

 

ESPERANÇA

 

A incansável espera

Ela é a última a morrer

És tu oh! Esperança

Sempre, esperei por você

Mas nada mais que esperar

A chorar, chorar, chorar,

 

Sabendo que um dia, que dia

Quando menos esperar, vai

Chegar o memento de alegria

Vem à tona

E em seu peito detona

A seiva da esperança

Sem vingança te retoma,

 

Em seu semblante se vê

Outra fantasia

Que se mistura ao viver

No pensamento sem parar

Nova esperança espera

Sem saber o que esperar,

 

E na completa esperança

Pois todos são assim

Quando realizamos sonhos

Nasce logo outro desejo

Pois somos a esperança

Que no mundo Deus deixou,

 

Deixou-se com esperança

De carregarmos a cruz

Levando paz e esperança

Que a sorte nos conduz

Espera Senhor, espera

A esperança espera,

 

 

João Rodrigues

 

 

ACORDES DA VIDA

 

Em cada escala da vida

No acorde do viver

Desprendo-me na canção

De amargura e existência

Tentando a sobrevivência

Nos acordes da vida,

 

No tom de cada nota

No ritmo desconsertado

Na angústia de um sonho

Quando sonho acordado

Nos acordes de tristeza

Em versos de amargura,

 

No refrão de agonia

Sonolento a clamar

No compasso desigual

Da ilusória razão

Sou um acorde lembrado

Em cada imaginação,

 

Nos acordes das águas

Que descem lá na cascata

Como sangue em minha veia

Quando a solidão me mata

É o acorde do amor

Quando toca em nosso peito,

 

Nos acordes da beleza

Que nos musica o desejo

Faz-me dormir contente

Esperando pra tocar

Na tecla meiga e sensível

Nos acordes, nos acordes,

 

 

João Rodrigues

 

 

CONSELHO DE POETA

 

Eu quero se é que posso

Quero dizer a você

Que viva decentemente

Ou viva como puder

Porém com honestidade

Eu quero se é que posso,

 

Quero deixar pra você

Uma mensagem importante

Respeite a si mesmo

Ensine o seu semelhante

Não se esqueça de levar

Um sorriso aonde for,

 

Respeite pra ser respeitado

Seja amigo do irmão

Não engane a ser enganado

Seja sempre positivo

Fale o que sentir na hora

Não deixe nada passar,

 

Ame mesmo odiado

Prometa o que puder

Não jogue o que tem fora

Aprenda sempre a guardar

Não desanime no jogo

Mesmo se estiver perdendo,

 

Não enxugue as lágrimas

Quando estiver a chorar

O choro faz bem pra vida

E não faz mal a ninguém

Ao ver alguém chorando

Procure chorar também,

 

 

João Rodrigues

 

ESTRANHO

 

Nas profundezas do sonho

No abismo da mentira

No inocente olhar

De uma pobre criancinha

Está o significado

Do estranho da vida

 

A criança parece saber

Da verdade e da razão

Mas não sabe falar

Para assim avisar

Ela chora o quebranto

Pelo estranho da vida,

 

Noite escura de céu nublado

Dá vida ao lampião

Sua tocha se perde ao longe

No estranho da escuridão

Assim é o nosso viver

No estranho da razão,

 

Entre o amor de dois seres

Que se conhecem no olhar

Que veio o romance perfeito

Que dá inveja em alguém

Do enlace vem um ser

É o estranho da vida,

 

Sou o estranho do tempo

O estranho de estranhezas

Sou o estranho da verdade

Sou o estranho da certeza

Sou o estranho de mim

Sou tão estranho assim,

 

 

João Rodrigues

 

AZAR

 

Nasci depois de ti

Conheci-te com alguém

Senti ciúmes de ti

Ali vi que te amava

Pois já sonhava contigo

Sem saber onde estava,

 

Agora que te encontrei

E já está comprometida

Não vou realizar meu sonho

Tenho que mudar de vida

Vou procurar outro alguém

Pra te dar o meu amor,

 

Sei que não vai ser fácil

Esquecer-me de ti

Pois quanto que já sofri

Antes de te conhecer

E depois de tudo isto

Sei que vou padecer,

 

Se eu pudesse ao menos

Viver contigo um instante

Acariciá-la em meus braços

E te chamar de amor

Eu seria tão feliz

Ah! Como seria,

 

Mas tudo bem

Sei que não tenho razão

Afinal o sonho é meu

Que sempre vivi a sonhar

Você não é culpada

Pois não sabia de mim,

 

 

João Rodrigues

 

 

COMO SOU

 

Sou como o sol

Que brilha no horizonte

Sou como o azul do monte

Como nuvens a vagar

Sou como a luz

Que vaga pelo além,

 

Sou como o sorriso

De uma inocente criança

Como um pouco de esperança

Sou o desejo de ter

Som como um olhar

Que vaga pra onde não ver,

 

Sou como o pacto

Entre a vida e a morte

Sou como o azar e a sorte

Sou como qualquer final

Sou como a fé

Que vaga de mente a mente,

 

Sou como o vento

Que vai pra qualquer destino

Sou como o som do sino

Que sempre vem avisar

Sou como a mim que não sei

Sou como o que não vejo,

 

Sou como a vida

Que vem de um embrião

Trazendo um coração

Na intenção de amar

Eu sou assim, sim

Desta maneira que sou,

 

 

João Rodrigues

 

 

ONDE ESTOU

 

Onde estou agora

Que lugar imundo é este

Que ninguém respeita

Onde estou

É que não sei por quê

Que aqui estou,

 

Eu sou gente

Isso é que é ser gente

O que é gente

É isto que vejo

Por que vim parar aqui

Por que aqui estou,

 

Dizem que estou vivendo

Será verdade que vivo

Isto é vida

Roubando matando roendo

Não estou feliz sofrendo

Onde estou morrendo,

 

Será que não foi engano

Que me mandaram pra cá

Será que fui extraviado

Vim pra cá enganado

Onde estou agora onde

Onde estou jogado,

 

E vou ficar aqui

Como vou ficar se não sei

Se não sei onde estou

Como posso ficar

Será que tem outro lugar

Se não sei onde estou,

 

 

João Rodrigues

 

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