Poemas II
DO OUTRO LADO
De um lado penso no outro
Penso se é do mesmo jeito
Mas nem sei que jeito
Pois nem sei o jeito deste
Como será o outro lado
Será do jeito que não sei,
Tudo tem outro lado
Lado de baixo e de cima
Lado da frente e de trás
Lado direito e esquerdo
Tudo tem lado
Até o lado tem lado,
Lado de cá e de lá
Lado do tudo e do nada
Lado do lado do lado
Lado do bem e do mal
Lado de cada lado
Eu vivo no lado do lado,
A vida também tem lado
A morte o lado tem
A paz reserva seu lado
A guerra destrói seu lado
A ilusão é um lado
Que o homem vive no lado,
O lado da fantasia
O lado da falsidade
O lado da esperança
O lado de eternidade
O lado do desespero
Que vive a humanidade,
João Rodrigues
CANTIGA
Todos ouviam cantar
Era alguém que cantava
Era uma cantiga antiga
Por ali passavam
E ouviam cantar
Cantavam sem parar,
Até num certo dia
Alguém também cantou
Cantou a mesma cantiga
Que cantavam ali
Assim nunca mais cantaram
Pois o encanto acabou,
Quem não tinha cantado
Quando ali passava
A espera de ouvir cantar
Cantava a cantiga
Não parava de ser cantada
Que cantiga que cantiga,
Agora todos cantam
Cantam a cantiga
Cantiga que cantavam
Sem saber mas cantam
Eu também canto
Quando ouço alguém cantar,
Minha cantiga que canto
Meu canto de minha cantiga
Pois sei que sou mais um
Que canta a sua cantiga
Que assim alegra sua vida
Ao cantar, cantar a cantiga,
João Rodrigues
FALAM
Todos falam, falam
Fala no mesmo tom
Em um tom sem tom
Mas falam de tudo
Falam do bem e do mal
Todos falam como falam,
Falam de tristezas
Falam no tom
Num tom chocante de pesar
Assim falam e falam
Falam de Deus e do diabo
E como falam a falam,
Falam também de mim
Falam o que não falo
Se não falo eles falam
Prefiro não falar que falam
Pois ouço falarem
Falam do que não falo,
Falam até de si
Quando se cansam de falar
Falam re-falam e falam
E não importa que falem
Pois não sabem o que falam
E não param de falar,
O mundo já acabou
Mas ainda estão falando
Já não existe a luz
Falam na escuridão
Não tem ninguém pra ouvir
Mesmo assim falam e falam,
João Rodrigues
VERGONHA
Tenho vergonha de ver
Tenho vergonha de ser
Tenho vergonha de ter
Tenho vergonha
Que vergonha tem
Quanta vergonha,
Tenho vergonha
De ser o que sou
De ter o que tenho
E do que não tenho
Tenho vergonha
Muita vergonha,
Morro de vergonha
Vergonha só de pensar
Pura vergonha que tenho
De não poder ter
Porque tenho vergonha,
Só me resta vergonha
Vergonha até de olhar
Pra não me ver chorar
De tanta vergonha
Atrás da minha vergonha
De tanta vergonha,
Vergonha da minha vergonha
Sei que é vergonha
Vai e vem vergonha
Nada mais do quê vergonha
Encontro-me na vergonha
E me perco na vergonha,
João Rodrigues
ESPERANÇA
A incansável espera
Ela é a última a morrer
És tu oh! Esperança
Sempre, esperei por você
Mas nada mais que esperar
A chorar, chorar, chorar,
Sabendo que um dia, que dia
Quando menos esperar, vai
Chegar o memento de alegria
Vem à tona
E em seu peito detona
A seiva da esperança
Sem vingança te retoma,
Em seu semblante se vê
Outra fantasia
Que se mistura ao viver
No pensamento sem parar
Nova esperança espera
Sem saber o que esperar,
E na completa esperança
Pois todos são assim
Quando realizamos sonhos
Nasce logo outro desejo
Pois somos a esperança
Que no mundo Deus deixou,
Deixou-se com esperança
De carregarmos a cruz
Levando paz e esperança
Que a sorte nos conduz
Espera Senhor, espera
A esperança espera,
João Rodrigues
ACORDES DA VIDA
Em cada escala da vida
No acorde do viver
Desprendo-me na canção
De amargura e existência
Tentando a sobrevivência
Nos acordes da vida,
No tom de cada nota
No ritmo desconsertado
Na angústia de um sonho
Quando sonho acordado
Nos acordes de tristeza
Em versos de amargura,
No refrão de agonia
Sonolento a clamar
No compasso desigual
Da ilusória razão
Sou um acorde lembrado
Em cada imaginação,
Nos acordes das águas
Que descem lá na cascata
Como sangue em minha veia
Quando a solidão me mata
É o acorde do amor
Quando toca em nosso peito,
Nos acordes da beleza
Que nos musica o desejo
Faz-me dormir contente
Esperando pra tocar
Na tecla meiga e sensível
Nos acordes, nos acordes,
João Rodrigues
CONSELHO DE POETA
Eu quero se é que posso
Quero dizer a você
Que viva decentemente
Ou viva como puder
Porém com honestidade
Eu quero se é que posso,
Quero deixar pra você
Uma mensagem importante
Respeite a si mesmo
Ensine o seu semelhante
Não se esqueça de levar
Um sorriso aonde for,
Respeite pra ser respeitado
Seja amigo do irmão
Não engane a ser enganado
Seja sempre positivo
Fale o que sentir na hora
Não deixe nada passar,
Ame mesmo odiado
Prometa o que puder
Não jogue o que tem fora
Aprenda sempre a guardar
Não desanime no jogo
Mesmo se estiver perdendo,
Não enxugue as lágrimas
Quando estiver a chorar
O choro faz bem pra vida
E não faz mal a ninguém
Ao ver alguém chorando
Procure chorar também,
João Rodrigues
ESTRANHO
Nas profundezas do sonho
No abismo da mentira
No inocente olhar
De uma pobre criancinha
Está o significado
Do estranho da vida
A criança parece saber
Da verdade e da razão
Mas não sabe falar
Para assim avisar
Ela chora o quebranto
Pelo estranho da vida,
Noite escura de céu nublado
Dá vida ao lampião
Sua tocha se perde ao longe
No estranho da escuridão
Assim é o nosso viver
No estranho da razão,
Entre o amor de dois seres
Que se conhecem no olhar
Que veio o romance perfeito
Que dá inveja em alguém
Do enlace vem um ser
É o estranho da vida,
Sou o estranho do tempo
O estranho de estranhezas
Sou o estranho da verdade
Sou o estranho da certeza
Sou o estranho de mim
Sou tão estranho assim,
João Rodrigues
AZAR
Nasci depois de ti
Conheci-te com alguém
Senti ciúmes de ti
Ali vi que te amava
Pois já sonhava contigo
Sem saber onde estava,
Agora que te encontrei
E já está comprometida
Não vou realizar meu sonho
Tenho que mudar de vida
Vou procurar outro alguém
Pra te dar o meu amor,
Sei que não vai ser fácil
Esquecer-me de ti
Pois quanto que já sofri
Antes de te conhecer
E depois de tudo isto
Sei que vou padecer,
Se eu pudesse ao menos
Viver contigo um instante
Acariciá-la em meus braços
E te chamar de amor
Eu seria tão feliz
Ah! Como seria,
Mas tudo bem
Sei que não tenho razão
Afinal o sonho é meu
Que sempre vivi a sonhar
Você não é culpada
Pois não sabia de mim,
João Rodrigues
COMO SOU
Sou como o sol
Que brilha no horizonte
Sou como o azul do monte
Como nuvens a vagar
Sou como a luz
Que vaga pelo além,
Sou como o sorriso
De uma inocente criança
Como um pouco de esperança
Sou o desejo de ter
Som como um olhar
Que vaga pra onde não ver,
Sou como o pacto
Entre a vida e a morte
Sou como o azar e a sorte
Sou como qualquer final
Sou como a fé
Que vaga de mente a mente,
Sou como o vento
Que vai pra qualquer destino
Sou como o som do sino
Que sempre vem avisar
Sou como a mim que não sei
Sou como o que não vejo,
Sou como a vida
Que vem de um embrião
Trazendo um coração
Na intenção de amar
Eu sou assim, sim
Desta maneira que sou,
João Rodrigues
ONDE ESTOU
Onde estou agora
Que lugar imundo é este
Que ninguém respeita
Onde estou
É que não sei por quê
Que aqui estou,
Eu sou gente
Isso é que é ser gente
O que é gente
É isto que vejo
Por que vim parar aqui
Por que aqui estou,
Dizem que estou vivendo
Será verdade que vivo
Isto é vida
Roubando matando roendo
Não estou feliz sofrendo
Onde estou morrendo,
Será que não foi engano
Que me mandaram pra cá
Será que fui extraviado
Vim pra cá enganado
Onde estou agora onde
Onde estou jogado,
E vou ficar aqui
Como vou ficar se não sei
Se não sei onde estou
Como posso ficar
Será que tem outro lugar
Se não sei onde estou,
João Rodrigues
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