sábado, 29 de abril de 2023

O Viajante João Rodrigues

 O VIAJANTE

 

JOÃO RODRIGUES

 

Gostaria de recomeçar

Desde o instante primeiro

Ver nos teus olhos cansados

O preço da ilusão,

 

Sei que faria de novo

D'eles lágrimas jorrarem

Ao tom,

 

Movidos de desejo

No talvez do beijo

De uma boca

Provadora de fel,

 

Horto da flora

De uma ave a voar

No porto do tempo

Eu queria voltar,

 

Jubileu esquecido

Na penumbra do desejo

Na carícia

Assoprada pelo vento,

 

Luzes apagadas

Enormes salas vazias

Quadros de agonia

Onde estou?

 

Abigail

Grite agora

Se não gritar

Chora,

 

Minha Abigail

Sei

Sim

Sei que está

Louca para gritar

O nome de alguém,

 

Lá distante também

Nuvens escuras

Partidas no infinito

Do trovão

O grito,

 

Água suave

Cabelos lambidos

Rosto pardo de frio

Dentes brancos

Do sorriso,

 

Fibras de tecidos

Misturando no corpo

Do gosto

Da vida,

 

Pés descalços

No chão frio

Molhado no barro

Veja Abigail,

 

Foto viva do passado

No canto da mente atirada

Viva agora

Na estrada

Vamos falar com ela

Na enxurrada,

 

Bilhete correndo

Protegido na garrafa

Só para lá,

 

Vai bilhete dizer

Nem sei como esquecer

Do último pingo,

 

Não chores mais

Porém o sol se foi

Queria ser a lua

Para poder ver,

 

E se ela olhasse

No meio da escuridão

Veria os seus olhos

Brilhando com a paixão,

 

Boneca de carne viva

Brinquedo de sedução

Num conto

A espreita

A espera,

Eu sinto

O faro do desejo

Apostar no sentimento

Estou presente,

 

É tudo vago

Como sonho acordado

Do nada que se vê

A sofrer,

 

Corra destino

Vá lá ao seu encontro

Fale do meu semblante

Retrata o meu sofrer,

 

Diz lá que estou

Igual um disco rodando

Na ponta da agulha

A voz de alguém,

 

Bernarda

Você se foi?

 

Só resta a sua voz

Rouca,

 

Pássaros cantando

Querendo te imitar

Na floresta da vida

Na lida,

 

Estrada sem viajante

Árvores invasoras

Aranhas em suas teias

Marca do tempo,

 

Troncos velhos no chão

Caídos na tempestade

Alimentando cupins

Guardando lá no seu oco

As serpentes coloridas,

 

Depositando as ninhadas

Fazendo a nossa estrada

Chegar ao fim,

 

Vai sem mim

Vejo agora

A curva se fechando,

 

Gostaria de ser

Um viajante,

 

Seria assim contente

Não viveria errante

Correria ao encontro

De Carmélia

Meu amor,

 

Na veloz corrida do som

Sem dor

Aconchegante,

 

Na mesa redonda

Com cartas escondidas

Esperando a partida

Ou ordem do jogador,

 

E Deus

Onde fica nessa

Depois de tudo não sei

Se sou

Um covarde,

 

Com medo da razão

Sentindo falta

Do pão,

Ardor

Provando gosto de fel

Sentindo sabor de mel

Mesmo no sofrimento,

 

Esperança

Que desgraça

Veja que coisa sem graça

Não sei o que quero,

 

Lembrando Abigail

Desejando Bernarda

Alimentando Carmésia

Sou um louco?

 

Sei que não é paixão

Vivendo na ilusão

Ainda quero Denise,

 

Confiante viajante

Na reta da consciência

Talvez eu seja

Um grande imbecil,

 

Pois venho pedir

Volte de novo

Brilha

A imagem refletida,

 

Coragem

Não vou despedaçá-lo

Se sina ou sorte

Mesmo antes da morte

Mulher,

 

Volte de novo aqui

No espelho a refletir

O pecado,

 

Deixe o pano fino

Confundir a realidade

Morrer de felicidade

Se tu vieres,

 

Não sou dono seu

E também um fiador

Nem posso ser

Protetor

Nem sei merecer

Devo morrer,

 

Correndo estrada afora

Chamando-te de senhora

Efigênia

Querida

Que lindo nome,

 

Mais bela

Que suspiro,

 

Ainda guardo

Desejo recolhido

Do fundo do coração,

 

Minha bela,

 

Porteiras fechadas

Para todos os caminhos

Na areia movediça

Da cobiça,

 

Você

Incomparável princesa

Escultura da beleza

Que fui dono,

 

Hoje

Como sonho

Não consigo esconder

Nem meus olhos fecham

Depois do sonho,

 

Parece um fardo pesado

Que me curvo de alegria

De talvez um dia

Lá na distância

Como estrela a cintilar

Lembrando o seu olhar,

 

Para mim

Vou lembrar

Quanto puder

Pense o que pensar

Sorria de mim,

 

Enquanto vivo

Assim

Sempre

Sempre chorando

Como um idiota

Amando,

 

Será isso o amor

Que no chicote a sofrer

Num páreo a perder,

 

Ainda diz

Mesmo assim sou feliz,

 

Deus

Perdão senhor,

 

Não quero lhe culpar

Por ter me inventado

Antes fosse um chinelo

Nos quentes pés da bela,

 

Suportando o seu corpo

Suave como a pluma

Do lado da sua cama

Sempre a tua espera,

 

Ao bel prazer,

 

Seu servo gelado

Ali no chão atirado

Sem ao menos sentir,

 

Por outro lado vejo

Fiel sedutor

De tantas lembranças

Lembrado sou,

 

Firmina

Quanto tempo

Vejo quando na fumaça

Recordo nossas trapaças,

 

Venha cá,

 

Lembrança árdua

Abraço de pulsação

Venha

Para meus braços

Mesmo assim a sonhar,

 

Lembra-se coisa minha

A última vez

Você disse

Que não sei

Comportar como devia

Sei que seu corpo tremia

Na fúria do amor,

 

Agora que está fria

No gelo da escuridão

Presa em um caixão

Servindo a fome

Incansável do verme,

 

Na vontade a provar

Do seu resto

Seu sabor,

 

Que me dói também

Na hora do banho sozinho

Ouço zumbido ao longe

Como você sempre vinha,

 

Minha cigarra cantante

Sem ritmo e melodia

Proibida por alguém

De fazer o que devia,

 

Sei que não canta mais

Foi embora minha canção

Como no vento da morte

Levando rumo ao sul, 

 

Minha bússola  perdida

Orientava o marinheiro

No mar do amor

O viajante,

 

E onde estarás agora

Acalenta-me se puder

Firmina

No armário ainda vejo

O seu lençol

Lavado ha anos

Nas minhas lágrimas,

 

Vou parar de chorar

Não sei se incomodo

Desculpe-me querida

Vou parar,

 

Porém antes

Vou cantar uma canção

Não sou capaz de ver

Se você vai gostar,

 

Ela fala de nós dois

Fala dos nossos momentos

Pois como a nuvem

E o vento

Unidos num só destino,

 

Amor, amor, amor, amor.

Foi muito triste viver

Sem te, sem te, sem te.

Amor, amor, amor, amor,

 

Quanto doeu em mim

Gritei o seu nome

Pro mundo inteiro saber

Que sempre te amei,

 

Meu amor

Agora onde estiver

Não se esqueça amor

Que como uma flor

Foi o que foste,

 

Meu bem

Não encontrei ninguém

Com o perfume sublime

Que era somente seu,

 

Meu bem

Em ti

Eu sei,

 

Quero falar com Géssica

Recordar o nosso fim

Como vive agora sem mim

Na escuridão

Sei que dorme eterno sono

Enquanto sofro a minha dor,

 

Saudades quanta saudade

Vivo farto

Farto de saudades,

 

De te Géssica

Géssica

De um amor

Um grande amor,

Muito estranho

Pois me pareceu um sonho

Com o seu jeito,

 

Era o jeito de Géssica

Pois para te

Era somente alegria

Trocava tristes momentos

Por instantes de sorriso

Vivia sempre a cantar

Mesmo à beira do abismo,

 

Minha Géssica

Estas cartas

Amareladas pelo tempo

Escritas no sofrimento

Quando você ainda vivia

Até parece que sabia

Que me acalentava,

 

A minha saudade um dia

Adeus Géssica

Até quando não sei

Pois não tem

Para minha vida um jeito

Um jeito como o seu

De ser como seu jeito,

 

Sei que me escuta

Do lugar onde está,

 

Sei que não pode falar

Mesmo com vontade,

 

Eu estou chorando

E viajando no tempo

Num barco sem vela

Num oceano sem vento,

 

Estou vivendo sem destino

Quase morrendo por ela,

 

No entanto eu canto

Quando recordo Híbrida

Que só vivia a cantar

Fazia o vento assoprar

Pra seus cabelos bailarem

E cada fio zumbir,

 

Seus lindos lábios

Sempre corados a sorrir,

 

Vamos ouvir agora

Um poema feito em  acroche

Para Híbrida,

 

Hoje estou contigo

Inteiramente contente

Basicamente eu choro

Rogando a Deus

Iludido

Desejando o perdido

Agora sei,

Foi você que tive

Orando sempre comigo

Nos difíceis dias,

 

Sei que anos e anos

Passaram-se

Eu sempre ali,

 

Corpo forte e protetor

A te abraçar,

 

Deus sabe o quanto foi bom

Nada tenho a reclamar

Pois todo tempo vivido

Caminhando a caminhar

Indo sempre sem voltar

Mesmo sem olhar

A estrada que íamos,

 Não sei por que

Se foi Hibrida

O nosso viver,

 

Assinado

O viajante,

 

Deixo a chave

Do lado da fechadura

Na espera

De mais um momento,

 

Vou andando

Nesta casa sombria

Onde passei os meus dias

Confiados por Deus,

 

Não sei

Se sei não sei

Se escutar

Seria melhor calar,

 

Isabel

Minha bela

Dona de uma fera

Que sempre te desprezou,

 

Tudo que você tinha

Minha linda Isabel

No seu sentimento

Era amor,

 

Sol que irradia

Pura energia

Isabel

Minha flor,

 

Quantas vezes amor

Contei todo o seu ser

Pros teus pés

Eu corria,

 

Na estrada imaginária

Passando por suas curvas

Sentindo a vibração

Mergulhando em emoção

De prazer,

Lembro que me dizia

Qualquer dia morrerei

E o dia que não sei

Não quero vê-lo chegar,

 

E ele chegou covarde

Não ouviu

O grito que dei

Pra você ficar,

 

Porém você partiu

Sabe naquele dia

Muitos me perguntaram

Outros até choraram

Sentindo a sua falta,

 

Ao algo incomparável

Como o dedo e o anel

Éramos nós dois,

 

E do fundo da minha alma

Tudo posso desejar

E se não bastar

Não vou ficar triste

Pois se eu merecer

É como a onda do mar

Enfrentando o viajante

A te mar,

 

Boa noite minha bela

Até outro momento

Vou recordar

Ao sussurro

E a sabedoria do tempo,

 

Cheguei Jaqueline

Estou aqui a repousar

Sentir a sua alma

Pagando pelo seu ato,

 

Jaque mulher morena

Conhecida por pequena

Cobra que envenena

Que mata na ilusão,

 

Dama destruidora

De sorriso e simpatia

Onde o tolo confia

Na sua lábia sedutora,

 

Seria esse o destino

Pedaço de tentação

Que mesmo assim no caixão

Eu sinto o mundo tremer,

 

Suas nove letras malditas

São como pingos de dor

Confundidos com o amor

Ou instantes de paixão,

 

Agora não sai daí

Pois o verme alimenta

Levando para o esquecimento

O que não posso esquecer

Não posso sentir

Nem ódio nem alegria

Sei que isso um dia

Deus ia me confiar

Quero ver você querida

Destilar o seu veneno

Levantar falso de mim

Do que nunca te devi,

 

Pois tem a morte

Sua víbora

Para dar cabo a tua língua

Pra tirar a sua visão

Pra te levar pro chão,

 

Agora respira titica

Enquanto o verme te come

O destino te consome

Restando a minha vitória,

 

Hoje sou melhor que tu

Só porque te perdoei

Porém sempre sonhei

Ver você onde está,

 

Agora vou ver Kênia

Sua prima infernal

Sangue do poço do mal

Vinhas da escuridão

Ovelhas negras

Que num curral perdidas

Vivem sempre a penar,

 

Olhar não pode mais

Estou livre da maldição

Não podem me seguir

Estou livre da perseguição,

 

Como herói bato no peito

Achei a liberdade

Ainda dizem que o amor

É algo especial;

Já eu penso diferente

Que ele é o dilema,

 

Como o ator

Vive representando

O personagem sonhando

Querendo te agarrar

Kênia vinha correndo

Meiga e sorridente

Até demonstrava contente

Querendo me conquistar,

 

Infeliz prostituta

Vivendo o corpo de violão

O som da morte,

 

No ato de sua canção

Donzela de satã

Agora queima desgraçada,

Queima na eternidade

Arde o seu traseiro

No fogo eternamente

Sofra a dor eterna

Filha lúcifer,

 

Herdeira da escuridão

Nota errada do soneto

Núcleo do furação,

E depois dos elogios

Cavalgadas quero dar

Com o chicote na mão,

 

E quando surrar o vento

Imaginando você

Quero ouvir o seu grito

Grita Kênia,

 

Agora estou feliz

Vejo as águas a correr

Choro triste de lembranças

Do nosso último dia,

,

Luciana

Lulú da minha vida

Como se fosse um jogo

Tivemos a última partida,

 

Até hoje meu bem

Sinto a água fria em mim

Arrepio o seu fim

Descendo nas profundezas,

 

Você deve ter visto

O quanto te procurei

Sei que você tentava

Dizer a mim onde estava,

 

Acho que sou

Ou fui muito pequeno para ti

Corri a tua procura,

 

Desci rio abaixo

Gritei alto seu nome

No infinito

O meu grito bradava,

 

Parecia que os peixes

Saiam ao meu encontro

Tentavam me socorrer

Jeito estranho de falar

Porém não conseguiam

Dizer o que queriam,

 

Seguiam numa direção

Do talvez,

 

Eu não podia ir

Devem ter alimentado

Cada pedaço de ti,

 

Levaram sua formosura

Filha da natureza

Nobreza da existência

De todos as flores

Você era a essência,

 

Como poderia

Um cacto

Nascido no deserto

Ser dono

De uma sublime flor

Nascida para ser

Apreciada por todos

No sentido da vida,

 

Sentimentos

Ocasiões

Hoje quero caçar

Ver bichos correrem

Quero atirar

Quero ver morrer

Lembra-se

Claro que sim

Meu doce encantado

Minha razão de sorrir,

 

Manuela

Voz de homem em donzela

Não posso te esquecer

Sua amizade e ódio,

 

Faz sorrir

Quem estiver a chorar

Faz cantar

A mais linda canção

Do fundo do coração,

 

Manuela

Bela Manú,

Deixe-me dividir

Esta alegria contigo

Deixe-me ser amigo

Esqueça o aborrecimento,

 

Minha Manuela querida

Descanse onde estiver

Não quero te ver sofrer

Pois você não merece,

 

Não sou mais do que um

Revestido de ilusão

Não sou um substituto

Não sou bruto,

 

Corri a vida inteira

Cacei pelo cerrado

Você sempre do mau lado

Minha Manuela,

 

Não quero ir

Antes que o sol se põe

Assim como você

Escondeu-se de mim,

 

Sei que não foi

Você a culpada

Naquela estrada,

 

Vida maldita

Maldita espingarda

Vi nos seus olhos

A dor atrás da fumaça,

 

Vendo o seu sangue

Como vinho jorrando

Seu corpo desfalecendo

Você murchava,

Gritei alto o seu nome

Sei que não escutava

Não sei onde sua alma

Estava se arranjando

Ou se ao redor de mim

Como um louco varrido

Vendo o seu corpo perdido

Rumo ao nada,

 

Não deu tempo amor

Como uma folha

Que estava limpa sujou,

No passado eu vivi

No presente eu sonhei

No futuro me perdi

E sempre te procurei,

 

Estas foram às palavras

Que você sempre falou

Quando me chamava

De amor,

 

Nair

Anjo adorado por mim

Foi triste o seu fim

Bem que tenho

Vontade de ver

Novamente a sorrir

Você,

 

Bruta

Fogo na carne

Quase insubstituível

Minha mulher,

 

Assim foi e sempre será

A forma que te vi

E pra sempre verei,

 

Nair

Musa de minas canções

Deusa pura da beleza

Minha nobreza

Conceito de eloqüência

Sorriso de ilusão

Vinha sempre correndo

Pros meus braços,

 

Sei que hoje

Nada posso fazer

Nada pode mudar

Nem mesmo no sonho

Odila

Onde está minha Odila

Odila querida

Princesa da minha festa

Do meu viver,

 

Ouço ainda hoje

No fundo lá do meu ser

Quero ter esta lembrança

Sempre roendo assim

Viva dentro de mim

Meu pouco de vida

Sempre bela como uma flor

Quanto te chamei de amor

Não posso te esquecer,

 

O tempo passou

Como um rato

Cavando o seu abrigo

Como vivi,

 

Pedrita menina tola

Mulher amor vaso de rosas

Olhos que choravam

Até quando amava

Lembra-se

Acho que onde estiver

Ainda chora sou um covarde

Ou um grande imbecil

Peço desculpas

Meu tiquinho de gente

Não preciso

Pra que deixar-me sofrer

Não chores eu não mereço

Derramar lágrimas por

mim

Sou muito pequeno

Nem uma gota sequer

Você sabe,

 

Quica o sol está ardente

Como você

Não vejo sombras,

 

Se eu fosse uma estrela

Distante a cintilar

Talvez lá eu estaria

Junto de te

Se estiver a minha espera

Lembra-se minha donzela

Das manhãs de primavera,

 

Agora velho tronco caído

Lábios frios e corpo cansado

Talvez nem gostaria

De dizer como dizia

Meu bem

Hoje não sou ninguém

Foi o que restou

Do cansaço e da dor,

 

Tina você e Umbilina

Vânia e Waltina

Xambioá e Zélia

Farei a vocês uma prece

Senhor zele delas por mim

Cuide de mim por elas

Faça-me feliz Senhor...

 

FIM

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