sábado, 29 de abril de 2023

O Imortal João Rodrigues

 O Imortal

 

João Rodrigues

 

        O sol fazia brilhar o terreiro que se refletia nas lindas flores que enfeitavam a bela casa escondida de tudo lá no meio do sertão. O vento assoprava as densas folhas das laranjeiras, enquanto os pássaros se alimentam dos muitos insetos que infestavam os céus no cair da tarde. Cavalos relinchavam no pasto como se estivesse querendo avisar que algo estava prestes a acontecer...

        E já no dia seguinte...

        - Marta, prepare um frito que vou pro campo e só voltarei ao entardecer.

        - Vai pra tão longe assim Joel?

        - Vou para Braúnas, o gado está indo pra lá, e nessa época de pouca água, as vacas magras podem se atolar...

        - Posso ir com o senhor papai? – indagou Davi o primogênito de Joel e Marta.

        - E quem vai cuidar de sua mãe e sua irmã! - exclamou Joel perdido no encanto de Marta e seus dois lindos filhos...

        - Vamos brincar Ana? – convidou Davi a sua única irmã.

        - Vamos Davi - relatou a menina correndo para o lindo quintal que fazia aquela casa bem distante no sertão, ser a única naquela região.

        - Vou selar o cavalo Marta, não demore com o frito.

        - Não vou demorar Joel.

        Joel foi selar o cavalo e Marta ficou olhando-o e o admirava ao ver os seus cabelos longos e castanhos que até ficava difícil de usar o chapéu. Com suas mãos fortes, jogava a sela sobre o cavalo que mais parecia ser uma brincadeira preferida. Marta recordava quando o conheceu numa festa, e que começaram a dançar, ali foi o início de tudo...

        - Como te amo Joel - murmurava Marta.

        Joel também estava recordando em sua mente o primeiro beijo que tinha ganhado de Marta, lembrando que minutos antes daquele inesquecível momento ele ficou admirando a sua incomparável beleza, aqueles lindos cabelos pretos que enfeitavam aquele rosto moreno que mais parecia algo feito com muito capricho por algum ser que desejava presentear outro ser muito especial...

        - Eu fui e sou esse ser que recebeu este presente - murmurava Joel dizendo consigo mesmo:

        - Nunca vou me esquecer daquele sorriso que inundou o meu coração...

        E voltando a casa...

- Está pronto o frito querida?

        - Sim, Joel, está tudo pronto.

        Nos olhos de Marta era fácil de ver o grande lençol de lembranças que cobria o seu ser que não se cansava de amar o seu Joel.

        - Está sentindo alguma coisa meu amor? – indagou Joel.

        - Vontade de te beijar – respondeu Marta com carinho.

        Joel parecia perdido no tempo sempre que se aproximava de Marta, pois em instantes já estava caído nos braços dela.

        - Pai, o senhor está doente, deitado assim com mamãe! - exclamaram Ana e Davi deitados na cama com Joel e Marta...

        - Não meus amores, papai está muito bem...

        Joel não encontrava palavras para comentar aquele momento, sua vontade era poder ficar ali naquele momento encantado, e ficar eternamente, mas a vida não é assim, todos temos que lutar para conquistar esses momentos que podemos compará-los a uma nuvem que perdida pelos céus sem destino à procura de levar uma mágica sombra a alguém que fez por merecer.

        - E a senhora mamãe? - indagou Ana beijando a face de Marta.

        Marta mergulhada na felicidade beijou a filha e disse:

        - Tudo bem meu amor, tudo bem...

        Minutos depois Joel relatou:

        - Amores de minha vida, eu sinto ter de deixá-los, pois tenho uma missão a cumprir.

        - Vamos levar o papai até o cavalo crianças!

        De modo que Joel se foi, Marta e as crianças ficaram acenando para ele, até que o viram desapareceu ao longe do caminho que o levava para dentro do sertão.

        - Deixem a sua mãe cuidar da lida filhos, vão brincar...

        Marta foi trabalhar, pois tinha de preparar o almoço à espera do seu querido Joel que logo estaria de volta...

        Contudo logo que o almoço ficou pronto, Marta alimentou as crianças e os colocou para dormir, depois foi fazer umas costuras enquanto o sol corria horizonte abaixo, com destino ao ocaso...

        - Mãe, papai já voltou?

        - Não filho, ainda não.

        - Já está tarde mãe!

        - É filho, mas logo ele vai chegar...

        Mais tarde foi a hora de Ana acordar e chorando gritou pela mãe...

        - Mãe, onde está o papai?

        - No campo filha, ainda não voltou!

        - Ele está demorando mãe!

        - Está filha, mas logo ele vai chegar...

        Na verdade Marta também sentia algo estranho no ar, não era normal aquele tempo de demora de Joel, ele nunca tinha demorado tanto, pois até murmurava:

        - Meu Deus, onde estará o meu Joel...

        E o sol chegava ao ocaso e os olhares de Marta e seus filhos se misturavam com a ansiedade e escuridão que começava anunciar uma noite muita misteriosa lá nos confins do sertão.

        Ana agarrada na barra da saia de Marta disse:

        - Não fique triste mamãe, logo ele chegará.

        Marta se assentou com a filha num pau da porteira do curral e ficou olhando o caminho. Logo Davi veio e se assentou do lado da mãe e a irmã, e assim os três esperavam por Joel.

        - Mãe, e se o pai não voltar, o que vamos fazer? 

        - Ele vai voltar Davi - informou Marta apreensiva.

        - Só Deus sabe se ele vai voltar - informou Ana.

        Logo o sol se pôs e nada de Joel. Marta e as crianças ali na porteira do curral não perdiam a esperança de mesmo na escuridão Joel aparecer para apagar aquela aflição dos seus corações. No entanto, quando a noite foi entrando, Marta resolveu levar as crianças pra dentro da casa, pois os mosquitos noturnos já procuravam se alimentar na escuridão.

        - Mãe, será que aconteceu alguma coisa de ruim ao papai?

        - Não Davi, logo ele estará com a gente!...

        Marta serviu o jantar aos filhos, depois ficou conversando com eles até que dormiram...

        - Oh! Meu Deus! O que aconteceu ao meu Joel? Mande ele de volta pra mim - murmurava Marta olhando pro lado do caminho onde o seu olhar banhado por suas lágrimas se perdia na escuridão.

        Já bem tarde da noite quando a lua saiu, Marta podia ver melhor o caminho de onde Joel viria. No entanto, só restava-lhe um ar estranho de desespero.

        - O que devo fazer meu Senhor? - indagava Marta ao seu Deus...

        Ana e Davi dormiam como se fossem dois anjinhos, e Marta sentada aos pés da cama, olhando-os. Porém, logo se pôs a chorar.

        - Por que está chorando mãe, o pai ainda não chegou? - indagou Davi.

        - Estou chorando filho, estou chorando sim, e ele ainda não chegou...

        - Não adianta chorar mãe, a sua lágrima não vai resolver nada. Se já aconteceu algo de ruim ao papai, as sua lágrimas não vão consertar, não adianta chorar mamãe.

        Davi dava conselhos à sua mãe, com apenas sete anos de idade já parecia ser um rapaz.

        - Filho, você fica olhando a sua irmã que vou atrás do seu pai.

        - Não mãe, a senhora precisa dormir um pouco, depois pode ir atrás do papai, durma mamãe, amanhã a senhora irá. 

        Davi deu um forte abraço e um carinhoso beijo na mãe, e disse:

        - Durma mamãe, descanse...

        Marta sentia que o filho era outra pessoa que estava ali, até parecia ser o próprio Joel.

        - Filho, eu estou me sentindo estranha. Você está diferente...

        - É porque a senhora está cansada, durma querida.

        Davi a chamou de querida, da mesma forma que Joel a chamava.

        - Filho, você está me chamando de querida.

        - Sim mamãe, durma, esqueça o papai, ele está bem.

        Marta acabou concordando com Davi, e assim foi dormir, esperando que nada de mal tivesse acontecido a Joel...

        - Davi, levante meu filho, o dia já amanheceu!

        - Qual é o problema, mamãe?

        - É que o seu pai ainda não chegou, precisamos tomar providências, não sabemos o que aconteceu a ele!

        - O que podemos fazer mãe. Senão esperar...

        - Ana e você ficam olhando a casa, que eu vou à casa do Vô Pedro pedir ajuda.

        - Não seria melhor pedir ajuda ao Vô Manoel?

        - Não filho, primeiro a casa do pai de Joel, afinal de conta Joel é o filho dele...

        - Sim mãe, faça o que achar certo.

        De sorte que Ana e Davi ficaram olhando a casa e Marta selou o seu cavalo e saiu rumo à casa do sogro para dizer a ele que o seu filho Joel desapareceu.

        Ana e Davi ficaram olhando a mãe sumir na mesma estrada que Joel havia sumido um dia atrás...

        - Estou com medo Davi - informou Ana abraçada com o irmão.

        - Fique calma Ana, logo mamãe estará de volta.

        Davi falou aquilo para acalmar a irmã, pois até ele mesmo estava com medo, e quem não estaria...

        - Por que não fomos com ela, Davi?

        - Não podemos deixar a casa sem ninguém, Ana.

        Marta também estava com medo, pois nem sabia o que ia lhe acontecer...

        - Vamos cavalo - gritava Marta correndo pelo caminho, e olhando para a mata na esperança de encontrar o seu amor.

        E logo aproximava do meio dia quando ela chegou à casa do seu sogro...

        - Ainda bem que o senhor está em casa – relatou Marta olhando com esperança nos olhos do seu Pedro que veio recebê-la na porteira do curral.

        - Você está estranha Marta?

        - Foi Joel senhor. O seu filho. Foi ontem cedo pro campo e não voltou.

- Ontem cedo?

        - Sim, senhor. Pediu um frito e disse que ia se demorar, contudo nunca fez isso. Disse que ia para tal de Braúnas. Preciso de ajuda senhor.

        - O que será que aconteceu a ele!

        - É o que ficou pensando, senhor...

        O senhor Pedro chamou seu outro filho e disse:

        - Antônio, o que deve ter acontecido ao Joel?

        - Não sei pai, o que está acontecendo?

        - Marta veio pedir ajuda, Joel saiu de sua casa ontem cedo e não voltou...

        - E qual foi o lugar que ele foi?

        - Disse que ia buscar um gado nas Braúnas...

        - Braúnas, se for assim ele deve ter caído nas mãos do senhor Alberto, ele invadiu a vazante.

        - Alberto, filho. Eu não estava sabendo disso - argumento o seu Pedro passando a mão na barba branca e dizendo:

        - Então a coisa está ficando complicada.

        - Complicada como? - indagou Marta.

        - É que o seu Alberto tem um costume de matar quem entra nas terras que ele invade.

        - Mas não podemos acusar o homem sem provas - relatou Marta se sentindo indignada.

        - Que tipo de provas? - indagou o seu Pedro.

        - Ai que está o problema - relatou Antônio.

        - Mas temos que ir em frente...

        - Sim, pai. O que quer que eu faça?

        - Estou pensando – relatou o seu Pedro dizendo:

        - Você pode voltar pra perto dos seus filhos Marta, agora é com a gente...

        - Sim senhor Pedro, qualquer novidade mande me avisar.

        - Sim filha, assim que descobrirmos alguma coisa alguém avisará você...

        Marta deu rédeas ao cavalo e regressou à sua casa, e perdida no desespero de não saber o que teria acontecido ao Joel, ou será que quando ela chegasse lá, ele estaria com Ana e Davi...

        Contudo na casa do seu Pedro...

        - Antônio, sele dois cavalos, pois vamos dar um pulo na casa do seu Alberto e ver o que ele sabe a respeito de Joel.

        - Sim pai.

        Não demorou muito...

        - Pai, os cavalos estão prontos.

        - Então procure se alimentar de alguma coisa que vamos demorar...

        - Pra onde vão? - Indagou à senhora Odete esposa do seu Pedro e mãe de Joel.

        - Braúnas, desvendar o sumiço do Joel.

        - Que sumiço do Joel?

        - Marta esteve aqui há pouco informando que ele foi à procura de um gado nas Braúnas desde ontem o não voltou.

        - E foi pra lá mesmo?

        - Foi o que ela disse - interrompeu Antônio dizendo.

        - Estou pronto pai.

        - E será que foi pra lá mesmo - questionou Cristina a filha caçula do senhor Pedro.

        - Não temos certeza Cristina - informou Antônio.

        - Vamos ver se foi pra lá mesmo filha - relatou seu Pedro olhando no rosto da sua única filha, e dizendo:

        - Cuide de sua mãe, querida!

        - Pai, o que vamos fazer? – indagou Antônio.

        - É muito fácil filho, vamos direto a casa do seu Alberto, só ele seria capaz de fazer mal ao Joel.

        - Fazer o quê Pedro? - indagou à senhora Odete.

        - Matar o nosso filho.

        - Não fale assim, nem sabemos o que aconteceu ao Joel, acho que devemos ter certeza pra depois acusar alguém.

        - Concordo com mãe, pai. Vamos descobrir...

        Já passava do meio dia quando Antônio e o seu pai saíram de casa, deixando ali sua mãe e irmã para ir saber do paradeiro do seu irmão Joel...

        - Pai, o que vamos falar com o senhor Alberto?

- Vamos perguntar se ele sabe alguma coisa a respeito do seu irmão...

        De modo que depois de um longo trecho de caminho foi que chagaram a porteira da grande casa da fazenda Braúnas, de propriedade do senhor Alberto...

        - Boa tarde. Viemos falar com o senhor Alberto.

        - E quem eu devo anunciar?

        - O senhor Pedro e seu filho Antônio - respondeu Antônio ao capataz do senhor Alberto.

        - E o que desejam?

        - Assunto particular - relatou o senhor Pedro.

        - Vou ver se ele tem tempo de receber os senhores.

        O capanga ordenou outro pistoleiro que foi levar a notícia dos visitantes...

        Instantes depois...

        - O senhor pode entrar com o seu filho, senhor.

        De maneira que o seu Pedro e Antônio amarraram os seus cavalos num grande pé de xixá e foram recebidos pelo senhor Alberto na grande sala do casarão.

        - Que ventos trazem à minha casa amigos! - exclamou o seu Alberto dando sinal para os capangas se retirarem.

        - Estou à procura do meu filho Joel - relatou de maneira brutal o seu Pedro.

        - Mas logo na minha casa! - exclamou o seu Alberto com ar de desconfiança.

        - Bem, na verdade não estamos procurando o Joel na sua casa, e sim nas suas terras - informou Antônio com uma expressão de desconforto.

        - Por que logo em minhas terras?

        - Porque foi pra cá que ele veio ontem e ainda não voltou - informou o senhor Pedro.

        - Está querendo dizer que o matei?

        - Não senhor, eu não estou dizendo isso. O que estou dizendo é que ele veio pra cá e não voltou. Achamos que o senhor e seu pessoal pudessem nos dar alguma notícia dele.

        - Não, não sabemos de nada, e gostaria que se retirasse da minha casa com o seu filho, e vai procurar o seu outro filho em outro lugar, não sabemos de nada...

        - Mas não é o caso de nos expulsar assim da sua casa senhor, só estamos à procura de Joel.

        - Na minha casa sou eu quem manda, portanto saiam.

        Antônio procurou se prevenir, pois conhecia o seu pai e sabia que a coisa ia piorar...

        - Pois é seu Alberto. Vamos sair, mas meu filho e eu andaremos por suas terras pra ver se encontramos o meu filho Joel, e não gostaria que o senhor me impedisse.

        - Não quero ninguém andando nas minhas terras - relatou o senhor Alberto dando sinal para os pistoleiros atirarem no senhor Pedro.

        - Calmos amigos - relatou Antônio atirando em dois pistoleiros do seu Alberto.

        - Isso não pode ficar assim - argumentou o seu Alberto atirando em Antônio...

        - Tenha calma senhor Alberto - argumentou o seu Pedro guardando a sua arma depois que atirou na testa do velho Alberto que ficou estirado no chão da grande sala da casa da fazenda Braúnas.

        - Obrigado pai, ele era mesmo muito violento.

         A mulher e filha do seu Alberto choravam sobre o corpo do homem valente que agora já não tinha mais nenhuma serventia.

        - Vamos filho, vamos procurar o nosso Joel.

        Assim o seu Pedro saiu com Antônio, deixando ali o rastro de desgraça, mas o sertão é assim, triste e às vezes cruel.

        E depois das buscas pelas terras do finado Alberto o seu Pedro e Antônio foram pra casa que só chegaram ali ao meio da noite...

        - E como foi lá homem? - indagou à senhora Odete.

        - Não deu nada certo - respondeu o seu Pedro com ar de muita tristeza.

        - E que cara é essa? - indagou Cristina.

        - Morte minha irmã, mortes...

        - Mortes, que mortes? Morte de Joel?

        - Não Cristina, falamos da morte do seu Alberto, matamos o homem dentro da sua própria casa...

        - Por quê?

        - Ignorância do velho, achou que fomos acusá-lo de ter matado Joel.

        - E aí?

        - Aí que tudo começou... Matamos o velho e entramos na vazante até chegou à noite e nada do Joel.

        - Nada do meu filho, filho?

        - Nada mãe, nem jeito dele.

        - Vai ver que o velho nem tinha culpa de nada...

        - Ninguém sabe mulher - relatou seu Pedro colocando as esporas no torno.

        - Arruma comida pra eles filha.

        - Sim mãe...

        - Vai soltar os cavalos na roça filho.

        - Está bem pai, eu vou cuidar disso.

        - Venha se banhar Pedro - convidou à senhora Odete...

        Cristina preparava a comida enquanto Antônio cuidava dos cavalos. Contudo, logo depois que serviu a comida, ficou olhando-os comer e imaginando onde estaria o Joel.

        - No que está pensando filha? - indagou Odete recordando a última vez que tinha visto o Joel.

        - Nada mãe, eu só estou imaginando onde estará o nosso Joel...

        - Deve estar em algum lugar filha, logo ele estará de volta - relatou seu Pedro.

        - O problema agora complicou pai - relatou Antônio.

        - Por que Antônio?

        - Quando Lucas chegar e encontrar o pai morto, o certo que ele virá nos pegar na fúria da vingança.

        - Onde será que ele estava filho?

        - Devia estar no tabuleiro, lá na outra fazenda do velho, onde mora o Abdias.

        O senhor Pedro passou a mão na cabeça e relatou:

        - Que confusão o Joel nos meteu...

        Já no dia seguinte o seu Pedro falou:

        - Antônio, vá até a casa de Marta ver se alguma coisa aconteceu por lá.

        Antônio montou o seu cavalo e foi atender a ordem do seu pai...

        E para sua surpresa ao chegar ali se deparou com Marta desacordada no chão do terreiro na boca da estrada...

        Antônio balançando a cunhada em seus braços disse:

        - Marta, o que aconteceu aqui?

        Porém a pobre Marta não conseguiu falar, de modo que Antônio voltou pra casa trazendo-a sobre o arreio do cavalo...

        - Antônio vem vindo mãe, parece que vem trazendo alguém.

        - Deve ser impressão sua Cristina - relatou Odete com uma expressão de desconfiança.

        - Não mãe, não é impressão minha, ele vem trazendo alguém.

        Cristina saiu correndo para se encontrar com o irmão e matar a sua curiosidade.

        - Marta, coitada. O que aconteceu a ela Antônio?

        - Não sei Cristina, ela estava desmaiada no terreiro da sua casa.

        - E as crianças?

        - Não vi ninguém, devem ter sido queimadas, a casa estava em cinzas...

        Minutos depois Marta já estava na cama enquanto Odete e Cristina cuidavam dela.

        - Como foi lá Antônio? - indagou o seu Pedro que vinha chegando da roça.

        - Muito ruim pai. Encontrei a casa de Marta totalmente destruída. Marta estava desmaiada no terreiro, assim eu a trouxe comigo.

        O seu Pedro foi até a nora e com ar de culpa falou:

        - Meu Deus! O que aconteceu a ela...

        - Só Deus mesmo pra saber homem, pois está desacordada - relatou Odete passando um pano úmido na testa de Marta.

        - Pai, eu acho que devemos avisar o senhor Manoel, afinal de conta ele é pai de Marta.

        - Amanhã você vai avisá-lo Antônio.

        - Quem sabe ela tem uma melhora até lá e nos informará alguma coisa - relatou Cristina.

        - É - relatou Odete.

        - Antônio, avisa o nosso pessoal do que aconteceu, pois precisam ficar atentos, Lucas deve aparecer aqui a qual quer hora, pois deve ter sido ele que fez esta maldade com Marta.

        - Sim pai. Vou avisá-los...

        Antônio comunicou ao bando o que tinha ocorrido...

        - Foi isto que aconteceu pessoal, tenham muito cuidado que a coisa está feia.

        - Pode deixar com a gente Antônio, estamos esperando o que vier - informou um dos homens de confiança do seu Pedro.

        Instantes depois...

- Pai. Já avisei ao pessoal.

        - Certo filho, só nos resta esperar...

        E foi difícil passar aquela noite, parecia que ela nunca ia passar, contudo passou, passou rasgando cada mente daqueles homens brutais lá naquele sertão cruel.

        - Antônio, vai avisar o senhor Manoel o fato acontecido.

        - Sim pai - relatou Antônio dizendo:

        - E a Marta mãe, ainda não falou nada?

        - Já filho, mas muito difícil de entender.

        - Ainda bem mãe, logo ela estará melhor.

        Antônio montou o seu cavalo e disse:

        - Pai. Logo estarei de volta.

        - Vai com Deus filho, vê se não demora.

        Antônio saiu como que não quisesse ir. Algo lhe dizia que quando voltasse às coisas estariam diferentes, contudo não sabia o quê...

        E ao chegar à casa do seu Manoel:

        - Antônio está vindo pai! – exclamou Mateus o único filho do seu Manoel.

        - O que será que está fazendo por essas bandas, tanto tempo que não veja ninguém do seu Pedro por aqui – relatou o seu Manoel caminhando para a porteira do quintal para receber o visitante.

        - Deve ser alguma notícia ruim pai, a cara dele não é das melhores.

        - Vamos acabar de chegar Antônio. Como está o seu Pedro?

        - Mais ou menos seu Manoel, as coisas por lá não vão indo muito bem.

        - O que se trata Antônio – indagou Mateus.

        - Foi o meu irmão Joel que desapareceu.

        - Simplesmente desapareceu? – indagou o seu Manoel.

        - Pois é seu Manoel, já passa de três dias e nada de Joel.

        - Meu senhor bom Deus, o que será que aconteceu a ele...

        - Está tudo muito confuso seu Manoel, muito confuso...

        - Precisamos descobrir o que lhe aconteceu Antônio, pois se não descobrirmos vamos ficar suspeitando talvez de pessoas inocentes.

        - Como seu Alberto, eu acho seu Manoel que ele estava mesmo inocente, morreu por algo que não tinha culpa.

        - Mas o que aconteceu a ele?

        - Marta esteve lá em casa e nos disse que Joel disse quando saiu que ia ver um gado em Braúnas, lá na vazante que o seu Alberto invadiu.

        - E vocês foram pra lá.

        - Sim seu Manoel. Fomos perguntar ao seu Alberto sobre Joel e ele nos expulsou da casa dele achando que estivéssemos acusando-o de ter matado o Joel.

        - Assim vocês mataram o velho?

        - Foi. Contudo acho que ele morreu inocente.

        - Ou pela valentia dele, mas uma coisa eu lhe digo Antônio, se aconteceu alguma coisa a Joel, ele deixou vestígio.

        - Eu também acho, contudo por onde andamos naquela vazante não vimos nada.

        - E só por isso que veio até aqui? – indagou Mateus.

        - Não Mateus. No dia seguinte a morte do seu Alberto o meu pai me disse pra ir à casa de Joel ver se como estava indo as coisas por lá.

        - E você foi?

        - Fui seu Manoel. Fui à esperança de encontrar com Joel de volta. Mas não foi isso que aconteceu...

        - O que aconteceu? – indagou Mateus assustado.

        - A casa de Joel estava queimada e Marta desacordada no meio do caminho como se alguém que fez aquilo quisesse dizer algo de vingança.

        - O que você fez?

        - Levei Marta sobre o meu cavalo até minha casa. Minha mãe com minha irmã ficaram cuidando dela. O meu pai me mandou aqui para que o senhor ficasse a par de tudo que aconteceu.

        - Tem alguma suspeita de quem atacou a Marta, Antônio?

        - Não sei seu Manoel, esperamos a Marta voltar a si, quem sabe ela saberá nos dizer...

        - Não Antônio. Temos que ir até Braúnas e interrogar o Lucas pra gente saber se foi ele quem atacou Marta, só pode ser ele. Vocês mataram o pai dele...

        - E quando o senhor acha que devemos ir?

        - Amanhã, pode dizer ao seu Pedro pra preparar a cabroeira que vamos ver se o Lucas é culpado ou não.

        - Está acertado seu Manoel, estamos esperando o senhor amanhã bem cedo.

        Antônio voltou para casa, pensativo. Imaginando o que ia acontecer no dia seguinte, pois sabia que a luta não ia ser fácil, porque os irmãos Lucas e Abdias não era flor que se cheira...

        E ao chegar a sua casa...

- Como foi lá Antônio?

- Dei a notícia ao senhor Manoel e ele disse pro senhor preparar a cabroeira que amanhã iremos interrogar o Lucas pra ver se foi ele mesmo quem atacou Marta.

        - Ele ficou abatido com a notícia?

        - Ficou, ficou muito abalado, o senhor sabe como ele é valente.

        - Sei filho, o irmão dele era ainda pior, e foi morto por um menino.

        - Pois é pai, e quanto a Marta, teve algum avanço?

        - Já, já está falando.

        - E contou o que aconteceu?

        - Sim filho, o que a gente já imaginava.

        - Lucas?

        - Sim, acompanhado do seu irmão Abdias e muitos homens, foram vingar a morte do pai.

        - Então logo devem chegar aqui!

        - Com certeza filho, foram lá só para nos ameaçar.

        - E as crianças?

        - Morram queimadas, estavam dormindo na hora que puseram fogo na casa.

        Antônio pôs a mão no ombro do pai e falou:

        - Onde se meteu o Joel... Será que está vivo...

        - Não sabemos filho, não sabemos onde isso vai parar – relatou o seu Pedro com tristeza...

        E já no dia seguinte...

- Pai, vem vindo uns cavaleiros na estrada!

        - Quem será filho?

        - Deve ser seu Manoel, ele é muito madrugador...

        - Pelo jeito é ele mesmo!

        E quando os cavaleiros se aproximaram o seu Pedro foi ao encontro deles com alegria, dizendo:

        - Vamos acabar de chegar seu Manoel.

        - Bom dia seu Pedro, como vão às coisas?

        - Vão como vão seu Manoel, indo...

        - Então, já descobriu quem atacou a Marta?

        - Já seu Manoel, Os filhos do finado Alberto, o Lucas e Abdias...

        - E as crianças?

        - Morreram queimadas, estavam dormindo na hora do ataque.

        - Povo desgraçado. Nunca tiveram dó de ninguém. O senhor se lembra da vez que eles mataram Moisés?

        - Nunca vou me esquecer daquele horror seu Manoel!

        - Põe horror nisso seu Pedro, aquilo foi mais do que horror. Cortaram toda a família a golpes de machado. Aquele povo não e da terra, é como se fossem os demônios do inferno em figura de gente...

        Marta veio cumprimentar o pai e disse:

        - Tudo acabou pra mim, pai!

        - Como foi que tudo começou filha?

        De modo que Marta relatou toda a história e o seu Manoel falou:

        - Isso não vai ficar assim. Nós vamos descobrir quem matou Joel, se for que ele morreu...

        - Sinto que algo de muito ruim aconteceu a ele, pai.

        - É filha, às vezes ele está vivo em algum lugar e precisando de ajuda...

        - Que Deus nos ajude a encontrá-lo, pai.

        O seu Manoel muito nervoso disse:

        - Vamos agir seu Pedro, vamos descobrir o que aconteceu ao Joel.

        - Vamos seu Manoel, vamos encontrar o nosso Joel.

        De sorte que todos saíram a galope, deixando ali somente as mulheres da casa do seu Pedro...

        - Antônio, segue na frente, você conhece melhor o caminho...

        - Está certo pai,

        E nas estradas por onde passavam iam deixando a poeira para trás. Que era jogada rumo aos céus e que até parecia formar um letreiro que demonstrava querer avisar que algo de muito triste estava prestes a acontecer...

        - Antônio?

        - Sim, pai!

        - Vamos parar um pouco na Várzea Grande.

        - Por que pai?

        - Bater os arreios dos cavalos!

        - Ta bom, pai.

        Porém, na chegada da Várzea Grande o seu Pedro e todo o seu pessoal foram surpreendidos pelos irmãos Lucas e Abdias que armados até os dentes, estavam com os seus pistoleiros à espera deles como se tivesse alguém invisível orquestrando toda aquela desgraça que estava acontecendo no sertão...

        - Cuidado, pai - avisou Antônio.

        Mas foi tarde demais, pois naquele instante Lucas passou correndo perto do bando em seu cavalo preto que mais parecia soltar fogo pelas ventas e atirou no seu Pedro. Como se estivesse querendo dizer a Antônio, se ele matou o meu pai, agora o matei...

        Antônio ficou perdido no desespero ao ver o seu pai sair Várzea afora sendo arrastado pelo cavalo com o seu pé enganchado no estribo.

        - Malditos! - gritava o pobre Antônio atirando nos inimigos como se as balas dos seus revólveres nunca fossem acabar...

        - Me dê uma demão aqui pelo amor de Deus - gritava o seu Manoel preso debaixo do seu cavalo que tinha sido abatido.

        - Fique calmo seu Manoel, vou te tirar daí - informava Antônio...

        Contudo de nada adiantou, pois o maldito Abdias deu cabo na vida o seu Manoel com um tiro na cabeça.

        Mas num piscar de olhos Antônio acertou o maldito Abdias que veio cair do lado do seu Manoel e na ânsia da morte se arrastava em direção o seu Manoel como se estivesse arrependido do que tinha feito a ele.  Lucas vendo o seu irmão morrendo, correu gritando:

        - Não Abdias, não meu irmão, não me deixa sozinho...

        Naquele instante, os dois últimos pistoleiros acabavam de se matarem, só restando assim a Várzea Grande repleta de cadáveres ensangüentados...

        - Prepara para morrer maldito - relatou Antônio indo na direção ao Lucas...

        Lucas deixou o corpo do irmão no chão e foi rumo ao Antônio, dizendo:

        - Morte, só morte, onde isso vai parar?

        Antônio, porém falou:

        - Responda-me uma coisa seu desgraçado, foi você quem matou o meu irmão, foi ou não foi?

        Lucas de arma em punho disse para o Antônio:

        - Do que vale isso agora Antônio. Já não temos pai, e nem irmão, do que vale isso agora seu matador imbecil...

        Antônio atirou em Lucas, contudo a arma já estava sem balas e Lucas sorrindo disse:

        - Agora vou te pagar Antônio. Vou te matar seu bandido...

        Antônio no desespero falou:

        - Então atira seu maldito, acaba logo com essa história de uma vez por todas!

        - Não otário. Vou te matar devagar, bem devagar...

        Antônio seguiu em direção o Lucas dizendo:

        - Atira o vou tomar a droga desse revólver de você...

        De modo que Lucas resolveu atirar, porém a sua arma também estava sem balas, e os dois entraram em luta corporal...

Algum tempo depois já cansados de tanto bater um no outro que mais pareciam querer fazer as pazes, alguém gritou:

        - Parados aí! Seus idiotas...

        Os dois pararam para obedecer à voz, e Lucas de repente deu uma grande risada...

        - Rá, rá, rá. Você! Agora eu vou ganhar a luta, a minha querida irmã chegou... Atira nele Joana!

        Porém alguém retrucou:

        - Se atirar nele eu atiro em você! 

        Todos ficaram parados e Lucas se perdeu na beleza de Cristina, contudo Antônio vendo a irmã saindo de dentro da mata falou:

        - Agora empatamos a luta, eu também tenho irmã seu idiota...

        Naquele maldito instante Joana atirou em Cristina, mas Antônio entrou na frente fez com que Joana errasse o tiro, Cristina apontou a arma pro Lucas e disse:

        - Foram vocês que mataram Joel, Lucas?  Responda ou vou acabar com você.

        - Não Cristina. Não matamos o seu irmão, Juro por tudo que há de mais divino, que não tocamos em seu irmão... Nem sei onde ele está, faz muito tempo que não o vejo.

        - E porque atacou a Marta e matou os inocentes queimados?

        - Por vingança e ódio Cristina. Pois mataram o meu pai. E agora te peço para não me matar, chega de matança, precisamos uns dos outros, só sobrou à gente desta guerra infernal. Vamos ser amigos Cristina.

        Cristina ficou por algum tempo mergulhada no argumento do Lucas. E parecia perdida de paixão, pois até disse:

        - Antônio. Devemos acreditar nele?

        - Sim Cristina. Vamos salvar o nosso sangue - informou Antônio hipnotizado na beleza de Joana.

        Quando Lucas percebeu a atitude de Antônio, relatou:

        - Farei o que for preciso para sermos amigos Antônio. Vamos ver se a gente encontra Joel. Vamos nos ajudar e sermos bons amigos como foram os nossas avós. Pois minha irmã e eu agradecemos de coração pela sua compreensão. Sei que não vamos trazer de volta os que morreram, mas podemos viver e reconstruir as nossas famílias - relatava Lucas como se estivesse vencido pelo feitiço do lindo olhar de Cristina.

        Antônio também nem é preciso falar como estava perdido nos encantos de Joana que qualquer um se perdia em seu olhar.

        - Ainda sobrou você meu irmão - relatou Joana abraçando o corpo espancado de Lucas...

        Cristina foi até perto de Antônio e falou:

        - Vamos Antônio, esse lugar aqui está cheirando a morte.

        - Espere Cristina, preciso falar com você - pediu Lucas.

        - O que quer de mim Lucas?

        - Você Cristina, eu quero você, somos dois órfãos que podemos ser felizes pelo resto de nossas vidas.

        Antônio vendo aquele apelo sincero de agora o seu amigo Lucas, não se conteve e fez a mesma coisa com Joana...

        - Sabe Joana, nem vou falar o que Lucas falou para minha irmã, só quero que se case comigo, case comigo Joana?

        - Peça ao meu irmão, caso ele permitir, estarei de acordo.

        Nem foi preciso Antônio pedir, pois Lucas relatou:

        - Tudo bem Antônio, e quanto a Cristina?

        - É ela quem decide. Por mim tudo bem.

        Cristina se atirou nos braços do Lucas e disse:

        - É o que sempre desejei...

        De modo que os dois casais se perdiam ou se encontravam em beijos intermináveis ali do lado dos seus entes queridos duros no chão e não podiam festejar, porque estavam mortos.

Assim podemos dizer que o amor mais uma vez venceu a morte.

        - Vamos pra casa Cristina - ordenou Antônio.

        - Vamos. Mas só depois de enterrarmos os nossos mortos.

        E enquanto Lucas e Antônio enterravam os mortos. As duas moças falavam dos seus sonhos.

        De modo que naquele dia o sertão era testemunha mais uma vez de algo que parecia ser muito idiota.

        - Acho que já chega de mortes meu amigo – relatou Lucas colocando uma pequena cruz improvisada no monte de terra que escondia o seu único irmão.

        - Ainda bem que o cavalo trouxe o corpo do meu pai de volta, pois se não fosse assim nem mesmo eu poderia ter enterrado ele. Adeus seu Pedro, pelo menos ficou enterrado perto de um amigo, não é seu Manoel – relatou Antônio dizendo:

        - Onde estará o meu irmão!

        Lucas colocou a mão sobre o ombro de Antônio e disse:

        - Vamos encontrar o Joel.

        - Bem Lucas, eu já vou indo - relatou Antônio se despedindo também de Joana.

        - Vai com Deus meu amigo. Lamento do fundo do meu coração por tudo que aconteceu.

        - Deus vai nos ajudar e tudo vai ficar bem Lucas.

- Breve irei te ver querida.

        Cristina embargada de emoção relatou:

        - Deus cuida de você Lucas, meu amor...

        Os dois casais foram pra suas casas, deixando ali os túmulos dos seus mortos e levando consigo o lençol de tristeza...

        Antônio e Cristina contaram a senhora Odete o que tinha sucedido, e assim assistiam a sua mãe acender as velas no cair da tarde e chorar a sua viuvez lá nos confins do sertão.

- Eles morreram lutando senhora Odete. Morreram lutando por seus objetivos – Marta tentava amenizar a sua dor e a dor da sua sogra.

- E agora Antônio, o que você pretende fazer?

        - O que está se referindo, mãe?

        - Sobre o Joel!

        - Nada mãe, não tem mais nada a fazer. Só vou tomar algumas providências, como avisar o filho de seu Manoel de tudo que aconteceu. Quanto ao Joel não tem muita coisa a fazer, Lucas afirmou que não deram cabo da vida de Joel e que nem sequer o viram. O Jeito é aguardar pelo tempo, quem sabe ele trará o Joel de volta...

        E no dia seguinte...

        - Mãe. Vou à casa do seu Manoel avisar a família dele o que aconteceu.

        - Certo filho, eles têm todo direito de saber.

        - Meti meu pai nisso e ele acabou pagando com a vida por minha culpa – relatou Marta.

        - Não Marta, ele gostava de Joel. Era o seu único genro – relatou Antônio tentando animar a cunhada.

        - Vai Antônio, Mateus deve estar esperando por notícias.

        - Está bem Cristina. Logo estarei de volta.

        E Antônio seguiu mais uma vez rumo á casa do finado Manoel para levar a pior das notícias que alguém pode imaginar...

        - Antônio vem vindo sozinho Luzia – informou Mateus falando com sua irmã caçula.

        - Vem coisa ruim ai – relatou à senhora Neuza esposa do finado Manoel.

        - O que será mãe? – indagou Mateus.

        - Morte filho, alguém morreu.

        Mateus foi até a porteira de o curral receber Antônio e disse:

        - Acabou levando ele pra morte, não foi Antônio?

        - Sim Mateus, seu pai e o meu. Enterrados lá na Várzea Grande.

        - E o Lucas? Também foi sepultado?

        - Não. Só o irmão dele.

        - Foram eles, Lucas e Abdias que mataram seu irmão Joel?

        - Não. Lucas disse que nem mesmo viram o Joel.

        - Como ele disse isso? – indagou Mateus.

        - Quando estávamos enterrando o meu pai, o seu pai e o irmão dele.

        - E você acreditou?

        - Sim, senti que ele é inocente.

        Mateus olhou pro rumo da Várzea Grande e falou:

- Bem que eu queria ir com meu pai, parece que estava adivinhando, mas ele não permitiu...

        - Fique calmo Mateus. Deus sempre sabe o que faz, fique calmo...

        - Isso que a senhora fala não vai me acalmar, mãe. Não dona Neuza, não vai. O que vou fazer sem o meu velho do meu lado!

        De modo que a viúva tentava acalmar o filho...

        - Espere o momento exato das coisas meu irmão - relatou Luzia.

        - O que está querendo dizer Luzia? - indagou Antônio desconfiado.

        - Sei lá, é que na verdade tem algo de estranho nessa história. O seu Alberto e seus filhos com o sumiço de Joel. Depois vem você dizendo que o meu pai morreu. Por final afirma que Lucas é inocente...

        - Compreendo Luzia, estou entendendo o que quer dizer. Sei que sou irmão de Joel, Estou sentindo uma dor dobrada da que você sente. Pois perdi o meu pai e ainda tenho um irmão desaparecido. Vim aqui dar satisfação a vocês, pois a sua irmã está em minha casa. É a minha cunhada. Contudo vejo nas entrelinhas que está desconfiando da minha pessoa. Se tivesse eu culpa no cartório acha que estaria aqui?

        Naquele instante da explanação de Antônio dava para observar que o nervosismo de Luzia aumentava. De modo que para evitar mais tragédia Antônio montou o seu cavalo e foi saindo. Contudo Luzia saiu em sua direção de faca em punho dizendo:

        - Não fuja seu desgraçado, foi você quem matou o meu pai!

        Num instinto natural o cavalo de Antônio assustou com a moça, atirou-lhe um coice que a atingiu na testa, Antônio desmontou-se do cavalo para socorrer a moça, no entanto já estava sem vida. Mateus ao ver a irmã morta, sacou da sua arma para atirar no Antônio. Mas, acabou acertando a senhora Neuza que entrou na frente para salvar o Antônio. De maneira que nos seus últimos instantes de vida ela disse:

        - Não filho, não mate Antônio, seja amigo dele, promete filho, promete?

        Mateus possuído pelo ódio e inundado de tristeza disse para sua mãe que acabava de morrer:

        - Eu prometo mamãe, eu prometo...

        Assim os dois jovens assistiam os últimos gemidos de uma mãe que nos seus últimos momentos fazia unir dois inimigos...

        - Lamento meu amigo, mais uma vez eu não tive culpa - relatou Antônio montado novamente em seu cavalo.

        Mateus carregando o corpo da mãe para perto do corpo da irmã, disse:

        - Vai embora Antônio, diz pra Marta que matei a nossa mãe. Fale pra ela que sou um criminoso.

        - Foi um acidente amigo, não foi culpa sua...

        - Vai Antônio, suma da minha frente...

        Assim Antônio seguiu estrada afora falando com o seu cavalo:

        - Até você virou matador, não é Roxão!

        O cavalo Roxão esquipava estrada afora...   

        - Foi Cristina, foi isso que aconteceu...

        - É quase impossível de acreditar no que está dizendo...

        - Pois é. Não pude fazer nada...

        - E agora, o que fazer?

        - Levar Marta pra companhia de Mateus.

        - Coitada. Que destino, o marido sumiu. Os pais, a irmã e os filhos mortos. Só lhe restou um irmão...

        - E onde ela está?

        - Foi à fonte com nossa mãe.

        - Ah, lá vem elas...

        Quando Marta e Odete chegaram, bem antes de qualquer coisa, Marta relatou:

        - Eu sei o que aconteceu, eu esperava por isso, Luzia sempre foi muito nervosa, Mateus gostava muito dela, eu já fui avisada.

        - Avisada, avisada por quem? - indagou Antônio.

        - Não sei explicar Antônio, mas já fui avisada. Sei que tenho de ir ficar com Mateus. Coitado, ficou sozinho como disse a finada vovó Sebastiana:

        - ‘‘ Só vai sobrar você e Mateus e o seu novo filho. Ele nascerá e você partirá em busca de Joel, e’’.

        - E o quê Marta?

        - Nada não Cristina, isso é coisa da família dela - relatou Antônio.

        - Não Antônio, está além de coisas da minha família. Eu já esperava por tudo que está acontecendo.

        - Se esperava por tudo, porque não fez nada para evitar tantas mortes?

        - Eu não podia Antônio, ninguém pode mudar as coisas ordenadas por Deus. O que Ele determinar é irreversível, e não depende de nossas vontades, porque se dependesse de nossas vontades Antônio, os ricos jamais morreriam, só haveria morte para os pobres. Tudo depende da vontade do senhor Deus...

        Marta parecia ser uma representante de Deus por entre as pessoas na terra.  

        - Eu não acredito que Deus é tão insensível assim Marta, deixar tantas pessoas morrerem sem mais nem menos.

        - Olhando com os olhos de um simples mortal só vê o que a sua mente vê, mas se olharmos com os olhos de um imortal, aí sim, poderá ver além da imaginação.

        Antônio era um caipira desinformado e muito individualista, daquelas pessoas que talvez não acreditasse nem nele mesmo, não podia desta forma acreditar em alguma coisa além da imaginação, pois até disse para Marta:

        - Acho que deve parar com essa filosofia barata, será que não dá pra imaginar que não sabemos de nada!

        - Estou de pleno acordo com Antônio, Marta, você deve ir viver o restos dos seus dias com o seu irmão, uma vez que o meu Joel desapareceu - relatou Odete chorando:

        - Calma mãe, calma, pra que chorar?

        - Me deixe chorar filho, eu tenho que chorar... 

        Minutos depois Marta se despedia de todos e em especial da sogra dizendo:

        - Obrigada por tudo senhora Odete, me perdoa por vir pedir ajuda e causar tanta desgraça, eu sou mesmo uma maldita, uma pessoa maldita...

        - Não viva o remorso filha, você mesma não disse que é o destino, siga o seu destino.

        De modo que a pobre Marta seguiu quase sem querer ir...

        - Adeus Cristina, adeus Antônio...

        - Que Deus te acompanhe cunhada...

        - Depois a gente vai lá te ver.

        - Eu estarei esperando Cristina.

        De maneira que Marta se foi deixando ali um triste rastro de dor, indo assim viver na casa onde nascera junto de tudo que lhe sobrou, um único irmão e talvez um filho no ventre como a profecia da vovó Sebastiana afirmava.

        - Mateus, sou eu, Marta...

        Mateus assentado num tronco de jatobá que ficava num canto do quintal da casa, respondeu:

        - Sim Marta. Eu sei que é você. Desça do seu cavalo e acaba de chegar. Só sobrou a gente.

        - Mas ainda temos amigos...

        - Amigos, nem sei o que significa ser amigo ou ter amigos neste mundo minha irmã. Não existem amigos, e sim um jogo de interesses que parece interminável. Colocam os seus interesses acima de tudo.

        - Por isso é que existe o amigo Mateus, para poder suportar essas coisas.

        Mateus mergulhado no sertão se sentia perdido com tantos acontecimentos trágicos, procurava algo que justificasse tudo aquilo...

        - Sabe Marta, a vida é uma coisa estranha, nasci para assistir tudo isso pra quê, pra me tornar uma pessoa melhor!

        - Pode até ser, se sente assim?

        - Não sei Marta, não tenho cabeça para medir o bom ou o ruim...

        - Mas logo tudo vai passar.

        - Marta, como vai passar, dá pra imaginar que a gente não tem mais ninguém? Estamos perdidos Marta, só você e eu neste fim de mundo e nesse emaranhado de surpresa sem nem mesmo saber o que irá acontecer no amanhã. Pra quê Marta, pra quê viver uma vida como esta...

        - Procuro compreender o que diz meu irmão, mas Deus vai nos honrar por algum motivo. Acho que fomos escolhidos, pois estamos vivos.

        - Ou morto vivo, é assim que me sinto.

        - Não meu irmão, não é bem assim, a vida é mesmo um mistério, contudo ela é muito especial, pois se apegarmos em alguma coisa aí sim, descobre que a vida é muito especial, ela é algo que nem mesmo podemos comprar... Não encontramos a via à venda...

        E os dias voaram rumo ao desconhecido...

        - Marta, Antônio está vindo!

        - Ainda bem, faz tanto tempo que não aparece ninguém por estas bandas.

        - É. Já era tempo de aparecer alguém. Só espero que não venha acompanhado de mais problemas.

        Antônio chegou à porteira do quintal e gritou:

        - Hei morador!

        - Mateus saiu para receber o amigo e disse:

        - Vamos acabar de chegar Antônio, quanto tempo...

        - Vim ver como está indo!

        - Como você mesmo disse. Indo. Vamos indo, levando a vida.

        - É, essa vida a gente tem que viver lutando, pois se não lutar, ela não tem sentido.

        - Oi Antônio, como vai? - cumprimentou Marta se sentindo envergonhada.

        - Como vai Marta, que barriga é essa? Onde a arrumou?

        - Foi à última lembrança que o seu irmão me deixou antes de sumir, até parece que ele sabia.

        - Que bom cunhada. Desejo que ele ou ela nasça com muita saúde para nos alegrar.

        - É para lua nova. E vai ser um menino, vou por o nome do pai nele.

        - Qual o pai, o seu ou o dele?

        - O dele, o nome dele será Joel.

        - É uma boa lembrança, e você vai ficar assim sem arrumar ninguém para cuidar de você?

        - Não, quero ir para casa da sua mãe, assim ela cuidará de mim.

        - E a Cristina também - argumentou Mateus.

        - Por falar em Cristina, ela mandou convidar vocês para o seu casamento.

        - Casamento de Cristina, com quem? - indagou Mateus se sentindo triste.

        - Lucas, ela vai se casar com Lucas.

        - Não acredito que ela teve essa coragem, de se casar com aquele cara, um criminoso...

        - Mas qual o homem nessa terra que não cometeu um erro Mateus! Aponta pelo menos um que não se envolveu em confusão nesse mundo cruel em que vivemos. Pra todo lado que olhamos ouvimos falar de mortes. Até aqui mesmo no sertão, vivemos matando uns aos outros sem mais nem menos...

        - Sei disso Antônio, mas Cristina não pode se casar com aquele maldito. Eu não vou permitir que ela se case com ele.

        - E o que pretende fazer Mateus? - indagou Marta.

        - Não sei ainda, só sei que ela não vai se casar com Lucas.

        - Vejo que você gosta da minha irmã Mateus, fico muito feliz de saber, contudo eu juro que não sabia do seu amor por ela. Se eu soubesse não teria permitido que o Lucas se casasse com ela.

        - Mas não se casaram ainda gente, tudo pode mudar, pois é bem provável que Cristina não sabe do amor que Mateus sente por ela.

        - Não sei Marta, eu já dei a minha palavra pro Lucas. E assim sendo não pretendo voltar atrás.

        - Com certeza você deve estar se enrabichado com Joana, Antônio, para estar defendendo assim o Lucas. Está sim, apaixonado pela irmã dele.

        - Sim, Mateus. Tudo aconteceu quando no dia da matança. Só Lucas e eu restamos daquela tragédia infernal, e quando tentávamos matar um ao outro, Joana apareceu para por fim em mim, e assim ajudar o seu irmão. Mas Cristina chegou e rendeu Joana e assim...

        - Um se apaixonou pela irmã do outro...

        - Foi, Mateus, foi assim mesmo. Beijamo-nos apaixonadamente na presença daqueles mortos...

        - Que amor estranho! - exclamou Marta dizendo:

        - Mas por outro lado, bonito, muito bonito. Onde o amor mais uma vez supera o ódio.

        - Será que foi isso mesmo Marta, você não estava lá - relatou Mateus.

        - Não estava Mateus, mas vi quando Cristina selou o seu cavalo e saiu para ajudar Antônio.

        - Ela foi assim sem mais nem menos?

        - Não, a senhora Odete que pediu.

        - Mateus, eu acho que você não devia brigar por uma coisa tão banal.

        - Acha que gostar de uma garota é uma coisa banal, Antônio?

        - Bem Mateus, eu não tinha conhecimento do seu amor pela minha irmã, quero retirar o banal que falei.

        - Ainda bem que você reconhece, pois pode ter certeza que vou lutar até o fim para impedir o casamento dela com o Lucas. Ela vai se casar comigo, vai ser a minha linda esposa.

        - Como vai impedir o casamento Mateus, já está tudo acertado na cidade, vai ser o dia do aniversário de Cristina.

        - Ta Antônio, isso é problema meu, eu vou dar um jeito de ter a minha Cristina do meu lado, quero ser feliz com ela.

        - Acho melhor deixar pra lá Antônio, quando esse aí põe uma coisa na cabeça só Deus pra mudar. E se esqueceu que mãe pediu para serem amigos, é bom não ficarem discutindo assim.

        - Concordo Marta, mas acho que Mateus deve ter um pouco mais de consideração pelos meus atos.

        - Não Antônio, eu não tenho nada contra você, só que sua irmã não devia se casar com Lucas. Não vou perder Cristina, não, eu a amo do fundo da minha alma.

        - Este aí está mesmo apaixonado Antônio, parece que não vai parar enquanto não causar alguma tragédia.

        - Ninguém sabia desse amor, Marta?

        - Eu notava Antônio, eles sempre gostaram um do outro. Quando se encontravam lá em casa, mas nunca pensei que fosse amor.

        - Compreendo, o certo é esperar pelo que vai acontecer...

        - Está melhor assim meu amigo, deixa o tempo se encarregar das coisas, pois sei que ele não vai me afastar da minha linda Cristina - argumentou Mateus olhando nos olhos de Antônio dizendo:

        - Você um dia vai ser meu cunhado, pode escrever isso...

        - E você Marta, vai hoje mesmo?

        - Vou Antônio, Mateus, ordena os pistoleiros para cuidarem da casa e aproveita e vem comigo, assim faremos companhia para Antônio, e desta forma você verá sua Cristina.

        - Seria bom, eu vou! - Mateus exclamou com muita alegria, se sentindo uma nova pessoa. Pois até disse:

        - Vou ver o meu amor.

        - Então arrume as coisas pra gente ir...

        - Mãe, vem vindo três cavaleiros.

        - Deve ser Antônio, Cristina.

        Os cavaleiros se aproximaram e Cristina falou:

        - Mãe, adivinha quem está vindo?

        - Quem minha filha?

        - Marta, Mateus e Antônio!

        - O que vieram fazer aqui depois de tanto tempo! - exclamou a senhora Odete olhando pela janela.

        - Quem sabe mãe. Parecem felizes.

        - Oi Cristina, abre a porteira.

        Cristina atendeu o chamado do irmão, ao abrir a porteira até parecia perdida no encanto de Mateus que parecia hipnotizado com o olhar sedutor da linda camponesa à espera de alguém para fazê-la feliz...

        - Oi Cristina, quanto tempo.

        - Pois é Mateus, você sumiu...

        - Depois de tantos problemas eu não tive coragem de vir te ver, mas estava com muita saudade de você...

        - Mas eu acho que nessas horas é que a gente tem que se aproximar. Mas respeito o seu jeito de pensar.

        - É. Cada um tem um jeito de ser, só sei que senti muita falta sua...

        - Está diferente Mateus, sinto que está com medo de alguma coisa... 

- Parece ter se esquecido de tudo Cristina.

        - Não Mateus. Não me esqueci de nada. Mas tudo que aconteceu entre nós não passou de uma coisa banal, ou uma coisa de criança. Tudo mudou, hoje sou uma moça feita, não mais aquela menininha. Sou uma filha sem pai que preciso de alguém para cuidar de mim. Como um homem forte e destemido.

        - Compreendo, como um assassino, um homem que matou o pai da mulher que te admira. Não Cristina, isso não está certo. Aquela menina que eu tanto amei e que ainda amo não pode se entregar a um assassino. ‘‘ Bem que minha mãe dizia: - Mulher não se casa com cobra porque não sabe qual é o macho’’ Agora vejo que ela estava certa.

        - Eu lamento Mateus, mas já dei a minha palavra ao Lucas, será ele o meu marido.

        - Não quero discutir com você Cristina, sei que o que está acontecendo a você está além da sua imaginação. Mas não existe nada no mundo que não pode ser mudado, tudo pode ser construído e destruído.

        - Venha pra dentro gente, está ficando tarde.

        - Já vamos mãe - informou Cristina andando segurando na mão de Mateus com ar de felicidade.

        Antônio. No entanto, notava que Mateus não estava lá muito contente.

        - Mateus. Vamos colocar os cavalos no pasto!

        - Vamos Antônio...

        Depois que soltaram os cavalos no pasto, ficaram comentando sobre a fazenda...

        - Quantos pistoleiros você tem aqui Antônio?

        - Apenas dez, morreram muitos nas tragédias. O porquê da pergunta?

        - Só matando a minha curiosidade, eu sempre fui assim.

        - Como te disse, depois do sumiço de Joel eu quero aumentar o número de pistoleiros. Está chegando muita gente de fora, é sempre bom à gente se prevenir para o caso de mais problemas.    

- Mas também está chegando à polícia.

        - É uma coisa que eu não acredito. Polícia. Ela nunca vai resolver problema de ninguém, somos nós que temos de cuidar de tudo. Meu pai me educou dizendo para nunca ocupar a polícia, pois quem se envolve com ela será sempre um suspeito de qualquer coisa. A polícia é uma coisa que foi criada por alguém que não tinha coragem de lutar, assim se esconde atrás dela, até mesmo se corrompe ou é corrompido por ela, é um caminho muito sujo e sem volta. Lembra-se do Zezinho, o matador de Moto Grosso?

        - Sim, o que tem a ver uma coisa com a outra?

        - Um dia ele me disse que tinha matado sobre encomenda um prefeito corrupto, e que estava em viagem, assim eu perguntei se ele tinha algum advogado, aí foi que ele me mostrou numa grande mala, nela estava uma grande soma de dinheiro e uma arma especial. Quando eu vi aquela arma e o dinheiro foi que perguntei o motivo, assim ele me disse que com o dinheiro ele comprava a polícia e se não desse certo, com a arma ele resolvia a questão...

        E depois de uma longa noite de um bom bate papo, foram dormir...

        - Bom dia Cristina.

        - Bom dia Mateus, como passou a noite?

        - Sonhando com o nosso casamento...

        - É. Sonho aceita tudo, o difícil é realizar o sonho...

        - Você não teria interesse em me ajudar a realizar o meu maior sonho, não é Cristina?

        - Já falamos sobre esse assunto Mateus, não gostaria de perder a sua amizade, podemos continuar amigos como sempre fomos...

        - Oi gente, vamos tomar café!

        - Obrigado senhora Odete - relatou Mateus indo para a mesa respirando o suave perfume da sua linda Cristina.

        E já na mesa Mateus falou:

        - E Antônio, ainda dorme?

        - Não, foi pra manga atrás dos animais - informou Cristina.

        - Por que não me chamou, seria um prazer ter ido com ele. Assim eu buscaria o meu cavalo também, quero dar umas voltas antes de ir pra casa.

        - Eu o mandei trazer o seu cavalo.

        - Está querendo se livrar de mim Cristina?

        - Não Mateus, só quis ajudar.

        - Compreendo, peço desculpas por minha grosseria...

        E depois daquele demorado e insultante café da manhã, Mateus se foi, deixando ali a sua irmã para ganhar a criança, e levando consigo a revolta de ter perdido a sua Cristina que se inclinava verdadeiramente para o assassino Lucas, que parecia ter tomado conta de uma vez por todas do coração dela. Pois, até mesmo no caminho, inconformado murmurava:

        - Ela não vai se casar com aquele monstro...

        E o tempo voou...

- Ele é lindo, Marta. Parece mesmo com o Joel.

        - Parece senhora Odete, é mesmo que ver ele...

        - É como se eu estivesse vendo Joel quando era criancinha - relatou à senhora Odete perdida no passado...

        Marta pegou o filho e lembrando-se do último dia que viu Joel, chorando ela disse:

        - Obrigada meu Joel. Onde quer que esteja obrigada pelo seu filho - Marta agradecia ao marido sumido.

        Cristina veio chegando e ao ver o menino falou:

        - Você vai assistir a casamento da titia, não vai...

        - Não Cristina, ele não vai assistir o seu casamento - relatou Antônio que acabava de chegar.

        - Alguma coisa tão estranha que o meu sobrinho não pode ir ao meu casamento Antônio?

        - Sim, Cristina, tem sim.

        - Posso saber que coisa tão estranha é essa que se refere?

        - Mateus. Sinto que ele não vai deixar barato.

        - Eu não tenho nada a ver com Mateus.

        - Ele me disse que você não vai se casar com Lucas.

        - Besteira Antônio, isso já é caso acertado, falamos sobre isso.

        - Não acredito que ele tenha se convencido, pois ele não vai desistir tão fácil de você.

        - Vai dar tudo certo Antônio, Mateus não vai se envolver com Lucas. E eu não vejo a hora de ser dona da fazenda Braúnas, um lugar que o meu pai sempre desejou.

        - Vai se casar com Lucas só por causa da fazenda? - indagou à senhora Odete indignada.

        - Não mãe, depois de casada e que eu for dona da fazenda, eu acuso Lucas pelo assassinato do meu pai, assim ele vai pra cadeia e eu fico com tudo.

        Odete ficou observando a filha com aquele jeito de um ser da escuridão e depois murmurou:

        - Isso saiu do meu ventre, senhor Deus...

        - Disse alguma coisa mãe?

        - Não filha, só estava pensando alto...

        Como o tempo não espera por nada...

        - Vamos gente, nessas horas toda a cidade nos espera para o casamento, conhecendo Lucas como conheço, ele deve ter convidado metade da cidade, não quero decepcionar o meu querido esposo.

        - Ele ainda não é seu esposo Cristina. Você ainda não se casou com ele, e como venho esse tempo todo lhe dizendo, Mateus não vai permitir esse casamento.

        Cristina vestida de noiva naquela carruagem parecia ser um ser muito mais especial do que uma simples mortal.

        - Gostaria de ser o noivo Cristina, você está por demais, bela - brincou Antônio dando um beijo na face da Irmã.

        - Você um dia terá uma linda mulher do seu lado...

        - Não meu bem, sinto que o meu destino é só participar de lutas e desafios, nunca terei um amor, um grande amor do meu lado.

        - E Joana, o que será dela, pra que está enganando ela?

        - Não sei, só sei que ela não aparece nos meus pensamentos, algo estranho estápor vir...

        Até parecia que Antônio estava pressentindo alguma coisa...

        - Vamos mudar de assunto Antônio. Já estamos chegando.

        Não demorou muito para entrarem na rua principal da cidade, que enfeitada de gente, esperava a noiva do rico fazendeiro...

        - Nunca vi tanta gente assim reunida Cristina.

        - Fique calmo Antônio, estão nos esperando.

        A igreja enfeitada esperava a linda Cristina, que ao som da marcha nupcial, fazia invejar as outras garotas que desejavam estar em lugar de dela.

        - Vamos descer Antônio, e em lugar do meu pai, eu gostaria que me levasse até o altar e que me entregasse nas mãos de Lucas.

        - Sim Cristina, eu vou fazer isso, mas mais uma vez quero dizer que Mateus não vai deixar isso acontecer.

        - Que Mateus que nada Antônio, a cidade está cheia de polícia, Lucas deve ter dado muito dinheiro para os policiais, ninguém vai se atrever a causar confusão.

        - Confusão não, mas guerra sim parece que se esqueceu de quem é o Mateus.

        - Eu sei quem é ele meu irmão, mas agora não tem como voltar atrás, é tudo ou nada.

        De modo que Antônio seguiu rumo ao altar segurando a mão da sua irmã, enquanto Marta segurava com as criadas a longa calda do vestido da linda noiva que parecia hipnotizar os convidados.

        - Aqui está a minha irmã Lucas, faça-a feliz...

        - Obrigado Antônio, eu a farei feliz.

        Depois disso, Antônio se afastou e ficou perto de Joana, que em seguida te falou:

        - Breve seremos nós.

        - Sim, querida, em breve...

        E assim a cerimônia decorria sem nenhum embaraço, até que o celebrante relatou:

                - E se houver aqui alguém que por acaso é contra a união dessas duas pessoas, que manifeste agora, ou...

        Nem mesmo deu tempo do celebrante terminar de falar, um homem mascarado entrou em seu cavalo preto igreja adentro e pegou a noiva e saiu com ela, enquanto um grupo de pistoleiro da parte do Lucas tentou impedir a ação do mascarado, mas acabou desencadeando uma guerra onde um atirava no outro...

        - O que está acontecendo Antônio? - perguntou Marta vendo o seu sangue se esvaindo do seu corpo.

        - Não sei Marta, mas eu vou descobrir...

        Antônio pressentiu que já não tinha o que fazer por Marta, e a mesma coisa acontecia com Joana, estendida no chão daquela igreja formando uma cena fúnebre que jamais sairia de sua mente. De modo que ele gritou:

        - Mascarado infernal, eu vou te matar...

        Antônio, Lucas, e a cidade inteira saíram à procura do mascarado que levou a linda noiva rumo ao rio Capim, no entanto, viam que Vazante estava repleta de homens valentes que lutavam uns contra os outros que mais pareciam perdidos no desespero de querer encontrar o que nem mesmo sabiam o que procuravam.

        - Lucas, tem idéia de quem seja o Mascarado?

        - Tenho Antônio, só pode ser Mateus, ouvi falar que ele contratou muitos pistoleiros que vieram de Buriti Grande.

        - Mas não temos provas, precisamos encontrar o mascarado.

        - Sim Antônio, preciso salvar a sua irmã.

        Lucas parecia voar em seu cavalo preto que mais pareciam duas feras em busca de suas presas...

        Antônio também não ficava para trás, seguia o rastro do mascarado como se fosse um cão de caça.

        Contudo, ninguém esperava por outro grupo de pistoleiros que estava como reserva do mascarado nas margens do rio Capim...

        - Cuidado Lucas - relatou Antônio vendo o futuro marido de Cristina descendo nas águas do rio Capim, sendo devorado por piranhas famintas e ferozes.

        Antônio ficou por algum tempo olhando os restos mortais de Lucas e do seu cavalo que perdiam o poder e valentia de uma dupla que era respeitada por onde quer que fossem no sertão. Ali ele pôde ver o quão franco é um mortal diante do seu destino, diante da inevitável morte.

        Agora já não existia mais nenhum herdeiro da família do seu Alberto, pois lá no meio da confusão na cidade de Vazante, Antônio tinha visto a esposa do finado Alberto também morrer perfurada por balas no meio da interminável batalha. De maneira que Antônio murmurou dizendo:

        - Ninguém é nada neste mundo...

        Quando Antônio viajava na imaginação, ouviu um som estranho que vinha de dentro de uma gruta que existia no morro do lobo, situado à margem do rio Capim...

        - O que será que está acontecendo aqui – relatou Antônio desmontando do cavalo e adentrando a escura gruta rumo ao som estranho que o levava gruta adentro...

        - Calma meu amor, logo você surgirá em outro lugar e com outro nome, e não se lembrará de quem foi nesta vida, apenas terá vagas ilusões, e eu serei uma delas.

        Quando Antônio viu a sua irmã sem vida naquela enorme pedra cercada por curtas velas de cera com suas minúsculas chamas que se sentiam envergonhadas pela beleza infinita de Cristina, pois nem mesmo parecia ter morrido, ou quem sabe talvez naquele momento estivesse com o seu querido Lucas que deveria ter vindo ali ao seu encontro depois daquela morte horrível no rio Capim.

        - Pronta meu bem, agora você está pronta – relatou o mascarado que se misturou nas chamas que começaram a consumir o corpo da linda Cristina.

        Assim Antônio assistia o triste fim de Cristina, porém, sentindo-se um pouco de inveja da forma diferente de ver o fim de alguém. O fogo, no entanto parecia ser um fogo diferente, era um fogo brilhante como uma rara jóia e de um calor brando, como uma mágica talvez. Pois logo a escuridão tomou conta do ambiente e alguém passava por Antônio saindo de dentro da gruta, foi aí que Antônio percebeu que se tratava de Mateus, porém fez de conta que não estivesse vendo ninguém, contudo Mateus falou:

        - Tinha de ser assim Antônio, não encontrei outra forma.

        - Compreendo amigo, agora entendo o porquê do pedido da sua mãe quando morria.

        Mateus deixou o amigo falando sozinho e sumiu na escuridão.

        - Mãos pra cima, você está preso – ordenou o delegado a Antônio quando sai da gruta.

        - Por qual motivo estou sendo preso delegado?

        - Por ter provocado tantas mortes em minha cidade com sua armação infernal.

        Talvez o delegado não soubesse do poder incalculável que tinha o Antônio de posse de seus revólveres em suas mãos, pois se soubesse não teria dito aquilo...

        - É uma coisa que eu nem mesmo gosto de fazer, mas hoje não sei por que tenho de levar o corpo deste coitado para delegacia...

        Falava Antônio consigo mesmo indo rumo à cidade, levando o corpo do delegado sobre um cavalo e sendo acompanhado por vários pistoleiros feridos na batalha, batalha essa que muitos deles nem mesmo sabiam que tinham lutado. Pareciam hipnotizados com tudo aquilo.

        - Você está preso?

        Relatou o soldado a Antônio que vinha chegando à delegacia com o corpo do delegado sobre o cavalo.

        - Por que está me prendendo soldado?

        - Este é o meu dever, vou pedir reforço da capital, depois você será julgado por todos esses crimes, e espero que seja condenado à forca.

        Antônio não resistiu à prisão. Até parecia que a cadeia para ele seria um alívio. Pois até murmurava:

- Já chega de tantas mortes...

Como o tempo não espera por ninguém...

- Eu sou um viajante e ando pelo mundo à procura de serviço.

- Que tipo de serviço? – indagou à senhora Odete ao forasteiro desconhecido.

- Qualquer coisa senhora, este é o meu destino.

Naquele instante nasceu uma chama de esperança nos olhos de senhora Odete, que passando a mão no cabelo de Joel disse:

- O pai dele sumiu, a mãe e os irmãos morreram, o único tio vivo está preso, nada sobrou em sua vida.

- A vida é assim senhora, mas para tudo tem solução.

- Que solução está se referindo senhor, como é mesmo o seu nome?

- Nivaldo, senhora. Ao seu inteiro dispor.

- Pois é seu Nivaldo, já estou muito velha para resolver certas coisas.

- Compreendo senhora, mas às vezes as soluções estão em nossa frente.

- Daria ao senhor o que fosse preciso para ajudar o meu filho a sair daquela cadeia que dizem que está preso.

- Não tem mais ninguém com quem podemos contar?

- Tem Mateus, ficou muito abatido por minha filha Cristina ter dispensado ele pelo próprio assassino do pai.

- E quem é o assassino?

- Era o Lucas, filho do seu Alberto.

- Porque o Lucas fez isso?

- Antônio, o meu filho que está preso, o Lucas achava que foi ele quem matou o pai dele.

- E não foi?

- Não, foi meu marido.

- Por um motivo justo?

- Tudo começou quando o meu filho Joel sumiu. Marta disse que ele tinha ido pra lá, num lugar chamado Braúnas, a fazenda do velho Alberto.

- Com isso a guerra começou?

- Foi. A matança nasceu aí.

- E o Joel. Apareceu?

- Não. Até hoje não. Vivo sozinha nesta fazenda cuidando do filho dele, foi o que restou pra mim.

Nivaldo era o próprio Joel que estava ali diante da sua própria mãe, contudo não conseguia nem mesmo saber quem o era de verdade...

- É senhora, estou convencido que a sua causa é justa. Desde já me comprometo a te ajudar.

- Será muito bem recompensado pelo que fizer por mim...

- Tenho certeza que sim, senhora.

- E a senhora falou do Mateus. Com quem ele vive?

- Sozinho. Perdido no tempo esperando a minha a minha filha Cristina voltar.

- Voltar de onde?

- Pois é, quando ela se casava com o assassino, dizem que um mascarado montando um grande cavalo preto a levou do altar de igreja, por isso aconteceu uma grande tragédia na cidade, dizem que o assassino do meu marido morreu, e a minha filha até hoje não apareceu, nem o tal mascarado foi descoberto. Mas muita gente morreu lá nessa confusão, inclusive Marta a mãe desse menino e Joana com a mãe dela.

- Quem era a Joana?

- Irmã do Lucas. O assassino. Antônio estava preparando pra se casar com ela.

- Então não sobrou ninguém da família do seu Alberto?

- Não, dizem que apareceu uma jovem por nome de Amélia que matou os pistoleiros que estavam nas fazendas e tomou canta de tudo.

- Deve ser muito valente essa jovem!

- E bonita. Falam que ela parece um pouco com a minha filha Cristina que desapareceu no dia do casamento.

Nivaldo ficou imaginando se ele era mesmo o Joel e Amélia seria a sua irmã Cristina...

- Se quiser dormir pode ficar a vontade Nivaldo. Eu vou me recolher. Já estou muita fraca...

- Não senhora, eu vou ver se consigo tirar o seu filho da cadeia, assim ele fará companhia para a senhora e o seu neto.

Odete nem mesmo deu atenção para o forasteiro, pois adentrando na casa deixava o som do seu chinelo informar que já estava no fim da vida...

De sorte que Nivaldo foi para Vazante visitar o prisioneiro Antônio que se ele fosse mesmo o Joel, Antônio era o seu querido irmão que fez toda aquela guerra por sua causa.

E no dia seguinte:

- Meu nome é Nivaldo, vim aqui por parte do prisioneiro Antônio.

- O que o senhor deseja?

- Libertá-lo.

- Não será possível senhor Nivaldo, o prisioneiro será julgado por assassinato do delegado. Já posso até adiantar a sentença. A forca.

- E o senhor fará isso sozinho?

- Não senhor, sou apenas um soldado, mas pedi reforço da capital. Logo teremos um novo delegado e assim o pescoço do assassino do delegado se encontrará com a corda.

- Posso falar com ele?

- Sim, o senhor tem cinco minutos.

Quando Nivaldo chegou à frente da cela onde Antônio estava encarcerado, sentiu algo estranho, pois, mesmo sem saber, estava agora o Joel junto do seu irmão.

- Visita para você pistoleiro assassino – relatou o soldado com expressão de revolta.

Antônio nem mesmo quis ouvir o que o soldado falou, pois ao ver Nivaldo foi logo sentindo algo muito confortante e disse:

- Posso saber o motivo da visita?

- Sua mãe. Prometi a ela que iria te tirar daqui.

- E quem é você?

- Nivaldo. Um pistoleiro profissional.

Antônio olhou para Nivaldo e disse:

- Não sei o que dizer Nivaldo, mas é mesmo que estivesse falando com Joel.

- Também me sinto assim, e isso se deu desde o momento que me encontrei com sua mãe, parece ser ela a minha mãe que nunca a conheci, uma vez que só me recordo de mim assim e com esse nome de Nivaldo.

- Pois é Nivaldo, algo me diz que tenho que lhe informar sobre a minha inocência.

- E qual é?

- No dia que o mascarado seqüestrou Cristina eu o segui, cheguei até a margem do rio Capim e acabei ouvindo um som estranho que vinha de dentro da gruta no morro do lobo, sei que fui entrando gruta adentro e assisti o mascarado saindo de dentro do fogo que consumia minha irmã Cristina. Sei que ela não parecia triste. Notei que o mascarado era Mateus o irmão de Marta que tinha morrido horas atrás, depois que ele seqüestrou Cristina no altar daquela igreja.

- E ele te falou alguma coisa?

- Sim, disse que aquela foi à única forma que encontrou, e depois sumiu na escuridão.

- E o que aconteceu?

- Quando saía da gruta o delegado me deu voz de prisão. Desta forma o matei e trouxe o corpo dele para a cidade e o soldado me prendeu aqui.

- E por que não matou o soldado?

- Não sei, parece alguma coisa estranha que está me dominando.

- Vai esperar a forca aqui sem fazer nada?

- Daqui de dentro não posso fazer nada...

- Pois é. O soldado disse que pediu reforço na capital.

- E sabe quando vai chegar?

- Parece ser breve.

- Então é curta a distância do meu pescoço para a corda...

- Não vou deixar isso acontecer.

- Tem alguma idéia?

- Sim, uma emboscada.

- Então podemos contar com Mateus!

- Não sei, sua mãe disse que ele está problemático desde o dia que Cristina foi seqüestrada na igreja.

- Como assim, se foi ele mesmo!

- Mas a sua mãe não sabe que foi ele, só você e agora eu.

E assim que os dois tramavam um plano...

- O seu tempo esgotou forasteiro.

- Estou de saída soldado.

Instante depois Nivaldo dizia ao soldado:

- Não vou demorar em libertar o prisioneiro...

- Assim que for enforcado ele será todo seu pistoleiro idiota.

- Então vejo que a coisa vai ficar cada vez pior!

- Por que acha que vai ficar pior, pistoleiro?

- Porque você está agindo injustamente, punindo um homem inocente. É bem provável que isso irá lhe custar a sua própria vida soldado.

- Isso é uma ameaça forasteiro?

- Não. Sou um forasteiro que nunca gostou de se envolver com policiais. Não por medo, pois não tenho medo de nada, contudo gostaria que fosse até a cela onde está o prisioneiro e o soltasse pra que ele pudesse cuidar da sua mãe e sobrinho, por serem as únicas pessoas que lhe restou.

- E o que eu ganharia com isso?

- Paz, tranqüilidade. Continuaria vivendo. Não acha isso uma coisa relevante?

- Sim, contudo fiz um juramento. Não posso aceitar a sua oferta.

- Bem soldado, já que o seu juramento está acima de tudo. Nós forasteiros, também temos o nosso. Prometi aquela anciã que libertaria o seu filho. E é isso que vou fazer. Nem que eu tenha que matar um batalhão de soldados com todos os seus juramentos.

- E se você morrer antes? Ele será enforcado do mesmo jeito.

- Mas eu não vou morrer.

- Por quê?

- Sou um imortal.

- Está querendo dizer que não morre!

- Sim, posso desaparecer daqui e reaparecer em outro lugar, até mesmo com outro corpo, outra aparência e outro nome...

- Sendo assim, aqui não é o seu lugar.

- E se for. Não estou aqui. Então posso ser daqui, ter vivido aqui, ou viver aqui.

- Não, não acredito nessa coisa de imortal coisa nenhuma.

- Este não é o caso soldado, só quero que liberte o prisioneiro.

- Não seu imbecil, tome o seu rumo e saia da minha cidade se não quiser ser preso na mesma cela que está o assassino do delegado.

- Então eu vou indo soldado, mas pense no que lhe disse. Pois eu sou um imortal.

De modo que Nivaldo saiu de perto do soldado que ficou curioso ao ver o forasteiro sair da cadeia passando pelas paredes como se não as existissem.

- Hei forasteiro! Como fez essa mágica?

- Que mágica. Soldado? – indagou Nivaldo montando em seu cavalo.

- Passar por paredes?

- Como lhe disse soldado. Sou um imortal.

- E nós já nos vimos antes?

- É bem provável soldado, bem provável...

Nivaldo se foi e o soldado ficou olhando-o até que o sumisse dos seus olhos e por fim murmurou...

- Ele é um imortal...

- Õ Mateus – gritou Nivaldo parado na porteira da casa de Mateus.

- O que deseja amigo? – indagou Mateus saindo de dentro da casa.

- Quero falar com Mateus.

- E quem deseja?

- Eu senhor, Nivaldo. Um pistoleiro profissional.

- Sou o Mateus senhor, em que posso ajudá-lo?

- Estou em missão, sou encarregado de libertar Antônio da cadeia.

- E por quê?

- A senhora Odete me contou toda a história.

- Pediu ajuda?

- Sim, parece estar morrendo.

- Antônio preso por quê? 

- Matou um delegado.

- Então a coisa está feia pro lado dele!

- Sim, disse que depois que você se foi na escuridão da gruta, foi que tudo aconteceu.

- O que mais ele te contou?

- Tudo, desde a igreja até o fogo que consumia Cristina e que você saia de dentro dele.

- E contou para polícia?

- Acho que não.

Mateus ficou por algum tempo pensando e depois relatou:

- Ele deve estar respeitando o trato com a minha mãe antes da sua morte.

- Não sei Mateus, só sei que não devemos ficar parados aqui enquanto a morte vem na direção de Antônio. Não acho justo um homem morrer sem o direito de se defender.

- Tem alguma idéia para tirar Antônio daquela prisão?

- Sim, uma emboscada na passagem do rio Capim.

- Parece uma boa idéia – relatou Mateus dizendo:

- Mataremos todos na passagem do rio.

- Não todos não, o delegado deve ficar vivo e o trocamos por Antônio. 

- Parece uma boa idéia.

- Tudo certo. Vou pra cidade tranqüilizar Antônio e o resto é com você.

- Deus te acompanhe Nivaldo. Foi um grande prazer te conhecer...

Nivaldo nem mesmo deu atenção para Mateus, pois o seu desejo era tirar o Antônio da cadeira...

- Preciso descobrir as minhas outras vidas, sinto que estou andando pelas mesmas estradas que já andei, será que sou mesmo o Joel!

De modo que Nivaldo foi pelas estradas que era acostumado passar quando ia se encontrar com Marta na ocasião que estavam namorando...

- Bem senhora Odete, já fui à cidade, visitei Antônio e depois fui à casa de Mateus. Combinamos uma emboscada na passagem do rio Capim quando o tal reforço que o soldado disse que virá da capital.

- E Mateus concordou?

- Sim, Antônio me contou que ele era o mascarado que seqüestrou sua filha Cristina.

- E o que ele fez com ela?

- Quando Antônio chegou à gruta do morro do lobo ele viu Mateus saindo de dentro do fogo que consumia Cristina.

- E por que Antônio não o entregou à polícia?

- Parece que Antônio fez um pacto de ser eternamente amigo de Mateus.

- Estou me lembrando Nivaldo. Desde o sumiço de Joel eu tenho andando com o pensamento meio vago.

Nivaldo percebia que estava falando com a sua mãe, contudo não podia dizer a ela que ele era o seu filho Joel, pois nem mesmo ele tinha certeza, só lhe restava ver onde aquilo ia dar.

De modo que meio triste relatou:

- Pois é senhora Odete, prometo à senhora que esta história não vai demorar muito para acabar...

- Deus te ouça Nivaldo, chega de tanto sofrimento, de tanta dor e saudades.

Já no dia seguinte...

- Obrigado por tudo senhora Odete, eu vou indo.

- Vai com Deus meu filho...

Nivaldo saiu estrada afora encantado com aquilo de ser imortal. Uma coisa difícil de viver. Pois não ter a condição de dizer o que é ou pensa que é. Estava mexendo com a sua vida. Por um lado queria te culpar por tudo aquilo que estava acontecendo, por outro nem mesmo sabia como teria chegado ali...

- Boa tarde. Amigo, será possível falar com Amélia.

- Vou anunciar a sua chegada senhor. Mas quem é o senhor?

- Nivaldo. Um pistoleiro profissional.

- Vou avisar a Senhorita Amélia, senhor.

Enquanto o capanga foi chamar a patroa, Nivaldo ficou murmurando:

- Será que sou mesmo o Joel, será que antes de eu ser Joel eu seria outra pessoa, será que sou imortal há muito tempo...

- Posso saber o que quer de mim senhor? – indagou Amélia que vinha chegando vestida como se fosse um pistoleiro.

- Nivaldo, senhorita. Este é o meu nome. E desde já posso afirmar que não tenho lembranças de ver uma mulher trajando de uma maneira tão elegante.

- Obrigada pistoleiro, mas o que deseja em minhas terras?

- Sou um pistoleiro profissional e estou resolvendo um grande problema para uma anciã.

- E onde eu entro nisso?

- Na verdade não sei, é que a coisa começou piorar partindo daqui. Joel sumiu. Marta a esposa dele avisou ao Antônio irmão de Joel e o pai deles o seu Pedro que Joel veio pra cá.    Assim os dois vieram e se depararam com o ignorante velho Alberto, mataram o velho, Lucas e Abdias mataram os filhos de Joel...

- Estou entendo – interrompeu Amélia dizendo:

- O que deseja de mim.

- Como dizia, Antônio está preso e prometi para senhora Odete que ele será libertado.

- Até agora não tenho nada a ver com isso.

- De certa forma não, mas onde fica a nossa honra.

- Que honra?

- De pistoleiros, estou ciente de que matou todos os que estavam aqui e tomou conta de tudo.

- O mundo é assim, estava andando sem rumo pelo mundo, não me lembro de muita coisa, só sei que quando cheguei aqui me deu vontade de tomar conta de tudo. Parecia que era o meu destino.

- E nem se lembra de onde veio?

- Não, acho que nem sou gente de verdade.

- Por que acha isso?

- Não tenho explicação. È uma coisa muito difícil de explicar.

Nivaldo agora sentia que não era só ele o imortal, que agora encontrou outra pessoa que parecia ser imortal. Até mesmo chegava a imaginar que Mateus também era um imortal, pois ele saiu de dentro do fogo sem se queimar como afirmou Antônio, de maneira que disse para Amélia:

- Já que se sente assim, porque não nos ajuda a libertar o Antônio.

- Tem algum plano?

- Sim, Mateus vai com seu bando emboscar o delegado que vem da capital para fazer o julgamento de Antônio, e o soldado aposta no enforcamento de Antônio.

- E onde será a emboscada?

- Na passagem do rio Capim.

- Farei o possível para ir.

- Está bem Amélia, foi um enorme prazer conhecer uma pessoa tão especial como você.

- Digo o mesmo Nivaldo...

Nivaldo saiu galopando em seu cavalo pelo caminho rumo à cidade, enquanto Amélia ficou olhando o caminho que ele seguia pensativa...

E já na cidade de Vazante lá num bar, Nivaldo observava o movimento dos pistoleiros que passavam por ali...

- Está esperando alguém pistoleiro? – indagou uma linda moça vestida igual a um pistoleiro.

- Não senhorita. Estou observando o movimento.

- Posso me assentar?

- É um prazer ter alguém tão importante em minha companhia.

- Como sabe que sou importante?

- Só de ver nos teus olhos, dá pra enxergar o quanto é importante.

- Parece um tanto cansado!

- É uma boa tarefa de trabalho.

- E de mistério também...

- E você é mais um deles, percebe que não é daqui.

- Meu caso é mais ou menos igual a seu, contudo sinto que você está mais situado do que eu.

- Entendo. Você deve ser...

- Prefiro que não fale, hoje estamos vivendo outras vidas. Somos completamente diferentes. Não sei se o que está pensando é o mesmo que estou. Por isso, faça de conta que seja, pois se não for, não saberemos. Pois quando não sabemos de nada que nos contraria somos felizes mesmo que estivermos enganados. Portanto vale mais um engano feliz do que muitas certezas sem felicidade.

- Posso saber o seu nome?

- Sim, não tenho muita certeza, mas acho que é Florisbela.

- Deve ter tido outros nomes, não é?

- Assim como você. Nomes esse que são trocados por querido, amor, meu amor...

- Mas como justifica para os imortais, a seu respeito.

- Digo que sou filha de um viajante que foi assassinado e que vivo a procura do assassino.

- Tem nome o homem que procura?

- Durvalino, é o homem que procuro.

Naquele momento que Nivaldo tentava descobrir quem era a moça imortal, surgiu um grupo de pistoleiros atirando uns nos outros...

- Vamos Florisbela, vamos sair desse local. Deixe que eles se entendam. Vamos até a cadeia comigo.

- O que tem lá que nos interessa?

- Antônio, uma coisa do passado.

- Não seria melhor depois que o dia amanhecer?

- Por quê?

- É que a noite os mortais dormem. Vamos dar uma de mortal nessa noite. Assim quem sabe, matarei esta saudade que sinto.

Nivaldo não pôde resistir à beleza de Florisbela. Acabou aceitando o convite e por fim se entregou aos carinhos da morena que lhe fazia lembrar alguém que tivera conhecido em outra vida...

- Vamos para o andar de cima, tenho um quarto alugado aí – convidou Nivaldo com alegria. É como se estivesse recebendo uma recompensa por o que estava fazendo.

Os dois subiram uma estreita escada que os conduzia à parte de cima da casa, enquanto olhavam os mortos estirados no chão do grande salão.

- É só você que está cuidando do caso de Antônio? – indagou Florisbela assentando na cama.

- Não Florisbela. Acho que Mateus e Amélia virão me ajudar.

Florisbela se sentia ainda mais tranqüila ao ouvir nomes que lhe pareciam fazer crer que ela era mesmo Marta e que Nivaldo era o seu querido Joel.

- Ficou contente quando falei de Mateus e Amélia!

- É. Parece-me que Antônio é muito querido. Ele merece.

Assim Nivaldo percebia que ele era o Joel e Florisbela se tratava de Marta...

- A noite já se foi Florisbela. Só me lembro de quando chegamos aqui.

- Eu também não me lembro de nada. É como se um passo de mágica explodisse em amor sem nunca me cansar de amar. Eu sempre estaria pronta e esperando todas as noites para mais um passo de fantasia e doces paixões.

- Já que está tão feliz assim, podemos ir juntos. Vamos ajudar Antônio a sair desse pesadelo.

O casal desceu a escada recebendo os olhares dos curiosos. Nivaldo pronunciou:

- Tudo bem pessoal?

Um pistoleiro mal encarado disse:

- Veio do meio dos infernos e fica curtindo com a cara da gente!

- Não entendi amigo!

- Você vai entender – informou o pistoleiro sacando da arma e atirando em Nivaldo.

Naquele instante o pistoleiro caiu no chão e o soldado disse:

- Fica calmo amigo, nunca se mata quem não morre.

Nivaldo vendo aquela sena relatou:

- Soldado, como vai o prisioneiro Antônio, e o delegado já chegou?

- Antônio vai bem, sempre perguntando por você. E o delegado deve chegar hoje.

Assim que o soldado falava, todos foram surpreendidos por um cavalo que veio direto para o bar e trazia sobre o seu arreio o corpo de um homem.

- Soldado, tem um soldado morto aqui! – exclamou um homem dizendo:

- Tem um bilhete aqui.

- Pode ler o bilhete – ordenou o soldado.

- Não. Leia o senhor mesmo soldado.

De modo que o soldado leu o bilhete e disse:

- Vamos comigo à delegacia pistoleiro imortal.

- É um prazer soldado, posso levar a minha amiga – relatou Nivaldo acompanhando o soldado.

- Como quiser.

De modo que o soldado foi chegando à delegacia e foi soltando Antônio e dizendo:

- Joaquim, Amarre o pistoleiro Antônio num cavalo. Vamos para a passagem do rio Capim, urgente.

- Somos nós dois de soldados, quem vamos deixar na delegacia?

- Ninguém. Não percebe que só sobrou a gente. Vamos. O povo da cidade cuida dela.

- E os outros presos?

- Pode soltar todos...

Joaquim amarrou Antônio sobre o cavalo. E ao ver muitas pessoas aglomerando na porta da delegacia. Disse:

- Américo, o povo está se rebelando.

Naquele momento o soldado Américo veio chegando com muitas armas nas mãos e disse:

- Vamos. Imortal, venha com sua amiga, vamos dar o fora dessa cidade.

- Não vai avisar ao povo da cidade o que está acontecendo – relatou Nivaldo.

De modo que o soldado relatou:

- Gente, um cavalo veio trazendo o corpo de um soldado acompanhado de um bilhete.

- E o que diz o bilhete?

- Temos que levar o prisioneiro Antônio para ser trocado pelo delegado que vinha da capital e foi aprisionado.

- E de quem é o bilhete? – indagou a multidão.

- Foi assinado por alguém que se diz o mascarado.

- Foi o que seqüestrou Cristina – gritou a multidão.

- Vamos gente – ordenou o soldado Américo.

De modo que saíram deixando a Vazante mergulhada no mistério do casamento de Lucas que estava inacabado.

- Está chegando perto do local Joaquim?

- Sim, podemos preparar a munição.

Todos pararam os cavalos e Antônio relatou:

- Nivaldo, pode me contar o que está acontecendo?

- Pergunte ao soldado Américo, ele deve saber, pois ele é o culpado por tudo.

- Não Antônio, eu não posso dizer nada. Não tenho coragem para isso.

- Já que o soldado não conta, eu também não posso contar Antônio, lamento amigo – informou Nivaldo.

Naquele instante veio chegando um bando de pistoleiros que vieram da cidade, dizendo:

- Estamos aqui para ajudar o soldado Américo, pois ele libertou os nossos presos e deixou a cidade em nossas mãos.

- Nivaldo, a coisa está ficando muito estranha pro meu gosto!

- Não vejo nado de estranho soldado, o que temos a fazer é ir ao encontro do mascarado, pois só assim ele irá libertar o delegado.

De modo que quando eles chegaram a tal passagem do rio Capim, avistaram Mateus do outro lado do rio.

- Soldado, mande Antônio atravessar o rio – ordenou o Mateus. 

- Quem é o mascarado?

- Sou eu.

- E o delegado. Onde está?

- Não estou brincando soldado, mande logo o prisioneiro, seu idiota.

Quando Mateus chamou o soldado de idiota, o homem se revoltou gritando:

- Atacar pessoal...

Assim num piscar de olhos a batalha começou. Naquele momento Nivaldo pôde matar a sua curiosidade ao ver a agilidade do famoso Mateus com seus revolveres nas mãos. Até comentava com Florisbela:

- Veja a rapidez de Mateus, está quase acabando com o bando de idiotas.

- E aquela jovem, como atira. Quem é ela?

- Amélia. Acho ser ela também uma imortal.

- E o Mateus também é imortal?

- Acho que sim. Antônio o viu sair de dentro das chamas sem se queimar.

Naquele momento o pobre Antônio foi atingido por vários tiros e acabou por ser arrastado pelas águas do rio Capim, da mesma forma que foi o Lucas, devorado pelas ferozes e famintas piranhas.

Mateus até que tentou salvar o amigo, porém não foi possível, os seus restos mortais já tinha desaparecido nas profundas águas do rio Capim.

- Cuidado Mateus! – exclamou Amélia.

Mateus virou para ver do que se tratava e encontrou o soldado Américo na mira infalível do seu revolver, que logo foi fazer companhia aos peixes no fundo do rio Capim. A ira de Mateus era tanta que em poucos segundos, o resto dos pistoleiros já estava nas profundezas das águas do rio Capim, e naquela dor gritava inconformado:

- Perdi o meu amigo, a única lembrança de minha mãe. A culpa é sua Nivaldo, foi você que arquitetou este plano infernal. Ficou o tempo todo de mãos abanando e não fez nada para nos ajudar.

- Acho que lhe ajudei o bastante Mateus. Afinal nem tudo está perdido. Se eu fosse você estaria feliz. Mesmo assim com tanta morte. Ainda lhe restaram a sua vida, a liberdade, o amor, a companhia de alguém e a riqueza. Amigos são coisas que vem e vão. Vamos pra sua casa Mateus, vamos festejar o fim desta batalha. Pois outras virão, e outras, outras...

De modo que todos foram para casa de Mateus como ordenou Nivaldo. Não eram muitos. Pois sobraram poucos depois que atiraram os mortos nas águas do rio Capim.

- Mateus, enquanto Florisbela fala um pouco com Amélia eu gostaria de lhe falar em particular.

- Não Nivaldo. Pode falar na presença de Amélia. Já disse pra ela o que penso de você.

- Mas o que pensa de mim Mateus?

- É fácil de explicar Nivaldo, mas não tenho coragem para tanto. Deixamos o não entendido por entendido.

Assim Nivaldo falou:

- Gostaria de pedir a você e Amélia em meu nome e no nome de Florisbela que cuidem do pequeno Joel...

Houve uma pequena pausa e emocionado Nivaldo continuou:

- Sim Mateus, dê ao pequeno Joel o que Marta e Joel não puderam dar. Um lar, carinho, e tudo que uma linda criança merece. Cuide também da velha Odete. Agradecemos a vocês do fundo de nossas almas.

- E o que devo dizer a ele sobre Nivaldo?

- Fale o que quiser. A partir de hoje tudo será por sua conte e de Amélia. Junte as fazendas e se case com Amélia. São só vocês dois. Vida nova, novo tempo. Novas gerações de imortais.

- Joel poderá me chamar de mãe, Nivaldo? – indagou Amélia.

- Pode. Ele será para sempre o filho de vocês.

- E eu agradecerei por isso Amélia – informou Florisbela.

- Bem Mateus, o nosso tempo aqui está no fim. Não sei se nos veremos novamente. Vamos Florisbela.

- Vamos Nivaldo.

E depois da quase interminável despedida, Nivaldo montou em seu cavalo e Florisbela no dela e saíram galopando no caminho que Joel passava quando ia se encontrar com Marta. Amélia e Mateus ficaram olhando-os até que viram os seus cavalos subindo os céus do sertão até que desaparecerem na imensidão do espaço. 

- Vamos Amélia – relatou Mateus abraçando Amélia e entrando na casa escondida de tudo lá nos confins do sertão.

 

FIM.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O Menino de Rua

  O MENINO DE RUA   JOÃO RODRIGUES               Na esquina de rua doze com a avenida vinte e três, alguém chorava...             - Por que ...