sábado, 29 de abril de 2023

O Leopardo João Rodrigues

 O LEOPARDO

 

JOÃO RODRIGUES

 

            O espetáculo estava muito animado, mesmo assim a criançada não se cansava de pedir aos seus pais um pouco de pipoca, pois até Marquinho pediu:

            - Pai, compra pipoca pra mim!

            - Pode ir comprar filho!

            Marquinho deixou o pai e sua mãe com sua irmãzinha e foi comprar pipoca, e, quando ia voltando ao seu lugar resolveu ir ver os animais que estavam nas jaulas...

            - Oi menino, oi menino!

            - Você conversa quem é você?

            - Eu sou um Leopardo.

            - Sim, eu sei que você é um Leopardo, contudo Leopardos não conversam.

            - Mas eu aprendi conversar, e gostaria que alguém me soltasse, sinto muita saudade da floresta, eu gostaria que me soltasse.

            - Mas eu não posso você é necessário ao circo, sem você as crianças não ficarão felizes.

            - Mas eu sinto muita falta da minha mãe, são muitos os Leopardos, outros poderão fazer as crianças felizes, solte-me, por favor!

            - Meu Deus o que devo fazer?

            - Sei o que você deve fazer.

            - O que Leopardo?

            - Soltar-me, eu gosto de você, como é mesmo o seu nome?

            - Marquinho.

            - Sim, Marquinho, eu sou o amigo Biriba, o Leopardo Biriba.

            - Está bem Biriba, eu vou te soltar.

Em instante Marquinho abriu a porta da jaula de Biriba e de repente ele disse:

            - Obrigado Marquinho, eu vou fugir para a floresta, não posso ficar aqui, um dia nos encontraremos na floresta.

            - Vá com Deus Biriba, vá com Deus.

            Biriba sumiu na escuridão e Marquinho voltou comendo a sua pipoca, de modo que quando chegou no local, o pai disse:

            - Você demorou filho, onde estava?

            - Estava vendo o espetáculo lá de trás papai.

            - Não pode demorar quando sair de perto do seu pai.

            Naquele instante um homem anunciava o espetáculo dizendo:

            - Atenção senhores pais, cuidado com os seus filhos, pois o Leopardo Biriba fugiu de sua jaula.

            - Ainda bem que você esta aqui filho.

            - É pai, mas o Leopardo deve ter ido embora.

            - É, deve ter ido, mas é perigoso um Leopardo solto por ai.

            Enquanto isso o dono do circo mandou anunciar que pagaria um grande prêmio pela captura do Leopardo.

            Marquinho ficou preocupado quando percebeu que muitos homens se prontificaram a irem a caça do Biriba.

            Logo a cidade estava repleta de caçadores que se armavam com os seus diversos recursos para prenderem o pobre Leopardo.

            - O senhor também vai caçar o Leopardo papai?

            - Não meu filho, eu não gosto de caçada.

            - Mas quanto ao prêmio papai?

            - Ninguém deva viver de jogo meu filho.

            - Mas prêmio não é jogo, é uma questão de competência, o melhor é quem conquista o prêmio, isso não é jogo.

            - Não filho, isso não entra na minha cabeça.

            - Está bem papai, mas eu gostaria de ir, só por eu ser filho do senhor é que não posso participar!

            - Isso mesmo filho, tal pai tal filho.

            - Mas isso não está certo.

            - Por quê Lina, você acha que não está certo?

            - Sim papai, Marquinho só por ser seu filho, não é necessariamente obrigado ser igual ao senhor.

            - Eu também concordo - argumentou Maria mãe de Marquinho e Lina.

            - Bem, já que é assim, o que querem que eu faça?

            - Vamos concorrer ao prêmio que o dono do circo está pagando pela captura do Biriba.

            - Biriba é muito bonito o nome do Leopardo.

          Marquinho nem deu atenção ao que Lina falou, a sua preocupação era de poder ir com o pai à procura do Leopardo, pois desde aquele momento que ele abriu a porta da jaula para lhe dar a liberdade, teria lhe dado um voto de extrema amizade e agora deixar que os caçadores trouxessem o coitado de volta, isso seria muito difícil para ele e também para o próprio Marquinho. A dor seria incomparável.

            - Mas ir à procura de Leopardo sem cachorros não vai adiantar Marquinho, vamos apenas perder tempo.

            - Não papai, quem sabe a gente o encontra.

            - Como meu filho! Feras são feras, têm a forma de vida diferente.

            - Eu sei papai, mas vamos entrar com o jipe pela estrada velha, é provável que o Biriba tenha seguido a estrada velha, assim a gente poderá encontrá-lo.

            Maria observava alguma coisa em Marquinho, pois seria essa a primeira vez que o menino se manifestava interessado em sair por ai à procura de uma fera.

            - Filho, por que tanto interesse para capturar o animal?

            - Nada em especial mãe.

            - Conte a mamãe filho, o que está acontecendo?

            - Marquinho, o que foi? Conte pra gente - argumentou Lina.

            - Sim filho, pode contar ao papai que farei o que for possível.

            De modo que Marquinho se viu na obrigação de contar a sua ação de bondade grandeza...

            - Meu filho! Então o Leopardo falou com você?

            - Sim papai, ele disse que gostaria de poder estar na floresta com seus irmãos, seus pais, de estar na floresta, e disse também que gostaria de ser meu amigo.

            - Que lindo - argumentou Lina.

            - Lindo mesmo! - exclamou Maria.

            - E então papai, vai me ajudar ou não?

            - O que você quer que o papai faça filho?

            - Prepara o carro papai, Lina, você fica com a mamãe que logo estaremos de volta.      Tim preparou o carro logo e logo...

            - O que vai fazer filho?

            - Vamos seguir pela estrada velha, ele deve ter seguido por ela,

            Enquanto os dois seguiam em meio de tantos caçadores, as duas ficaram torcendo para que o menino e o pai conseguissem encontrar o amigo Biriba.

            - Sinto que ele está muito longe a essas alturas papai.

            - Podemos ir então filho?

            - Sim papai, ele deve estar muito longe.

            E já depois de uns dez quilômetros Marquinho falou:

            - Papai, pára ai que vou dar uma olhada se ele passou por aqui.

            Marquinho desceu do carro e esperou que o som do motor se perdesse na floresta ele falou:

            - Papai, eu vou gritar, pode?

            - Pode filho, acho que nenhum caçador já está a essa altura.

            - Oooo Biribaaaaaaaá.

            Minutos depois o Leopardo bramiu a voz do seu amigo.

            - Ele respondeu papai, que barato, ele respondeu.

            - Vamos filho, ele está bem adiante.

            De maneira que na esperança de encontrar o seu amigo Leopardo, o Leopardo Biriba, Marquinho deixa transparecer em seu olhar a grande satisfação dizendo:

            - Ele responde papai, ele é meu amigo.

            E depois de uns três quilômetros Marquinho  pediu ao seu pai que parasse o carro e tornou a gritar.

            - Oooo Biribaaaaaá.

            Ali perto o seu amigo Leopardo bramiu.

            - Biriba, venha, sou eu, Marquinho, venha meu amigo.

            Ainda na escuridão Biriba chegou até Marquinho que passando a mão em seu pelo falou:

            - Vamos rápido, entre no carro que têm muitos caçadores atrás de você, vou te levar para muito distante.

            Em poucos minutos de viagem o corro encontravam outros carros que procuravam pelo pobre Leopardo.

            - Pra onde devemos ir Marquinho?

            - Vamos atravessar a fronteira do estado papai, e só no pé da serra do salitre é que devemos dar a liberdade a ele.

            - Não acha melhor a gente levar ele pra fazenda filho, assim cuidaremos dele um pouco e depois outro dia o levaremos embora?

            - Não papai, cuidar por cuidar o circo vive cuidando, o que ele precisa mesmo é de realizar o seu sonho.

            O sol do sertão já iluminava o mundo no pé da serra do salitre, o fazendeiro chegou com seu filho e o Leopardo Biriba.

            - Acho que aqui está bom papai, vamos deixar que Biriba ganhe a sua liberdade.

            Marquinho desceu do carro e foi até o Leopardo dizendo:

            - Biriba, aqui já está muito distante, você pode ganhar a floresta e ser livre eternamente, nunca vou me esquecer de você.

            - Obrigado Marquinho, não sei como vou poder retribuir tudo o que fez por mim e agradeço também ao seu pai.

            - Não tem nada que agradecer Biriba, nós estamos no mundo para um servir ao outro.

            - Obrigado senhor, cuide bem do meu amigo Marquinho, faça ele feliz que vou embora, sei que nunca mais terei amigos como vocês.

            Marquinho abraçou Biriba e os dois choraram Tim por sua vez abraçou o filho com a fera e falou:

            - Acho que é hora de ir, alguém pode nos ver aqui.

            De modo que Biriba ganhou a liberdade e foi viver com os seus familiares...

            Marquinho ficou por algum tempo parado olhando o seu amigo até que ele se escondeu à distância...

            - Vamos filho.

            Com os olhos lagrimados Marquinho falou com o pai:

            - Papai me de um abraço!

            Tim abraçou o filho e disse:

            - Tudo bem filho, cada um nasce de uma forma, uns são crianças, outros são Leopardos, outros são leões, outro...

            - Sei papai, por isso é que estamos aqui, porque somos gente, o ser humano, dotado de raciocínio.

            Os dois entraram no carro e seguiram a estrada de volta pra casa.

            - Sabe papai, o senhor não é capaz de imaginar o quanto estou feliz por ter libertado o Biriba.

            - Eu também estou filho.

            - Daqui a pouco o Biriba estará tomando banho nas águas límpidas, não precisa mais enfrentar aquela jaula imunda, passar o dia inteiro debaixo daquela lona quente, não, agora Biriba tem o azul do céu como sua lona.

            - É filho, e a sua jaula será toda a floresta.

            - Isso mesmo papai, ele irá escolher o tronco que ele bem quiser para dormir.

            - Vai filho, vai caçar...

            - Será que vai ser difícil para ele se alimentar papai?

            - Não filho, na floresta existe muitas espécies de animais.

            - Deus fez o mundo com toda perfeição, cada coisa no seu lugar, como é lindo a obra de Deus, heim papai!

            Tim olhando o filho e agradecido por Deus ter lhe confiando um menino tão inteligente respondeu:

            - Sim querido, como você, é uma perfeição divina.

            - Mas não somos papai, a maior perfeição de Deus, nós somos apenas uma coisa, apenas uma imensidão delas que Deus fez.

            Depois de um longo tempo de viagem...

            - Lá está a torre da igreja papai, estamos chegando à velha cidade de Carinhanha.

            - Velha mesmo filho.

            - Quantos anos serão que ela tem papai?

            - Dizem que já passou de quatrocentos anos.

            - E para isso mesmo papai, veja quantos muros velhos, quantas casas velhas...

            Tim chegou a casa e quando entrou encontrou Lina e Maria esperando-os na porta.

            Lina pulou nos braços do pai e disse:

            - Encontrou o Biriba papai?

            - Sim querida, nessas alturas ele já deve estar longe.

            Marquinho abraçou a mãe chorando e disse:

            - Ele se foi mamãe,  foi ser feliz com seus amiguinhos.

            Maria tomou o filho nos braços e disse:

            - Vamos almoçar?

            - Já é quase hora do jantar mamãe.

            - Mas pra nós ainda é almoço.

            - Lina, e na cidade tem algum comentário sobre o Biriba?

            - Tem Marquinho, muitos caçadores voltaram trazendo outras caças.

            - Eta povo perverso, aproveitam a oportunidade para matar os pobres animais indefesos.

            - Não fique assim filho, desde que o mundo e mundo, as pessoas sempre foram assim.

            - É mamãe, mas um dia tudo isso vai acabar.

            - Sim Marquinho, vai acabar mesmo  argumentou Lina.

            - Por que filho? - indagou Tim.

            - O homem papai, vai acabar com tudo.

            - E do jeito que vai é bem provável que acabará com ele próprio.

            - Vocês são ainda muito crianças para estarem preocupados com estas coisas.

            - Não sei por que mamãe, talvez seja por isso que o mundo chegou aonde chegou.

            - Isso mesmo Marquinho, se as mães soubessem educar os seus filhos no passado, não seria um bando de covardes.           

- Notou quando o homem do circo ofereceu o prêmio, quantos saíram em busca do pobre animal  argumentou Marquinho.

            - Sim filho, só por causa do dinheiro.

            - Sei papai, sei que é por causa do dinheiro, mas tem outras formas de ganhar dinheiro, não aprisionando os animais, tirando a liberdade dos coitados indefesos.

            Marquinho falava e comia dizendo:

            - Meu amigo Biriba, Deus que lhe ajude, que viva uma vida feliz.

            Quando terminaram de almoçar Lina falou:

            - Marquinho, vamos ver o filme que vai passar.

            - Qual o filme Lina?

            - Do escritor João Rodrigues.

            - Qual é o titulo?

            - Ainda não sei.

            - Então vamos.

            De modo que todos foram para a sala de televisão e Lina ligou o aparelho que...

            - Bem amiguinhos, esta é uma história muito emocionante com base no livro de João Rodrigues.

            Assim surgiu na tela e Lina acompanhando...

            - Marquinho e o Leopardo.

            - Sua história Marquinho! - falaram todos ao mesmo tempo.

            Marquinho, porém, não viu, pois estava dormindo e sonhando com o seu amigo Biriba lá na liberdade, se escondendo entre a relva, livre das mãos dos humanos...

Fim

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