O LEOPARDO
JOÃO RODRIGUES
O espetáculo estava muito animado, mesmo assim a criançada não se cansava de pedir aos seus pais um pouco de pipoca, pois até Marquinho pediu:
- Pai, compra pipoca pra mim!
- Pode ir comprar filho!
Marquinho deixou o pai e sua mãe com sua irmãzinha e foi comprar pipoca, e, quando ia voltando ao seu lugar resolveu ir ver os animais que estavam nas jaulas...
- Oi menino, oi menino!
- Você conversa quem é você?
- Eu sou um Leopardo.
- Sim, eu sei que você é um Leopardo, contudo Leopardos não conversam.
- Mas eu aprendi conversar, e gostaria que alguém me soltasse, sinto muita saudade da floresta, eu gostaria que me soltasse.
- Mas eu não posso você é necessário ao circo, sem você as crianças não ficarão felizes.
- Mas eu sinto muita falta da minha mãe, são muitos os Leopardos, outros poderão fazer as crianças felizes, solte-me, por favor!
- Meu Deus o que devo fazer?
- Sei o que você deve fazer.
- O que Leopardo?
- Soltar-me, eu gosto de você, como é mesmo o seu nome?
- Marquinho.
- Sim, Marquinho, eu sou o amigo Biriba, o Leopardo Biriba.
- Está bem Biriba, eu vou te soltar.
Em instante Marquinho abriu a porta da jaula de Biriba e de repente ele disse:
- Obrigado Marquinho, eu vou fugir para a floresta, não posso ficar aqui, um dia nos encontraremos na floresta.
- Vá com Deus Biriba, vá com Deus.
Biriba sumiu na escuridão e Marquinho voltou comendo a sua pipoca, de modo que quando chegou no local, o pai disse:
- Você demorou filho, onde estava?
- Estava vendo o espetáculo lá de trás papai.
- Não pode demorar quando sair de perto do seu pai.
Naquele instante um homem anunciava o espetáculo dizendo:
- Atenção senhores pais, cuidado com os seus filhos, pois o Leopardo Biriba fugiu de sua jaula.
- Ainda bem que você esta aqui filho.
- É pai, mas o Leopardo deve ter ido embora.
- É, deve ter ido, mas é perigoso um Leopardo solto por ai.
Enquanto isso o dono do circo mandou anunciar que pagaria um grande prêmio pela captura do Leopardo.
Marquinho ficou preocupado quando percebeu que muitos homens se prontificaram a irem a caça do Biriba.
Logo a cidade estava repleta de caçadores que se armavam com os seus diversos recursos para prenderem o pobre Leopardo.
- O senhor também vai caçar o Leopardo papai?
- Não meu filho, eu não gosto de caçada.
- Mas quanto ao prêmio papai?
- Ninguém deva viver de jogo meu filho.
- Mas prêmio não é jogo, é uma questão de competência, o melhor é quem conquista o prêmio, isso não é jogo.
- Não filho, isso não entra na minha cabeça.
- Está bem papai, mas eu gostaria de ir, só por eu ser filho do senhor é que não posso participar!
- Isso mesmo filho, tal pai tal filho.
- Mas isso não está certo.
- Por quê Lina, você acha que não está certo?
- Sim papai, Marquinho só por ser seu filho, não é necessariamente obrigado ser igual ao senhor.
- Eu também concordo - argumentou Maria mãe de Marquinho e Lina.
- Bem, já que é assim, o que querem que eu faça?
- Vamos concorrer ao prêmio que o dono do circo está pagando pela captura do Biriba.
- Biriba é muito bonito o nome do Leopardo.
Marquinho nem deu atenção ao que Lina falou, a sua preocupação era de poder ir com o pai à procura do Leopardo, pois desde aquele momento que ele abriu a porta da jaula para lhe dar a liberdade, teria lhe dado um voto de extrema amizade e agora deixar que os caçadores trouxessem o coitado de volta, isso seria muito difícil para ele e também para o próprio Marquinho. A dor seria incomparável.
- Mas ir à procura de Leopardo sem cachorros não vai adiantar Marquinho, vamos apenas perder tempo.
- Não papai, quem sabe a gente o encontra.
- Como meu filho! Feras são feras, têm a forma de vida diferente.
- Eu sei papai, mas vamos entrar com o jipe pela estrada velha, é provável que o Biriba tenha seguido a estrada velha, assim a gente poderá encontrá-lo.
Maria observava alguma coisa em Marquinho, pois seria essa a primeira vez que o menino se manifestava interessado em sair por ai à procura de uma fera.
- Filho, por que tanto interesse para capturar o animal?
- Nada em especial mãe.
- Conte a mamãe filho, o que está acontecendo?
- Marquinho, o que foi? Conte pra gente - argumentou Lina.
- Sim filho, pode contar ao papai que farei o que for possível.
De modo que Marquinho se viu na obrigação de contar a sua ação de bondade grandeza...
- Meu filho! Então o Leopardo falou com você?
- Sim papai, ele disse que gostaria de poder estar na floresta com seus irmãos, seus pais, de estar na floresta, e disse também que gostaria de ser meu amigo.
- Que lindo - argumentou Lina.
- Lindo mesmo! - exclamou Maria.
- E então papai, vai me ajudar ou não?
- O que você quer que o papai faça filho?
- Prepara o carro papai, Lina, você fica com a mamãe que logo estaremos de volta. Tim preparou o carro logo e logo...
- O que vai fazer filho?
- Vamos seguir pela estrada velha, ele deve ter seguido por ela,
Enquanto os dois seguiam em meio de tantos caçadores, as duas ficaram torcendo para que o menino e o pai conseguissem encontrar o amigo Biriba.
- Sinto que ele está muito longe a essas alturas papai.
- Podemos ir então filho?
- Sim papai, ele deve estar muito longe.
E já depois de uns dez quilômetros Marquinho falou:
- Papai, pára ai que vou dar uma olhada se ele passou por aqui.
Marquinho desceu do carro e esperou que o som do motor se perdesse na floresta ele falou:
- Papai, eu vou gritar, pode?
- Pode filho, acho que nenhum caçador já está a essa altura.
- Oooo Biribaaaaaaaá.
Minutos depois o Leopardo bramiu a voz do seu amigo.
- Ele respondeu papai, que barato, ele respondeu.
- Vamos filho, ele está bem adiante.
De maneira que na esperança de encontrar o seu amigo Leopardo, o Leopardo Biriba, Marquinho deixa transparecer em seu olhar a grande satisfação dizendo:
- Ele responde papai, ele é meu amigo.
E depois de uns três quilômetros Marquinho pediu ao seu pai que parasse o carro e tornou a gritar.
- Oooo Biribaaaaaá.
Ali perto o seu amigo Leopardo bramiu.
- Biriba, venha, sou eu, Marquinho, venha meu amigo.
Ainda na escuridão Biriba chegou até Marquinho que passando a mão em seu pelo falou:
- Vamos rápido, entre no carro que têm muitos caçadores atrás de você, vou te levar para muito distante.
Em poucos minutos de viagem o corro encontravam outros carros que procuravam pelo pobre Leopardo.
- Pra onde devemos ir Marquinho?
- Vamos atravessar a fronteira do estado papai, e só no pé da serra do salitre é que devemos dar a liberdade a ele.
- Não acha melhor a gente levar ele pra fazenda filho, assim cuidaremos dele um pouco e depois outro dia o levaremos embora?
- Não papai, cuidar por cuidar o circo vive cuidando, o que ele precisa mesmo é de realizar o seu sonho.
O sol do sertão já iluminava o mundo no pé da serra do salitre, o fazendeiro chegou com seu filho e o Leopardo Biriba.
- Acho que aqui está bom papai, vamos deixar que Biriba ganhe a sua liberdade.
Marquinho desceu do carro e foi até o Leopardo dizendo:
- Biriba, aqui já está muito distante, você pode ganhar a floresta e ser livre eternamente, nunca vou me esquecer de você.
- Obrigado Marquinho, não sei como vou poder retribuir tudo o que fez por mim e agradeço também ao seu pai.
- Não tem nada que agradecer Biriba, nós estamos no mundo para um servir ao outro.
- Obrigado senhor, cuide bem do meu amigo Marquinho, faça ele feliz que vou embora, sei que nunca mais terei amigos como vocês.
Marquinho abraçou Biriba e os dois choraram Tim por sua vez abraçou o filho com a fera e falou:
- Acho que é hora de ir, alguém pode nos ver aqui.
De modo que Biriba ganhou a liberdade e foi viver com os seus familiares...
Marquinho ficou por algum tempo parado olhando o seu amigo até que ele se escondeu à distância...
- Vamos filho.
Com os olhos lagrimados Marquinho falou com o pai:
- Papai me de um abraço!
Tim abraçou o filho e disse:
- Tudo bem filho, cada um nasce de uma forma, uns são crianças, outros são Leopardos, outros são leões, outro...
- Sei papai, por isso é que estamos aqui, porque somos gente, o ser humano, dotado de raciocínio.
Os dois entraram no carro e seguiram a estrada de volta pra casa.
- Sabe papai, o senhor não é capaz de imaginar o quanto estou feliz por ter libertado o Biriba.
- Eu também estou filho.
- Daqui a pouco o Biriba estará tomando banho nas águas límpidas, não precisa mais enfrentar aquela jaula imunda, passar o dia inteiro debaixo daquela lona quente, não, agora Biriba tem o azul do céu como sua lona.
- É filho, e a sua jaula será toda a floresta.
- Isso mesmo papai, ele irá escolher o tronco que ele bem quiser para dormir.
- Vai filho, vai caçar...
- Será que vai ser difícil para ele se alimentar papai?
- Não filho, na floresta existe muitas espécies de animais.
- Deus fez o mundo com toda perfeição, cada coisa no seu lugar, como é lindo a obra de Deus, heim papai!
Tim olhando o filho e agradecido por Deus ter lhe confiando um menino tão inteligente respondeu:
- Sim querido, como você, é uma perfeição divina.
- Mas não somos papai, a maior perfeição de Deus, nós somos apenas uma coisa, apenas uma imensidão delas que Deus fez.
Depois de um longo tempo de viagem...
- Lá está a torre da igreja papai, estamos chegando à velha cidade de Carinhanha.
- Velha mesmo filho.
- Quantos anos serão que ela tem papai?
- Dizem que já passou de quatrocentos anos.
- E para isso mesmo papai, veja quantos muros velhos, quantas casas velhas...
Tim chegou a casa e quando entrou encontrou Lina e Maria esperando-os na porta.
Lina pulou nos braços do pai e disse:
- Encontrou o Biriba papai?
- Sim querida, nessas alturas ele já deve estar longe.
Marquinho abraçou a mãe chorando e disse:
- Ele se foi mamãe, foi ser feliz com seus amiguinhos.
Maria tomou o filho nos braços e disse:
- Vamos almoçar?
- Já é quase hora do jantar mamãe.
- Mas pra nós ainda é almoço.
- Lina, e na cidade tem algum comentário sobre o Biriba?
- Tem Marquinho, muitos caçadores voltaram trazendo outras caças.
- Eta povo perverso, aproveitam a oportunidade para matar os pobres animais indefesos.
- Não fique assim filho, desde que o mundo e mundo, as pessoas sempre foram assim.
- É mamãe, mas um dia tudo isso vai acabar.
- Sim Marquinho, vai acabar mesmo argumentou Lina.
- Por que filho? - indagou Tim.
- O homem papai, vai acabar com tudo.
- E do jeito que vai é bem provável que acabará com ele próprio.
- Vocês são ainda muito crianças para estarem preocupados com estas coisas.
- Não sei por que mamãe, talvez seja por isso que o mundo chegou aonde chegou.
- Isso mesmo Marquinho, se as mães soubessem educar os seus filhos no passado, não seria um bando de covardes.
- Notou quando o homem do circo ofereceu o prêmio, quantos saíram em busca do pobre animal argumentou Marquinho.
- Sim filho, só por causa do dinheiro.
- Sei papai, sei que é por causa do dinheiro, mas tem outras formas de ganhar dinheiro, não aprisionando os animais, tirando a liberdade dos coitados indefesos.
Marquinho falava e comia dizendo:
- Meu amigo Biriba, Deus que lhe ajude, que viva uma vida feliz.
Quando terminaram de almoçar Lina falou:
- Marquinho, vamos ver o filme que vai passar.
- Qual o filme Lina?
- Do escritor João Rodrigues.
- Qual é o titulo?
- Ainda não sei.
- Então vamos.
De modo que todos foram para a sala de televisão e Lina ligou o aparelho que...
- Bem amiguinhos, esta é uma história muito emocionante com base no livro de João Rodrigues.
Assim surgiu na tela e Lina acompanhando...
- Marquinho e o Leopardo.
- Sua história Marquinho! - falaram todos ao mesmo tempo.
Marquinho, porém, não viu, pois estava dormindo e sonhando com o seu amigo Biriba lá na liberdade, se escondendo entre a relva, livre das mãos dos humanos...
Fim
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