O ARCO
JOÃO RODRIGUES
Saíram do passado
Por alguém jogado
No tempo da penitência
Nem mesmo com clemência
Eles puderam contar,
Morreram sem perdão
No campo da solidão
Sem carinho e sem amor
Mesmo sem respeitar o vento
Como um veneno qualquer
Podia ser homem ou mulher
Como crianças a chorar
Do arco cruel maldito
Sem qualquer veredicto
Sem justiça de ninguém,
Arco que não sei de quem
Vivia a atirar
Sinto em minha mente
O vento forte tocar
Ouça você também
O zumbido da morte
Igual uma chuva forte
Na tempestade vadia
Trazendo a chuva fria
No calor frio da alma
No fogo da chama calma
Apagando a caldeira
Perto do seu intento
Lá no tapete vermelho
Do sangue do sofrimento
Distante do Deus vivo
Na sobra do mentiroso
Que promete o que não tem
Em troca da maldição,
Na troca da ilusão
Na fúnebre canção
No caminho das trevas
Indo pra dentro do chão
No laço do destino
Badalando o sino
Na escuridão do ser,
Que não pode contar
Com a demão de ninguém
Pois antes o do pôr-do-sol
Do velho arco partiu
A luz do arco frio
Na brisa do desespero
Que apagando as lembranças
Deixando somente dor
Bem distante do amor
Separado pelo arco
Que atirou o pecado
Com a tocha do terror,
Na magia incomparável
Do braço sem afeto
Do pacto do pacto
De um combinado sem fim
Que só agrada um lado
Que se segue no caminho
Como o assoprar do vento,
Arco que não respeita
A forte onda do mar
Que choca contra as rochas
Parecendo um algodão
Feito de outro ser
Com doce e doce ilusão,
Arco que leva ao longe
As lembranças esquecidas
Atirando a sua vida
No tempo que já passou
Que retratou o momento
De alegria e dor,
Até que uns desejam
Ser ou ter o arco
Poder ver o passado
Repetindo novamente
Porém o arco levou
Como uma lágrima que cai
No resto feliz que chora
Numa criança indefesa
Mesmo com grande beleza
Sem saber o seu valor,
Tem isso como seu arco
Pra defender o seu ser
Ou avisar o perigo
A sua imaginação
Mesmo com arco
Ou sem arco do arco
Sem o remo ou sem o arco
No barco sem mar pra seguir
Como um assassino a fugir
Da busca policial
Que leva o arco farol
Do mandato de prisão
Em direção da prisão
A alma de alguém chora
Como a casa que não mora
Uma viva alma se quer,
Lá vejo lâmpada apagada
No poste da solidão
Que clareava a rua
Da cidade do ninguém
Pois bem depois do arco
Que vendeu o destino
No palácio assassino
De assassinos vadios
Que retém do poder
O direito de matar,
Por isso o arco da lei
Parece ter valor
No palácio do senhor
Dono da corrupção
Arco da maldição
Do maldito doutor
Conhecido como patrão,
Por outro o senhorio
Dono do barracão
Lá no final da rua
Ou do arco da pobreza
Que não comparo a tristeza
De quem atira sem fim,
Sem destino sem piedade
Se consumindo a maldade
Num coração sem temor
Sorriso sem aparência
Grito sem eminência
Como soldado sem farda
Perdido no campo de guerra
Morrendo por seu patrício
No desejo de poder
Se encontrar com a vitória
Assim a lagrima chora
Num choro de desespero
Tentando arranjar o tempero
Para paladar de sede
Na alma morta caída,
Do corpo forte e errante
No som da mente o berrante
Do gado que viajava
Deixando cair a poeira
Lá distante no sertão,
Cobrindo com suavidade
Os ramos com o seu pó
A terra faz parecer
O verdadeiro poder
Da mãe que acaricia
Seu filho nas suas entranhas
Do ventre de ilusão
Como um aperto de mão
De quem foi para distante
Levando em seu semblante
A dor doída da dor
De deixar o seu amor
Triste sem o seu carinho,
Seguindo o seu caminho
Em busca de um fazer
De uma razão sem poder
Descobrir a realidade,
Vejo o arco sem respeito
Se atirando a mesmo
Nas estradas da vida
Curvas pra todos os lados
Placas de contra-mão
Abismos em cada lado
Da estrada da solidão
Sem se importar o arco,
Faz o que bem quer
Atirando para sempre
O fim das alegrias
Até em madrugadas frias
O vento assopra a cortina
Se ouve gritos e uivados
De lobos devoradores
Próximos as casas dos senhores
Que repousam contentes
Parece a rua calma
Na casa calma da vida
Onde não se há briga
Pois abriga o poder
Não importa o sofrer
De quem vive a tremer,
A vingança no ser
Calcificado no ter
Com certeza a olhar
Estrelas a cintilar
No alto do céu contentes,
Naves correm em busca
De descobrir a ciência
Numa conquista sem razão
Correndo atrás do pão
Mendigos homens migalhas,
Conhecimentos do nada
Pelo arco da estrada
De um saber sem sentir
Sem rastro vão a seguir
No tempo vão a ir
Vão sempre sem parar
Deitados no vão da nave
Nas acolchoadas cadeiras
Presos no cinto forte
Que tentam livrar da morte
Mesmo morrendo aos poucos
Num sorriso de loucos
Se vê a lágrima caindo,
Pelos seus dias sumindo
Talvez em busca da fama
Na espera de alguém
Publicar o valor
No mudo papel da sorte
Que vai aparecendo
O retrato de viver
Na alegria em ser,
Conhecido sem saber
Que sabe quem sabe ter
Ao encontrar o nada
Na estrada do viver,
Que caminha a correr
Ou corre a caminhar
Sei que como um mel
Adoçando o desejo
Sinto sabor do beijo
No canto do sentir
Nesse canto a sorrir
Minha alma contente
Pede sempre o presente
Que nunca pude ganhar,
Meus olhos vêem a chorar
O rosto de alguém distante
Como um aviso do sol
Ou da lua perdida
Por entre nuvens tocadas
Na madrugada fria,
Quebrando o canto do ser
No quente braço do amor
No cheiro de uma flor
Do espinhoso galho da vida,
Lá bem distante
No jardim estão
Há anos no seu coração
Não sente o que senti
Sei que chorei que lembrei...
Fim
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