quinta-feira, 27 de abril de 2023

O ARCO João Rodrigues

 O ARCO

 

JOÃO RODRIGUES

 

Saíram do passado

Por alguém jogado

No tempo da penitência

Nem mesmo com clemência

Eles puderam contar,

 

Morreram sem perdão

No campo da solidão

Sem carinho e sem amor

Mesmo sem respeitar o vento

Como um veneno qualquer

Podia ser homem ou mulher

Como crianças a chorar

Do arco cruel maldito

Sem qualquer veredicto

Sem justiça  de ninguém,

 

Arco que não sei de quem

Vivia a atirar

Sinto em minha mente

O vento forte tocar

Ouça você também

O zumbido da morte

Igual uma chuva forte

Na tempestade vadia

Trazendo a chuva fria

No calor frio da alma

No fogo da chama calma

Apagando a caldeira

Perto do seu intento

Lá no tapete vermelho

Do sangue do sofrimento

Distante do Deus vivo

Na sobra do mentiroso

Que promete o que não tem

Em troca da maldição,

 

Na troca da ilusão

Na fúnebre canção

No caminho das trevas

Indo pra dentro do chão

No laço do destino

Badalando o sino

Na escuridão do ser,

 

Que não pode contar

Com a demão de ninguém

Pois antes o do pôr-do-sol

Do velho arco partiu

A luz do arco frio

Na brisa do desespero

Que apagando as lembranças

Deixando somente dor

Bem distante do amor

Separado pelo arco

Que atirou o pecado

Com a tocha do terror,

 

Na magia incomparável

Do braço sem afeto

Do pacto do pacto

De um combinado sem fim

Que só agrada um lado

Que se segue no caminho

Como o assoprar do vento,

 

Arco que não respeita

A forte onda do mar

Que choca contra as rochas

Parecendo um algodão

Feito de outro ser

Com doce e doce ilusão,

 

Arco que leva ao longe

As lembranças esquecidas

Atirando a sua vida

No tempo que já passou

Que retratou o momento

De alegria e dor,

Até que uns desejam

Ser ou ter o arco

Poder ver o passado

Repetindo novamente

Porém o arco levou

Como uma lágrima que cai

No resto feliz que chora

Numa criança indefesa

Mesmo com grande beleza

Sem saber o seu valor,

 

Tem isso como seu arco

Pra defender o seu ser

Ou avisar o perigo

A sua imaginação

Mesmo com arco

Ou sem arco do arco

Sem o remo ou sem o arco

No barco sem mar pra seguir

Como um assassino a fugir

Da busca policial

Que leva  o arco farol

Do mandato de prisão

Em direção da prisão

A alma de alguém chora

Como a casa que não mora

Uma viva alma se quer,

Lá vejo lâmpada apagada

No poste da solidão

Que clareava a rua

Da cidade do ninguém

Pois bem depois do arco

Que vendeu o destino

No palácio assassino

De assassinos vadios

Que retém do poder

O direito de matar,

 

Por isso o arco da lei

Parece ter valor

No palácio do senhor

Dono da corrupção

Arco da maldição

Do maldito doutor

Conhecido como patrão,

 

Por outro o senhorio

Dono do barracão

Lá no final da rua

Ou do arco da pobreza

Que não comparo a tristeza

De quem atira sem fim,

 

Sem destino sem piedade

Se consumindo a maldade

Num coração sem temor

Sorriso sem aparência

Grito sem eminência

Como soldado sem farda

Perdido no campo de guerra

Morrendo por seu patrício

No desejo de poder

Se encontrar com a vitória

Assim a lagrima chora

Num choro de desespero

Tentando arranjar o tempero

Para paladar de sede

Na alma morta caída,

 

Do corpo forte e errante

No som da mente o berrante

Do gado que viajava

Deixando cair a poeira

Lá distante no sertão,

 

Cobrindo com suavidade

Os ramos com o seu pó

A terra faz parecer

O verdadeiro poder

Da mãe que acaricia

Seu filho nas suas entranhas

Do ventre de ilusão

Como um aperto de mão

De quem foi para distante

Levando em seu semblante

A dor doída da dor

De deixar o seu amor

Triste sem o seu carinho,

 

Seguindo o seu caminho

Em busca de um fazer

De uma razão sem poder

Descobrir a realidade,

 

Vejo o arco sem respeito

Se atirando a mesmo

Nas estradas da vida

Curvas pra todos os lados

Placas de contra-mão

Abismos em cada lado

Da estrada da solidão

Sem se importar o arco,

 

Faz o que bem quer

Atirando para sempre

O fim das alegrias

Até em madrugadas frias

O vento assopra a cortina

Se ouve gritos e uivados

De lobos devoradores

Próximos as casas dos senhores

Que repousam contentes

Parece a rua calma

Na casa calma da vida

Onde não se há briga

Pois abriga o poder

Não importa o sofrer

De quem vive a tremer,

 

A vingança no ser

Calcificado no ter

Com certeza a olhar

Estrelas a cintilar

No alto do céu contentes,

 

Naves correm em busca

De descobrir a ciência

Numa conquista sem razão

Correndo atrás do pão

Mendigos homens migalhas,

 

Conhecimentos do nada

Pelo arco da estrada

De um saber sem sentir

Sem rastro vão a seguir

No tempo vão a ir

Vão sempre sem parar

Deitados no vão da nave

Nas acolchoadas cadeiras

Presos no cinto forte

Que tentam livrar da morte

Mesmo morrendo aos poucos

Num sorriso de loucos

Se vê a lágrima caindo,

 

Pelos seus dias sumindo

Talvez em busca da fama

Na espera de alguém

Publicar o valor

No mudo papel da sorte

Que vai aparecendo

O retrato de viver

Na alegria em ser,

 

Conhecido sem saber

Que sabe quem sabe ter

Ao encontrar o nada

Na estrada do viver,

 

Que caminha a correr

Ou corre a caminhar

Sei que como um mel

Adoçando o desejo

Sinto sabor do beijo

No canto do sentir

Nesse canto a sorrir

Minha alma contente

Pede sempre o presente

Que nunca pude ganhar,

 

Meus olhos vêem a chorar

O rosto de alguém distante

Como um aviso do sol

Ou da lua perdida

Por entre nuvens tocadas

Na madrugada fria,

 

Quebrando o canto do ser

No quente braço do amor

No cheiro de uma flor

Do espinhoso galho da vida,

 

Lá bem distante

No jardim estão

Há anos no seu coração

Não sente o que senti

Sei que chorei que lembrei...

 

Fim

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