quinta-feira, 27 de abril de 2023

O Conselho João Rodrigues

 O CONSELHO

 

JOÃO RODRIGUES

           

            Numa manhã de sol na fazenda das Baratas um lindo cavalo pampa esquipava margeando a cerca de uma roça até a porteira principal.       

            - Bom dia tio Zezinho.

            - Bom dia meu filho, que milagre você por aqui! E o compadre Manoel?

   - Está bem tio Zezinho. Mandou lembranças.

            - Obrigado filho. Vamos apiar!

            - A demora é curta tio Zezinho. Só vim mesmo pedir um conselho!

            - Conselho filho, o que está acontecendo?

            - Resolvi me casar tio Zezinho.

            - Isso é bom filho, me lembro quando me casei com sua tia, já fazem quarenta anos. Me lembro que matei um boi e como dele até hoje.

            Horozino ficou pensativo quando ouviu o tio Zezinho falar sobre  boi...

            - Vamos entrar filho, Filomena temos visita...

            Assim que Horozino entrou na casa do tio Zezinho foi recebido pela tia Filomena.

            - Como vai a comadre Maria?

            - Está bem tia Filomena. Mandou lembranças.

            - Obrigada filho. Fiquei a vontade, vou preparar um café.

            E já na mesa da sala Horozino e o casal de velhos tomavam café quando tio Zezinho falou:

            - E quem é a noiva filho?

            - Rosângela, filho de seu Paulo.

            - Ah! O homem do banco!

            - Ele já se aposentou tio.

            - Eu sei filho, fui eu que vendi aquelas terras pra ele.

            - Fez boa escolha Horozino - argumentou a dona Filomena.

            - Ele veio me pedir conselho Filomena!

            - Mas acho que já sei o que fazer tio Zezinho.

            - Fico feliz com isso filho. Sempre que precisar vamos estar aqui pra no que for necessário.

            Horozino se levantou da mesa e pediu a benção do tio Zezinho e da sua tia Filomena e se foi.

            - Tão novo e já vai se casar - argumentou o tio Zezinho abraçado com a sua fiel companheira de quarenta anos atrás.

            - Que não aconteça com eles o que nos aconteceu.

            - Não fique triste mulher, se Deus não nos deu filhos não vamos nos culpar por isso.

   De modo que o tempo passou...

   Numa tarde fria, o sol começava a se por lá no bem distante dos olhos do tio Zezinho que apartava os bezerros das vacas no seu pequeno curral.

             - Tio Zezinho!

            Assustado o velho camponês levantou os seus olhos e avistou um homem vestido de preto, montado num grande cavalo preto...

            - É você filho?

             - Em carne e osso tio Zezinho.

            - Está com uma voz diferente?

            - O senhor sabe que na nossa lei o mentiroso não pode continuar vivo?

            - Sei filho, e que deve ser executado pela pessoa prejudicada.

            - E eu sou essa pessoa tio Zezinho.

             - Mas deve saber que o mentiroso tem o direito de saber todos os detalhes da sua mentira.

            - Estou ciente tio Zezinho.

            - Mas antes de me explicar, eu gostaria de saber como foi o seu casamento. Pois nem mesmo fui convidado.

            - Foi muito bem e seria se não fosse a mentira que me contou.

            - Pode ser mais claro meu filho?

            - Sim. O senhor me disse que quando se casou com a tia Filomena matou um boi e que come dele até nos dias de hoje!

            - E confirmo meu filho.

            - Não consigo entender a mente dos mentirosos tio Zezinho!

            - O que está tão desconfiado do meu conselho filho?

            - É que no dia em que me casei com ela matei seis touros e não durou um ano. Como pode o seu boi ter durado quarenta anos tio Zezinho!

            - Pode crer meu filho, é a mais pura verdade.

            - Não consigo entender tio Zezinho.

            Naquele momento em que tio e sobrinho falavam lá ao longe na estrada vinha o garoto na dispara em seu cavalo.

            - O seu sofrimento está chegando ao fim meu filho.

            - Não sei como tio Zezinho!

            - Apeia do seu cavalo e entra um pouco.

            - Não devo fazer isso tio Zezinho, lei é lei.

            Antes de Horozino terminar de falar o pequeno cavaleiro que chegou disse:  

              - Seu Zezinho, vim trazer um fresco que o meu pai mandou.

            - Obrigado Marcos, e agradeça ao compadre João por se lembrar de mim.

            - Nunca iremos esquecer o que o senhor já fez por nós seu Zezinho.

             - Que nada filho, não fiz nada além da minha obrigação.

            - Seu benção seu Zezinho, já vou indo, pois a noite vai ser muito escura e eu estou sem lanterna.

            - Vai com Deus meu filho. Leve minhas lembranças ao compadre. E mais uma vez muito obrigado.

            E assim que o pequeno Marcos se foi tio Zezinho disse:

            - Como disse filho, apeia do seu cavalo preto e aproveita pra comer comigo um pedaço do meu boi que matei há mais de quarenta anos atrás.

            Horozino meio confuso desmontou do seu possante cavalo e falou:

             - Um pedaço do seu boi tio Zezinho

            - Sim filho. Acabou de chegar. Por falar nisso meu filho, vamos entrar. Filomena, temos visita.

            De modo que tio Zezinho deu o pedaço de carne pra sua mulher e falou:

            - Prepare esse pedaço do nosso boi pra que o nosso sobrinho possa compartilhar com a gente da nossa alegria e satisfação por Deus nos ter confiado a sua bondade.

            Algum tempo depois a casa do tio Zezinho estava perfumada com o aroma inigualável do tempero da dona Filomena e em seguida o tio Zezinho falou:

            - Vamos nos assentar filho. Seja bem vindo à nossa mesa. E coma um pedaço do meu boi. E por falar nisso filho, o que fez com os seus seis touros que matou no dia do seu casamento?

            - Salgamos e fritamos a carne, depois colocamos em latas com gordura pra não estragar...

            - E foram comendo - interrompeu o velho dizendo:

            - Sei que na minha lua de mel com sua tia, só nos sobrou os ossos do nosso boi. Filomena fez um pirão para nós. Como foi gostoso filho, não só o pirão como a alegria de poder mandar cada pedaço dele para os nossos amigos. Assim, até hoje quando eles matam os seus bois, mandam o meu pedaço de volta.

 

Fim    

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O Menino de Rua

  O MENINO DE RUA   JOÃO RODRIGUES               Na esquina de rua doze com a avenida vinte e três, alguém chorava...             - Por que ...