O CONSELHO
JOÃO RODRIGUES
Numa manhã de sol na fazenda das Baratas um lindo cavalo pampa esquipava margeando a cerca de uma roça até a porteira principal.
- Bom dia tio Zezinho.
- Bom dia meu filho, que milagre você por aqui! E o compadre Manoel?
- Está bem tio Zezinho. Mandou lembranças.
- Obrigado filho. Vamos apiar!
- A demora é curta tio Zezinho. Só vim mesmo pedir um conselho!
- Conselho filho, o que está acontecendo?
- Resolvi me casar tio Zezinho.
- Isso é bom filho, me lembro quando me casei com sua tia, já fazem quarenta anos. Me lembro que matei um boi e como dele até hoje.
Horozino ficou pensativo quando ouviu o tio Zezinho falar sobre boi...
- Vamos entrar filho, Filomena temos visita...
Assim que Horozino entrou na casa do tio Zezinho foi recebido pela tia Filomena.
- Como vai a comadre Maria?
- Está bem tia Filomena. Mandou lembranças.
- Obrigada filho. Fiquei a vontade, vou preparar um café.
E já na mesa da sala Horozino e o casal de velhos tomavam café quando tio Zezinho falou:
- E quem é a noiva filho?
- Rosângela, filho de seu Paulo.
- Ah! O homem do banco!
- Ele já se aposentou tio.
- Eu sei filho, fui eu que vendi aquelas terras pra ele.
- Fez boa escolha Horozino - argumentou a dona Filomena.
- Ele veio me pedir conselho Filomena!
- Mas acho que já sei o que fazer tio Zezinho.
- Fico feliz com isso filho. Sempre que precisar vamos estar aqui pra no que for necessário.
Horozino se levantou da mesa e pediu a benção do tio Zezinho e da sua tia Filomena e se foi.
- Tão novo e já vai se casar - argumentou o tio Zezinho abraçado com a sua fiel companheira de quarenta anos atrás.
- Que não aconteça com eles o que nos aconteceu.
- Não fique triste mulher, se Deus não nos deu filhos não vamos nos culpar por isso.
De modo que o tempo passou...
Numa tarde fria, o sol começava a se por lá no bem distante dos olhos do tio Zezinho que apartava os bezerros das vacas no seu pequeno curral.
- Tio Zezinho!
Assustado o velho camponês levantou os seus olhos e avistou um homem vestido de preto, montado num grande cavalo preto...
- É você filho?
- Em carne e osso tio Zezinho.
- Está com uma voz diferente?
- O senhor sabe que na nossa lei o mentiroso não pode continuar vivo?
- Sei filho, e que deve ser executado pela pessoa prejudicada.
- E eu sou essa pessoa tio Zezinho.
- Mas deve saber que o mentiroso tem o direito de saber todos os detalhes da sua mentira.
- Estou ciente tio Zezinho.
- Mas antes de me explicar, eu gostaria de saber como foi o seu casamento. Pois nem mesmo fui convidado.
- Foi muito bem e seria se não fosse a mentira que me contou.
- Pode ser mais claro meu filho?
- Sim. O senhor me disse que quando se casou com a tia Filomena matou um boi e que come dele até nos dias de hoje!
- E confirmo meu filho.
- Não consigo entender a mente dos mentirosos tio Zezinho!
- O que está tão desconfiado do meu conselho filho?
- É que no dia em que me casei com ela matei seis touros e não durou um ano. Como pode o seu boi ter durado quarenta anos tio Zezinho!
- Pode crer meu filho, é a mais pura verdade.
- Não consigo entender tio Zezinho.
Naquele momento em que tio e sobrinho falavam lá ao longe na estrada vinha o garoto na dispara em seu cavalo.
- O seu sofrimento está chegando ao fim meu filho.
- Não sei como tio Zezinho!
- Apeia do seu cavalo e entra um pouco.
- Não devo fazer isso tio Zezinho, lei é lei.
Antes de Horozino terminar de falar o pequeno cavaleiro que chegou disse:
- Seu Zezinho, vim trazer um fresco que o meu pai mandou.
- Obrigado Marcos, e agradeça ao compadre João por se lembrar de mim.
- Nunca iremos esquecer o que o senhor já fez por nós seu Zezinho.
- Que nada filho, não fiz nada além da minha obrigação.
- Seu benção seu Zezinho, já vou indo, pois a noite vai ser muito escura e eu estou sem lanterna.
- Vai com Deus meu filho. Leve minhas lembranças ao compadre. E mais uma vez muito obrigado.
E assim que o pequeno Marcos se foi tio Zezinho disse:
- Como disse filho, apeia do seu cavalo preto e aproveita pra comer comigo um pedaço do meu boi que matei há mais de quarenta anos atrás.
Horozino meio confuso desmontou do seu possante cavalo e falou:
- Um pedaço do seu boi tio Zezinho
- Sim filho. Acabou de chegar. Por falar nisso meu filho, vamos entrar. Filomena, temos visita.
De modo que tio Zezinho deu o pedaço de carne pra sua mulher e falou:
- Prepare esse pedaço do nosso boi pra que o nosso sobrinho possa compartilhar com a gente da nossa alegria e satisfação por Deus nos ter confiado a sua bondade.
Algum tempo depois a casa do tio Zezinho estava perfumada com o aroma inigualável do tempero da dona Filomena e em seguida o tio Zezinho falou:
- Vamos nos assentar filho. Seja bem vindo à nossa mesa. E coma um pedaço do meu boi. E por falar nisso filho, o que fez com os seus seis touros que matou no dia do seu casamento?
- Salgamos e fritamos a carne, depois colocamos em latas com gordura pra não estragar...
- E foram comendo - interrompeu o velho dizendo:
- Sei que na minha lua de mel com sua tia, só nos sobrou os ossos do nosso boi. Filomena fez um pirão para nós. Como foi gostoso filho, não só o pirão como a alegria de poder mandar cada pedaço dele para os nossos amigos. Assim, até hoje quando eles matam os seus bois, mandam o meu pedaço de volta.
Fim
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