quinta-feira, 27 de abril de 2023

O Alfabeto João Rodrigues

 O ALFABETO

 

JOÃO RODRIGUES

 

            Certo dia em sua casa, o menino Marquinho brincava com seus carrinhos e de repente dormiu. O sono profundo lhe conduziu à professora Eme, que o convidou a procurar as letras do alfabeto.

            - Procurar as letras do alfabeto, professora!

            - Sim Marquinho, é com as letras do alfabeto que se escreve o que falamos.

            - E onde vamos encontrá-las?

            - Na estrada do saber.

            - Fica longe esta estrada, professora?

            - Não, é aquela ali, ah! Lá está a letra “A”.

            - Parece uma casinha.

            - Bom dia  “A”, como vai?

            - Eu vou bem professora, e quem é este menino?

            - É Marquinho, meu aluno.

            - É um prazer Marquinho, eu sou “A”, a primeira letra do alfabeto.

            - Igualmente “A”, você é muito bonita, olhe vem vindo alguém!

            - Deve ser “B” - respondeu a Professora.

            - “B” é a segunda letra “a”? - Indagou Marquinho.

            - É Marquinho - respondeu “A” andando com o menino e a professora.

            - Oi gente! Pra onde está indo?  Perguntou “B”.

            - Estamos indo com Marquinho “B” procurar as letras do alfabeto, quer dizer, procurar vocês - informou a professora Eme.

            - Mas o Marquinho não conhece a gente?

            - Não “B”, eu não conheço ninguém a não serem vocês duas.

            - Então vamos procurar as demais letras pra você.

            - Obrigado “B”.

            “A” e “B” saíram com a professora e Marquinho, andando estrada afora em busca das outras letras.

            - Professora, qual a próxima letra agora?

            - É o “C” Marquinho, veja lá! Ela está em cima de uma árvore.

            - Desça daí “C”! Precisamos falar com você - ordenou “A”.

            “C” desceu da árvore e cumprimentou todos dizendo:

            - Pra onde Vão assim com estas caras?

            - Estamos procurando as letras do alfabeto para apresentá-las ao  Marquinho.

            - Oi Marquinho, eu sou o “C”, a terceira letra do alfabeto.

            - Já me falaram “C”, e porque estava em cima da árvore?

            - Olhando a floresta, você não gosta da floresta?

            - Gosto. Eu adoro a floresta, mas não vou subir na árvore, é perigoso, eu posso cair!

            Naquele momento alguém gritou...

            - Ei gente! Espere por mim!...

            Todos olharam assustados...

            - Só podia ser você “D” - argumentou “A”.

            - Para onde vocês estão indo assim com estas caras bonitas?

            - Vamos procurar as letras do alfabeto para apresentá-las ao Marquinho - respondeu a professora Eme.

            - Então vamos Marquinho, eu gostei muito de você!

            - Eu também “D”, você é a quarta letra do alfabeto, não é?

            - Sou Marquinho, como você sabe?

            - Foi só um palpite.

            - Mas acertou, isto é importante.

            - Como é Marquinho, está gostando do passeio?

            - Estou professora, é muito importante a floresta verde, as cachoeiras, os rios, as aves voando livres...

            - Agora Marquinho, nós vamos atravessar o rio, num barco.

            - Quem vai remar “B”?

            - Eu ajudo Marquinho - interrompeu “C”.

            - O barco leva todo mundo professora?

            - Leva, mas temos que ter muito cuidado.

            Marquinho morrendo de medo entrou no barco para atravessar o rio, mas quando ia ao meio do caminho...

            - Volte gente! Eu também quero ir!

            - Quem está gritando professora?

            - Só pode ser “E” - respondeu “B”.

            - Se quiser venha nadando “E” - ordenou “A”.

            - Não “A”, nós não podemos fazer isso, nós devemos ser amigos, vamos voltar e apanhá-la.

            - Está bem Marquinho, vamos voltar.

            - Obrigada Marquinho, você é um menino muito bonito.

            - De nada “E”, eu só fiz o que todos devem fazer.

            - Mas não é assim que todos fazem Marquinho, são poucos os que  pensam como você!

            - Mas no futuro “E”, todos vão ter o mesmo pensamento e todos nós  haveremos de viver felizes, uns ajudando os outros a solucionar os seus problemas.

            - Estou gostando de te ouvir Marquinho, hoje você vai ganhar nota dez.

            - E ser dispensado do para-casa, não é professora?

            - Não é motivo pra isso Marquinho, para menino inteligente, não há dificuldade no dever de casa!

            - Estou brincando professora, afinal de contas a gente não pode viver pensando só em coisas sérias, temos que brincar de vez em quando.

            - Tudo bem, mas não com coisa séria. Estudo é uma coisa muito séria.

            - Professora, mudando de assunto, quem vamos procurar agora?

            - Eu - respondeu “F” em lugar da professora, segurando a proa do barco para ancorar no porto.

            - Você - relatou Marquinho indagando:

            - E quem é você?

            - Sou “F”, a sexta letra do alfabeto.

            - Vocês vão sujar os pés de barro, deixe-me colocar uma tábua pra vocês descerem.

            - Obrigado “G”, você teve uma boa idéia.          

Quando Marquinho descia do barco, segurando na mão de “G”, disse:

            - “G”, por que se chama ”G”?

            - Não sei Marquinho, todos nós temos nome para podermos nos separar entre os demais, pois eu estava ouvindo lhe chamarem de Marquinho, por isso já pude lhe chamar de Marquinho, e você me chamar de ”G”.

            - “G”, você é a sétima letra do alfabeto, não é?

            - Sou Marquinho.

            - Por que você não é a primeira?

            - Todos nós Marquinho, quando nascemos nos dão um nome e uma classificação, dependendo de nosso grupo. Por isso é que me chamo “g”, e sou a sétima do meu grupo.

            - Vamos gente, andando e falando, pois o tempo está passando - argumentou a professora Eme subindo a rampa do porto e indo em direção a uma grande área gramada.

            - Professora, que lindo gramado, pode andar nele?  - indagou Marquinho.

            - Podemos Marquinho, este gramado é natural!

            - Quer dizer que ninguém o plantou?

            - Não Marquinho, ele nasceu naturalmente, veja como está lindo!

            - Cuidado com cobra nesta grama gente!

            - Vamos ter cuidado, ”H” e o que está fazendo deitado aí? - Perguntou “A” com curiosidade.

            - Só estou descansando um pouco...

            - Está cansada do quê ”H”? - perguntou Marquinho.

            - Sei lá menino, e quem é você?

            - Este é o Marquinho, “H”! -  Exclamou a professora Eme.

            - É um prazer Marquinho, seja bem-vindo ao nosso lar.

            - Que lar você se referiu “H”?

            - Ela se referiu ao lugar que gostamos de brincar! - Exclamou “I”, levantando do meio do gramado.

            - Vocês são muitas! Vejam quantas já têm. Fiquem aqui enfileiradas da mesma forma que as encontramos!

            - O que quer com isso Marquinho? - Perguntou a professora.

            - Só curiosidade professora, ou não posso?

            - Pode, fique á vontade!

            - Assim as letras se puseram uma ao lado da outra da forma que Marquinho as encontrou, porém ele disse:

            - Vem “a,b,c,d,e,f,g,h e i”, professora, já acabaram?

            - As que nós encontramos já, mas, ainda faltam muitas letras.

            - E quantas são?

            - São muitas, você vai ver.

            - Vamos Marquinho, você não quer deixar a gente aqui parecendo soldados! - Exclamou “I” saindo da fileira.

            - Desculpe “I”, eu só queria conhecê-las um pouco melhor.

            - Vai ter tempo Marquinho, pra você conhecê-las.

            - Ta bom professora, então vamos.

            E a viagem continuou...

            - Que lugar estranho professora, está tudo queimando!

            - É a nossa roça Marquinho - informou “J” saindo detrás de umas árvores caídas no chão, derrubadas pelo fogo.

            - Como sabe o meu nome letra malvada, letra destruidora da natureza!

            - Ouvi lhe chamarem de Marquinho, e eu não sou nenhuma letra malvada, sou a letra “J”.

            - Peça desculpa a ela Marquinho, ninguém pode ser assim, tem que saber o motivo pra poder julgar.

            - Mas, diante de tanta cinza, a senhora ainda quer motivo professora!

            - Elas puseram fogo no mato pra poder plantar milho, feijão, arroz, batata etc.

            - Vem vindo um furacão!

            - Corram amigos, que “K” avisou do perigo  -  alertou “B”.

            Marquinho olhou pro lado que veio o grito e avistou”K” correndo e trazendo outra letra nas costas. No céu já formava uma grande nuvem de cinza que o furacão vinha arrastando.

            - Venha Marquinho! - Argumentou a professora apanhando-o e correndo para o abrigo, junto com as letras.

            Logo passou o furacão e todos saíram do abrigo sorrindo de alegria por nada ter acontecido. Enquanto isso Marquinho disse:

            - “K”, quem foi que você trouxe?

            - Fui eu - respondeu “L” cumprimentando Marquinho.

            - O que você tem “L”?

            - Nós brigamos - respondeu “M”, que vinha chegando montada num pônei.

            Naquele instante, Marquinho, ao ver o pônei, ficou delirando de alegria e disse:

            - Que cavalinho engraçado, deixe-me montar “M”?

            - Ele não é meu, é de “N”, só ela pode deixar!

            - E onde está “N”?  

- Lá em casa.

            - Então é bom que vamos pra lá todo mundo. Já é hora do almoço!

            - Almoço! Vocês também comem, “C”?

            - Comemos Marquinho, nós somos letras de verdade aqui no nosso mundo, mas lá no seu, nós somos letras do alfabeto que vocês escrevem o que falam.

            - Então nós estamos em outro mundo “D”?

            - Sim, estamos no mundo da sabedoria. Aqui a gente come, brinca, dorme, sonha, e somos livres!

            E logo entraram na casa. Marquinho só queria saber quem era “N”.

            - “N”, quem é você?

            Saindo de dentro da mágica casinha, “N” disse:

            - Pois não menino, quem é você?

            - Sou o Marquinho e gostaria que me emprestasse o seu pônei. Quero dar uma volta.

            - Tudo bem Marquinho, vá, mas leve “O” com você.

            - Então vamos “O”.

            Marquinho montou no pônei e “O” saiu puxando para ele. Logo depois de uma grande passeada pela floresta, chegaram junto com “P”, que estava apanhando lenha pra acender o fogão.

            - Entre pra cá Marquinho, o almoço está pronto.

            - Afinal, quem é você que já sabe até meu nome?

            - Eu sou “Q” marquinho, foi “E” quem me disse o seu nome!

            - Professora, foi muito bom o passeio de pônei.

            - É isso aí Marquinho, a gente tem mesmo é que desfrutar das oportunidades na vida.

            “R”, venha conhecer Marquinho - chamou a professora Eme.

            - Oi Marquinho, você é muito bonito!

            - Que nada “R”, não sei onde você está vendo tanta beleza!

            - Ei morador!...

            - Está chamando lá fora  -  argumentou “J”.

            - Vá ver que é “P”.

            - Deixe que eu vou “H”  -  argumentou “A”.

            Naquele momento, entrou dentro da casa a letra “s” com a roupa rasgada...

            - O que foi “s”?  Indagou “c”.

            - Eu caí do cavalo.

            - Coitada!  - Exclamou marquinho.        

- Que menino é este, fique, está com pena de mim?

            - Ele é Marquinho “S”. O meu aluno informou a professora.

- Obrigada marquinho por se preocupar comigo.

- De nada “s”, e o cavalo onde está?

- “T” foi ver se conseguia pega-lo.

Enquanto marquinho conversava com “s” e as demais letras...

- “S”, venha ver seu cavalo.  Gritou “t” que acabava de chegar.

- Deixe-me ir com você “s”, eu adoro cavalos.  Pediu marquinho.

- Está ai seu cavalo doido “s”!

- Obrigado “t”. Quem lhe ajudou pega-lo?

- Fui eu.  Argumentou “u”.

- E eu também.  Interrompeu “v”.

- Bonito seu cavalo “s”, posso dar uma volta?

- Não marquinho, ele é muito perigoso.  Retrucou a professora.

- Então eu quero ir embora pra minha casa.

- Ainda não conhecemos todas as letras.

- Mas, onde elas estão?

- Foram caçar, e só voltam a noite  informou “i”.

Depois do almoço todos foram dormir. Marquinho aproveitou o cochilo da professora e saiu de mansinho. Montou no cavalo de “s” e saiu estrada afora. 

                                                                       - Vamos cavalo, eu sempre tive vontade de andar a cavalo pela floresta.

            Não sabia Marquinho o perigo que estava correndo.

            - Devagar amigão - Argumentou Marquinho, quando o cavalo começou a correr.

            - Devagar! Devagar!

            Mas de nada adiantou, o cavalo disparou e Marquinho perdeu o controle, acabando por cair sobre a relva...

            - Volte aqui seu cavalo doido, volte!...

            Marquinho gritava e chorava lá no meio da floresta, sem ninguém do seu lado.

            - Pra que fui apanhar este monstro - lamentava Marquinho, perdido no mato.

            O sol já se punha no horizonte, a professora e as demais letras desesperadas procuravam por Marquinho, mas só encontraram o cavalo, assim a tristeza invadia o coração de cada uma, pois onde estaria o Marquinho...

            - Ei gente, eu quero minha professora!

            Gritava Marquinho, já perdido na escuridão.

            Naquele instante Marquinho avistou uma luz. Os seus olhos se encheram de lágrimas e o coração de esperança, e disse:

            - Venha cá luz, não me deixe na escuridão.

            A luz se aproximou e disse:

            - Quem é você e o que quer?

            - Eu sou Marquinho, um aluno da professora Eme.

            - Ah! Já ouvi falar de você, o que está fazendo aqui a essa hora?

            - Foi o cavalo de “S”.

            - O cavalo de “S”, então você conhece “S”?

            - Conheço, ela é minha amiga.

            - Então quero ser sua amiga também.

            - Por que, quem é você?

            - Sou “W”. Uma das letras do alfabeto!

            Naquele momento Marquinho abraçou “W” e disse:

            - Minha querida “W”, eu gosto de você.

            - Quem esta aí com você “W”?

            - É o Marquinho “X”.

            - Um aluno da professora Eme?

            - Sim, “X” sou um aluno fujão.

            - Não fique triste Marquinho, vamos pra casa.

            Marquinho mais aliviado saiu andando com “w” e “x” que chegaram na estrada onde “Y” estava esperando.

            - Que menino é este? Onde o encontraram?   - Sou Marquinho “Y”, um aluno da professora Eme.

            - Está passeado, Marquinho?  - Indagou “Y”.

            - Sim, eu e a professora viemos procurar vocês, eu queria conhecê-las.

            - Esperem gente!

            - Vamos “Z”, por que foi que demorou?  - Perguntou “W”.

            - Estas caças estão muito pesadas.

            - Deixe-me lhe ajudar - prontificou Marquinho.

            - Você! E quem é você?

            - Ele é Marquinho, “Z”!  - exclamou “W”.

            - Ah! Mais um aluno da professora Eme.

            - Sim “Z”, mais um - Confirmou Marquinho.

            - Um prazer Marquinho, eu sou a última letra do alfabeto.

            - Você é a última? Oba! Então acabou?

            - Certo Marquinho, acabou e vamos embora - respondeu a professora que vinha chegando a meio a escuridão.

            Marquinho abraçou a professora e disse:

            - Perdão professora, eu sei que errei.

            - Tudo bem Marquinho, está tudo bem, vamos...

                        Assim todos foram para a casa das letras. E no dia seguinte depois do café, foi a despedida.

            - Quero todas as letras ao lado uma das outras, para uma foto de recordação.

            - Então venha “A,B,C,D,E,F,G,H, I,J,K,L,M,N,O,P,Q,R,S,T,U,W,X,Y,Z. Pode bater a foto Marquinho, está formado o alfabeto! - exclamou a professora.

            - É festa aqui hoje?

            - Escritor João Rodrigues! Seja bem vindo à nossa festa!

            Todos riram tão alto que acabaram acordando Marquinho junto aos seus carrinhos em sua casa...

 

                                    FIM  

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