quinta-feira, 27 de abril de 2023

O Anjo do Amor João Rodrigues

 O ANJO DO AMOR

 

JOÃO RODRIGUES

 

            Um dia à beira de uma estrada férrea um jovem senhor estava assentado num pequeno banco à espera do trem de ferro que levava pessoas de uma cidade para outra, e nesse local em especial, o trem só concedia trinta segundos de tempo para o embarque de passageiros. De modo que aquele jovem senhor estava ali esperando o trem de trinta segundo, ali, assentado no pequeno banco com duas lindas malas do seu lado.

            - Malas bonitas amigo! - exclamou um forasteiro que apareceu do nada e sem nada em suas mãos.

            - É, são minhas coisas, estou indo embora para capital, estou fugindo com o amor da minha vida.

            - Mas fugindo por quê?

            - O seu Tolentino, o pai dela, não concorda com o nosso namoro, acho que só por eu ser um homem sem recursos e ele ser muito rico...

            - E quanto ao seu amor? O que acha disso?

                        - Da riqueza do pai dela ou de fugir comigo?  

            - Das duas.

            - Entendo que ela está do meu lado, pois se fosse ao contrário não fugiria comigo.

            - E para onde está indo mesmo?

            - São Paulo, e a essas horas ela deve estar à minha espera lá na estação para a gente ir para a terra da garoa, é o nosso sonho, lugar das oportunidades, lugar dos ricos...

            - O pai dela veio de lá?

            - Não, ele é daqui mesmo dessas bandas, ficou rico por receber uma herança da família do sogro.

            - Um rico de tabela!

            - É, por isso vive pisando nos outros.

            - E como se chama o seu amor?

            - Marinalva, a minha esperança de ser feliz.

            - Não é uma pessoa feliz?

            - Como poderia ser já não sou tão jovem assim, todas as oportunidades que tive, sempre deu em nada, até parece coisa do destino, andei por muitos lugares em busca de trabalho e quando encontrei um fui me apaixonar justamente pela filha do meu patrão, e agora tenho de fugir com ela em busca de sermos felizes...

            E assim, Jair Rodrigues falava dos seus planos para um desconhecido lá nos confins do sertão, assentado num pequeno banco que era testemunho de muitos que passaram por ali, lembramos que o trem só tinha trinta segundos para o embarque de passageiros naquele lugar, e ele lá com aquelas duas malas bonitas e um coração cheio de amor e esperanças.

            - E como se chama mesmo?

            - Jair Rodrigues, filho de Leonel, lá da cidade de Carinhanha no estado da Bahia.

            - Mas o senhor não está tão longe assim da sua terra natal, porque não vai pra lá ao invés de ir para São Paulo?

            - Não amigo, de lá eu já vim, já está decidido, Marinalva e eu, seremos felizes em São Paulo...

            Jair Rodrigues estava mesmo decidido ir viver com a linda Marinalva que naquele momento deveria estar lá na estação à espera do seu amor para irem a busca da felicidade.

            - O senhor sabe o horário do trem seu Jair?

            - Não, senhor...

            Naquele exato momento Jair olhou com ar de esperança para a estrada e notou que do nada o trem surgiu e logo o forasteiro pulou na janela e enquanto ele apanhava as suas lindas malas foi o tempo do trem seguir e só lhe restou assentar de novo no banco e esperar o próximo. Foi uma coisa de dar dó, ele e as suas malas lá na distancia dos olhos daquele forasteiro que o via cada vez menor.

            - Coitado! - Exclamou o forasteiro ouvindo o alto falante da locomotiva que dizia:

            - Senhores passageiros, viemos informar com muito pesar que esta é a última viagem que fazemos nesta estrada, pois por ordem superior, esta linha foi desativada.

            Mais uma vez o forasteiro tentou olhar para trás e já não foi mais possível ver o pobre Jair Rodrigues que não tinha a mínima idéia do que estava acontecendo.

            - O que será dele meu Senhor?

            A mansa voz do forasteiro se perdeu na vontade de poder gritar para que Jair Rodrigues ouvisse...

            Agora para aquele forasteiro tudo parecia perdido para o Jair Rodrigues, se verdadeiramente Marinalva estava mesmo à espera dele, o que seria dos dois, não tinha mais trem para Jair Rodrigues e ela já tinha fugido de casa...

            - Estamos no fim da linha senhor - Informou o funcionário com ar de tristeza.

            - Está triste amigo - relatou o forasteiro saindo do trem...

            - Por ser esta a minha última viagem nesta linha...

            O forasteiro nem mesmo deu atenção para o funcionário, pois a sua intenção era saber se a Marinalva estava mesmo à espera do coitado do Jair Rodrigues que tinha ficado lá naquele banco à beira da estrada.

            Contudo a sua intenção era nada mais do que matar a sua curiosidade, será que Marinalva estava mesmo ali...

            Não demorou muito tempo quando aquele forasteiro pôde ver o quanto era linda aquela simples camponesa que atirava os seus olhares de desconfiança para cada um que contemplava a sua beleza.

            - Seria o seu nome Marinalva? - indagou o forasteiro embriagado nos encantos da morena...

            - Sim, Marinalva Fogaça, ao seu inteiro dispor.

            - Encantado com a sua beleza e simplicidade em pessoa.

            - Agradecida por tamanho elogio, em que posso ser útil?

            O forasteiro levou algum tempo para responder como se estivesse esperando a sua voz chegar de algum lugar bem distante...

            - Ele ficou na estrada, estava com duas lindas malas, sei que o trem chegou e não deu tempo para ele subir com aquelas lindas malas.

            - Ficou esperando o próximo trem - relatou a jovem querendo desabar-se em lágrimas...

            - O qual não haverá.

            - Pois é, ouvi falarem no alto falante.

            Agora Marinalva estava enfrentando mais uma das suas decisões quando o forasteiro ofereceu-lhe o braço dizendo:

            - Vamos?

            Marinalva ficou por algum instante olhando o braço daquele desconhecido que parecia ser mais uma armadilha do destino e em seguida falou:

            - Sim, irei com você rumo ao destino do meu amor, seguiremos os solitários trilhos de ferro, e se quando lá chegarmos e ele não se encontrar, irei contigo pra onde quer que vá.

            De modo que aquele forasteiro seguiu com Marinalva por aqueles frios trilhos de ferro que choravam por saber que não teriam  mais serventia...

            - Sente o que estou sentindo Marinalva, a dor do desprezo que invadiu esta estrada, tudo por causa de um corrupto que ocupa uma posição e vende no seu gabinete o destino dos outros.

            - Uma coisa infernal, o mundo sempre foi assim, veja o meu pai, o poderoso senhor Tolentino, um rico de tabela, não tenho certeza se foi sempre assim, acho que a maldade entrou em seu coração quando recebeu aquela maldita herança.

            - Jair Rodrigues me disse que foi por parte do sogro...

            - Foi, a minha mãe nunca foi feliz desde quando o vô recebeu aquela fortuna.

            - Eu compreendo Marinalva...

            De maneira que o forasteiro seguia com a linda Marinalva naquela estrada fria e solitária sendo iluminados pela apaixonante lua que lá de alto prateava aquele sertão molhado pelo sereno quase invisível para os olhos dos humanos...

            - O dia já está quase amanhecendo Marinalva, sinto que logo estaremos com Jair Rodrigues.

            - Sim, pelo que sinto estamos chegando.

            - Tem razão, é logo depois da curva.

            E coberto pelas brisas frias, Jair Rodrigues dormia debruçado sobre as lindas malas...

            - Amor, acorda, já estou aqui...

            Quando Jair Rodrigues abriu os seus olhos de simplicidade e paciência teve o privilégio de poder ver a sua linda Marinalva que afogando em seus beijos dizia:

            - Eu vim te buscar amor, não tem mais trem nesta linha, eu vim te buscar...

            Jair Rodrigues nem mesmo tinha interesse de saber se tinha trem ou não, o que ele queria mesmo era a sua linda Marinalva que estava ali em sua frente ainda mais radiante ao se misturar nos primeiros raios de sol.

            - Foi ele quem me trouxe querido...

            - Quem, querida!

            - O forasteiro amor, ele me trouxe, ele sumiu, quem será ele!

            E lá do infinito veio uma voz:

            - Sou o Anjo do Amor.            

 FIM

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