quinta-feira, 27 de abril de 2023

Eu e Elas João Rodrigues

 EU E ELAS

 

JOÃO RODRIGUES

 

            Hoje já estou velho, velho na verdade, porém me sinto novo, pois o que me fez mesmo velho a me sentir novo, foram duas coisas: A primeira o fato dos dias que eu vivi. Ai sim fiquei velho. A outra que me faz estar sempre novo, Foi o amor que eu vivi. Com ele eu descobri que só se vive feliz com o amor. E que é o amor que nos faz ser sempre novo por mais velho que formos. No tocante aos meus dias vividos eu não tenho nada de especial para dizer, pois, queira ou não, temos que ver os nossos dias ficando para trás, nos dando assim a impressão de termos ficado perdido na escuridão do passado. E que jamais seremos capazes de voltarmos ao reencontro. É como se víssemos os nossos corpos se atirando no abismo do ontem ou num abismo imaginário que vai, vai, vai. Agora o amor que me refiro este sim, é viver com a cabeça erguida nas nossas decisões, nas nossas vontades, nas nossas paixões. Na nossa totalidade de desejos. Não deixar de maneira alguma, ninguém nos tirar este amor. Ou o amor que você sente por si ou por alguém. Este é o que me faz me sentir realizado, feliz e novo. Bem, para que eu possa explicar melhor sobre o amor e em especial o meu amor, seria melhor voltarmos ao passado. Não para viver comigo o meu amor, que isto seria impossível, mas para que eu possa reviver os momentos, agora junto com você. Meu nome é Juvenal, nasci em uma pequena cidade do interior, não vou dizer o nome dela para que você não venha rir de mim, No entanto, imagine só, para que você possa acompanhar a minha história. Uma cidade com poucas ruas, e nessas poucas ruas, poucas casas, e a maiorias delas, bares, mercearias, e lá bem no meio desta cidade uma pequena igreja aonde todos os dias os fiéis vão orar, vão pedir, agradecer e oferecer ao criador, as suas obras conforme as suas penitências. Eu também ia. Pois fui acostumado por meu pai e a minha mãe. Essa por sua vez vivia com os seus joelhos calejados de tanto fazer as suas penitências, para que tudo de bom acontecesse comigo, ela e o meu pai, sei que suas orações pareciam ser acertadas, pois tudo era alegria naquele lar. Lembro-me com nitidez o quanto era bonito. Nas noites de frio intenso eu sempre dormia na sala, aonde a minha mãe e o meu pai me contavam histórias, eram histórias lindas que para mim só eles sabiam contar. Assim quando às vezes a noite eu acordava em minha cama e ia me deitar com eles. Ah! Como era gostoso! Não tenho nem palavras para comparar o quanto era gostoso aquele momento. Nem sei o que verdadeiramente eu sentia, parecia que naquela cama, dormia a paz e o amor. Pois no dia seguinte o meu pai saía para o trabalho e a minha mãe cuidava dos afazeres, enquanto eu brincava. Não tinha coisa melhor, isso eu não posso reclamar. Pois quanto brinquei.  Lembro-me do meu quarto, no canto dele os meus brinquedos se sentiam contentes, até mesmo parecia que havia uma disputa entre eles, de qual seria o que eu ia escolher para brincar, para mim não tinha coisa melhor.  Não existia outra coisa que fosse melhor do que aquela. E eu fui crescendo, foi  quando um dia meu pai falou:

            - Gabriela! Não acha que já é hora de mandarmos Juvenal para a escola?         Aquilo para mim foi a melhor coisa que soou em meus ouvidos. Eu já ia para a escola. Eu nem sabia o que era escola, contudo só de saber que eu ia para escola, me senti grande. Até falei:

            - Mamãe, que dia eu vou para escola?

             - Na semana que vem!

            Até parecia que essa semana nunca ia chegar. E ela chegou. E no meu primeiro dia de aula o meu pai foi me levar para escola. E quando lá chegamos o meu pai falou:

            - Dona Carmem, aí está o futuro doutor!

            - Pode deixar seu Manoel, eu cuidarei dele. Venha cá menino.

            - Juvenal, Dona Carmem, esse é o nome dele, Juvenal!

            - Obrigada seu Manoel.

            Vi o meu pai indo embora, agora eu estava nas mãos da professora como se eu fosse um vivente qualquer, que é separado da mãe... Juro que não gostei de ver o meu pai me deixando ali para ser um doutor, quem era aquela pobre professorinha pra me fazer um doutor! Parecia que eles estavam me enganando. Vi que eu não tinha escolha, quando ouvi a professora falar:

            - Eu estou aqui representando o pai e a mãe de vocês.

            - A senhora está mentindo!  Falei sem sentir.

            Para que eu fui falar. Na verdade eu tinha mesmo que falar. Pois, como pode uma simples professora substituir o carinho de uma mãe. Nunca ela ia conseguir, nunca... Ela poderia dizer que era uma autoridade e que era a sua obrigação de nos ensinar. Contudo representar os nossos pais, nunca. Ela nunca poderia falar aquilo. Até poderia dizer que teríamos que respeitá-la, porém, nunca dizer que estava ali representando os nossos pais. De modo que eu não concordei. E logo em seguida ela com um tom absurdo de uma autoridade absurda, disse:

             - Juvenal, você está de castigo.

            - Castigo professora, o que é castigo?

            Pra que eu fui falar aquilo. Todos os meus colegas caíram na gargalhada, riram de mim como se eu fosse um palhaço. Foi assim que me senti.

            - Castigo Juvenal, é isso seu malcriado.

            Argumentou a professora me puxando pelas orelhas, e mandou que me ajoelhasse sobre grãos de milho jogados no chão ali do lado da sua mesa. Talvez na intenção de que os meus colegas rissem ainda mais de mim. Foi que ela disse:

            - Fique aí para aprender a não falar o que não pode.

            Não falar o que não pode como pode ser isso, fiquei pensando, pensando... Notei nos semblantes dos meninos uma coisa diferente do que o quê apresentava nos semblantes das meninas, senti que os meninos me transmitiam algazarra, porém, as meninas sentimento. Parecia que elas tentavam me dizer alguma coisa. Com isso eu fique triste. Pois, eu não tinha irmã. Eu na verdade não tinha nenhuma amiga. De mulher que eu conhecia era a minha mãe. Sei que o meu pai tinha reações diferentes do que as reações da minha mãe. No entanto eu nunca tinha pensado que meninas que nunca tinham tido contato comigo fossem sentir algo por mim.  Assim fiquei quieto até que  a professora falou:

            - É hora do recreio. Vocês podem ir lanchar.

            Vi que todos saíram e foram para o pátio da escola, eu, no entanto me sentia como um prisioneiro, contudo não me sentia triste, Pois sabia que alguma coisa importante estava no coração de cada uma daquelas meninas. E antes de sair à professora falou comigo:

            - Você aí Juvenal, pode se levantar, falaremos depois do recreio.

            Nem ouvi direito o que a professora falou, sei que fui lá pro pátio da escola na vontade de falar com as meninas, nem mesmo sabia o nome delas, porém, eu sentia que alguma coisa de bom me esperava, e eu tinha que saber o que era. Lá no pátio, no entanto, eu fiquei perdido no encanto de tantas meninas bonitas, porém, os meus olhos se encontraram com os olhos de uma menina da minha sala. Nem vi a hora que cheguei perto dela e perguntei:

            - Qual é o seu nome menina?

            Ela com um lindo sorriso na face, respondeu:

            - Jussara, este é o meu nome, e o seu é Juvenal, não é?

            - Isso Jussara, este é o meu nome, comecei hoje na escola e   já  fiquei   de castigo. Não sabia que na escola fosse assim. A minha mãe me criou com tanto carinho...

            - Não fique triste Juvenal, é assim mesmo. Já estou aqui há dois anos, sei que logo você vai se acostumar.

            Realmente fiquei muito surpreso com a educação de Jussara. Mas o que eu esperava na verdade não aconteceu. E nem mesmo eu sabia o quê, o certo é que eu fiquei muito feliz por ter conversado com Jussara. Até nem tive tempo de lanchar. Pois, a sirene tocou anunciando para voltarmos para a sala. E todos já na sala quando a professora falou:

            - Não quero ver meninos conversando com meninas no pátio da escola, muito menos da minha classe. Está ouvindo Juvenal. Eu não esperava que a professora estivesse me observando a esse ponto. Mas, tudo bem, o que eu queria mesmo era saber o que eu estava sentindo a respeito das meninas e especialmente Jussara.

            - Está bem professora.

            Respondi por responder, pois, nem estava aí para a Professora, porque os meus olhos estavam mesmo era fitados nos olhos de Jussara. Eu notava que o quê eu sentia por ela, demonstrava que ela também sentia por mim. Sei que era uma coisa muito sublime. Será que aquilo era o amor? Não sei se essa palavra era a resposta para o que eu sentia. Sei que o tempo passou como um sonho. Foram muitos anos que vivi na minha juventude. Jussara sempre do meu lado. Ela era a minha primeira namorada. Vi desde pequena o seu corpo se desenvolvendo. Eu já rapazinho e ela mocinha, nós brincávamos na sala da minha casa. Até parecia que ela era a irmã que Deus não tinha me dado. E ela veio em forma de uma namorada. Quanto eu amava Jussara. Tudo que o meu pai ia comprar para mim, eu dizia:

            - Uma para Jussara também.

            Meu pai não incomodava com aquilo. Até tinha vez que ele comprava para mim e para Jussara. Ele até vinha dizendo:

            - Juvenal, este é para você e este é de Jussara.

            Tudo estava indo bem, até que um dia eu ouvi uma vizinha da minha mãe dizer:

            - Gabriela, você deve ter cuidado com Juvenal e Jussara, eles já estão muito grandes, não é bom ficarem sozinhos...

            Minha mãe com sua simplicidade, respondeu:

            - Nada Marta, eles ainda são crianças.

            Minha mãe falou aquilo só para manter as coisas em segredo, porque na verdade eu já estava mesmo era namorando Jussara. Eu considerava que o meu namoro começou com ela desde aquele dia que falamos pela primeira vez na escola. Meu pai na verdade também sabia que eu namorava Jussara, porém, nunca quis me dar a liberdade de falar sobre esse assunto. Não sei até hoje o por quê. O seu Pedro, o pai de Jussara era um homem muito velho, e a mãe dela era uma senhora muito educada. Uma professora aposentada. Via nas pessoas como se fossem eternamente os seus alunos. Ah! Eu ia me esquecendo de falar o nome da mãe de Jussara. Era Dona Antônia, gostava muito de jogar baralho com a minha mãe. Eram grandes amigas. Lá naquela cidade muito distante daqui. Você deve estar curioso com tudo isso que estou comentando, porém, foi assim mesmo. E os anos se passaram...  Fiquei rapaz, gostava de usar roupa preta e um lindo chapéu de maça, também de cor preta. Foi um presente que ganhei de Jussara no dia do meu aniversário de dezoito anos. Eu me sentia importante com aquele chapéu. Fazia-me ficar feliz, muito feliz. Lembro-me que fui a uma festa com o meu pai, no arraial perto da cidade.

            Lá eu conheci uma garota por nome de Leonor. Morena alta, bonita, tanto quanto Jussara. Sei que dançamos um pouco e o meu corpo suado se juntou ao dela, eu senti vontade de uma coisa especial. Eu senti vontade de estar com ela. Sei que foi uma coisa repentina, pois, eu até falei:

            - Leonor! Como gostei de você. Sinto o meu corpo desejar o teu.

            Eu te quero!

            Foi a primeira declaração em minha vida que fiz a uma mulher. Ela por sua vez ficou meio inibida. A música acabou e nos soltamos um do outro. Porém, eu a acompanhei. Sei que ela se assentou perto de um senhor e eu cheguei dizendo:

            - Leonor, eu preciso falar com você!

            - Pode falar comigo! Eu sou o pai dela.

            Fiquei assustado com o homem, mesmo assim argumentei:

            - Obrigado senhor. No entanto, não tenho nada a tratar com o Senhor. O que quero mesmo é falar com sua filha.

            O homem ficou nervoso e disse:

            - Eu bem que podia virar a sua cara para o anverso garoto!

            - Não vejo motivo para brigar senhor, não quero nada além de falar com sua filha, posso ou não posso?

            Meu pai viu que eu estava em apuros, e num piscar de olhos ele chegou dizendo:

            - Algum problema filho?

            - Não pai, está tudo bem.

            Sei que meu pai ficou conversando com o homem enquanto eu falava com a linda Leonor.   - Você parece ser louco. Meu pai é um homem muito valente.

            - Não sou louco Leonor, eu não sou louco. Não estou interessado na valentia do seu pai. O que me interessa mesmo é apenas te amar, amar, amar, até morrer. Eu seria capaz de morrer por você. Pois o que sinto por você é como se fosse a minha própria vida. Eu quero você para mim. Notei que quando falei tudo aquilo para Leonor, ainda era muito pouco no tocante o que eu sentia por ela. Sei que quando terminei de falar ela se atirou em meus braços e disse:

            - Não precisa falar, beije-me...

            Beijar, eu, eu nunca tinha beijado outra mulher, quem eu aprendi a beijar foi Jussara. Era só ela que eu beijava assim mesmo na face dela. Não daquele jeito que Leonor me beijou, eu nunca tinha beijado. Senti que aos pouco ela parecia ir entrando mim. Foi aí que me encostei ao seu corpo e a música tocava. Sei que eu sentia alguma coisa que nunca tinha sentido, uma coisa muita especial. Foi a primeira vez que aquilo aconteceu, uma coisa simplesmente maravilhosa. Parece que o meu pai tinha notado que algo de estranho estava acontecendo comigo. Assim que a música acabou, eu fiquei segurando a mão de Leonor como se eu estivesse colado com ela. E ele veio ao nosso encontro dizendo:

            - Filho, peça licença a senhorita e vamos ali comigo.

            De modo que pedi licença a Leonor e acompanhei o meu pai na escuridão da noite, rumo a saída de um caminho... Lá ele disse para mim:

            - O que você está fazendo meu filho? Sua namorada não é Jussara!

            - Sei que é pai, mas sinto uma coisa além de mim, uma coisa que nunca senti antes, uma coisa muito especial. Meu corpo está desejando Leonor pai.

             - Isso é o amor filho, o amor é assim.

  Fiquei feliz com aquilo, pois era a primeira vez que eu e meu pai falávamos de amor, foi muito legal. Depois que falamos um  pouco,  voltamos para a festa e ao me encontrar com Leonor me atirei em seus braços com uma incomparável paixão. Agora eu estava vivendo o verdadeiro amor. E com aquela voz suave e macia, Leonor falou em meus ouvidos: 

- Onde vocês estavam?

            - Eu estava pedindo ao meu pai permissão para te namorar.

            Falei aquilo com Leonor e pude ver em seus olhos a alegria incontestável de estar ali comigo. Pois até disse:

            - E o seu pai, o que ele achou de mim?

            - Ficou feliz em me ver dançando com você.

            Sei que eu mentia para Leonor, pois estava morrendo de medo de que ela não ficasse comigo.

            - Vamos dançar?  Convidou Leonor...

            - Sim, para mim é sempre um prazer...

            Saí dançando com ela, ah como foi bom. Poder encostar novamente em seu delicado corpo. Era como se estivesse encostando-se a uma coisa deliciosa. Sabe, não tenho palavras para poder comparar o que verdadeiramente eu estava sentindo. Era grande a minha alegria, a minha emoção, o meu ser estava alegre por estar ali. E enquanto eu dançava dava para ver o meu pai conversando com o pai dela lá num canto de uma sala. Via também a mãe de Leonor que estava também na conversa com o meu pai. E eu sentia que era sobre nós dois, pois gesticulavam e de vez em quando olhavam para nós como se nós fossemos o de melhor que existia ali naquela festa. Aquilo me dava prazer e ao mesmo tempo um calafrio percorria o meu corpo que a dúvida invadia o meu pensamento de uma forma cruel, pois só de pensar que se eles não aprovassem o meu namoro com Leonor. Como seria a minha vida! Não por eu ainda ser muito jovem, que isso seria fácil, pois logo eu seria homem feito, apesar de Leonor já está moça feita... Poderiam não querer me esperar. Aquilo estava me incomodando consideravelmente, sei que a música terminou. E saí com a minha mão presa a mão dela e nos dirigimos até onde estavam os nossos pais. Dentro de mim estava a disposição de naquela hora pedir ao pai dela a sua mão em namoro. E quando fomos chegando, percebi que o meu pai mudava de assunto, mesmo assim ainda tive a coragem de dizer:

            - Senhor Marcos e senhora Cleuza, gostaria de pedir-lhes a mão de Leonor em namoro. Quero dizer, em casamento. Eu adiantei logo para casamento, pois era o que eu mais queria naquele momento. Sei que se eu não me casasse com ela, nem sei o que seria da minha vida. E no mais, como eu iria viver em paz, sabendo que foi ela que me fez descobrir a coisa mais maravilhosa que tinha acontecido a mim até aquele dia. Não, eu jamais viveria em paz. Só se eu fosse morrer, no entanto o que eu mais queria era viver, e viver com Leonor para o resto da minha vida...

             - Não acha que está muito cedo garoto?

             - Não senhor Marcos. Sei que ainda sou novo, porém, acho que tenho condições de cuidar da sua filha.

            - Sendo assim rapaz, tem a minha permissão.

            Meu pai tentou me avisar de alguma coisa, porém, eu nem sequer dei atenção a ele.   Sei que caí nos braços da morena e disse a ela:      - Eu te amo Leonor!

            Vi nos olhos de Leonor algo que nem tenho como dizer, parecia que aquela noite estava sendo a maior noite de toda a sua vida. E para mim também estava sendo.

            - E quanto a mim? Não diz nada! - Relatou a dona Cleuza.

            - Nem precisa mamãe!

            Exclamou Leonor abraçando a mãe com muita alegria.   

            - E eu? Não tenho o direito de falar nada?  Interrompeu o meu pai se sentindo de fora daquela hora de muita emoção.

            - Fique calmo papai.

            Falei pouco com o meu pai. O meu medo era de que ele poria alguma coisa a perder.

            - Bem, já é hora de irmos...

            Argumentou o senhor Marcos. Eu, no entanto o interrompi dizendo:

            - Antes eu poderia dançar mais uma música com Leonor, senhor? Para comemorarmos o nosso compromisso.

            - Só mais uma...

            Fui dançar com Leonor e acabei mergulhando na canção. E notei que muitos nos olhavam. Aquilo foi muito gratificante para mim.  E todos bateram palmas para nós, quando a música acabou. Não vou querer me enaltecer, Mas foi o maior momento que aquela família vivia. Eu estava feliz. A levei até o senhor Marcos e eles se foram, parecia que junto com eles foi também o meu pobre coração. Naquela noite pude entender que algo estava mudado. De um simples rapaz eu agora já estava namorando Leonor. Já estava com um firme compromisso... No entanto eu sentia que o meu pai estava muito incomodado. Até que quando já estávamos a caminho de casa ele me disse:

             - Juvenal. E agora? O que vai fazer?

            Fiquei  um pouco trêmulo, no entanto tive coragem para respondê-lo.

            - O senhor está se referindo a Jussara, não é?

             - Sim filho, o que pretende fazer com ela?

            - Nada pai. Eu amo Jussara o tanto quanto eu amo Leonor. Pretendo me casar com as duas. Sei que quando falei que ia me casar com as duas, o meu pai não podia  me ver,  pois ainda estava escuro. Mesmo assim imaginei o seu semblante quando ele disse:

            - As duas meu filho! Como duas filho, isso não é possível!

            - Não sei por que pai. Tudo depende de mim e de cada uma delas.

             - E quanto às famílias meu filho?

            Pensei um pouco para responder ao meu pai.

            - Caso as famílias tentarem impedir a nossa união o que poderá ocorrer é simplesmente uma grande separação.

             - De você com elas?

            - Não pai, das famílias. Abandonaremos a todos e iremos viver num lugar onde ninguém jamais pudesse imaginar que existíssemos.

            Sei que o meu pai jamais pensaria que eu fosse dizer tal coisa. Percebi em seu pensamento um grande vazio se isso viesse a acontecer, pois até disse a ele:

            - Tudo na vida tem um fim pai. O amor que o senhor e a minha mãe me deram e que continuam me dando não é e nunca poderá ser comparado com o amor que eu sinto pelas duas. Procure entender isso papai!

            - Estamos chegando filho...

            Assim que chegamos à casa a minha mãe veio nos receber.

            - Gostaram tanto assim da festa?

            - Foi muito boa a festa Gabriela. Na próxima prometo te levar.

            - Eu também gostaria de ir...

            - Jussara! Você aqui meu amor.

            Fiquei surpreso ao ver o corpo de Jussara dentro de uma roupa de dormir, ela era ainda mais bonita.

            - Sim filho. A convidei para dormir comigo.

            Assim eu dei um abraço e um beijo em Jussara dizendo do fundo do meu coração:

            - Como te amo Jussara. Você é simplesmente linda.

            - Jussara sem se envergonhar do meu pai e da minha mãe, se atirou em meus braços dizendo:

            - Não diga nada, beije-me...

            Fechei os meus olhos e me entreguei a ela. Foi que senti que ela beija de uma maneira estranha. Era como se estivesse em um grande desafio. Foi a primeira vez que isto aconteceu. Meu pai e a minha mãe tinham ido dormir e eu também fui com a minha Jussara. Sei que me deitei na minha cama com ela. Foi algo muito importante. Logo depois eu acordei com alguém que aflito gritava:

            - Dona Gabriela, dona Gabriela!

 Sei que a minha mãe foi atender a pessoa e lá no fundo do meu coração parecia que algo de ruim estava acontecendo, pois até ouvi a minha mãe dizer:           - Como? O que você está dizendo...

            E o meu pavor aumentou quando ouvi a minha mãe dizer novamente:

             - Levanta homem, vêm problemas.

            Nem esperei que me chamasse. Fui ao encontro da minha mãe e perguntei:

             - O que está acontecendo mamãe?

            - Leno veio avisar que o pai de Jussara morreu. E que a mãe dela está muito mal.

            Nem precisei avisar Jussara, pois ao ouvir o que a minha mãe disse, ela saiu correndo indo ao encontro dos seus pais. Nem sequer falou comigo. Pois nem precisava falar. Logo observei a prontidão do meu pai para nos ajudar. Pois meio triste relatou:

            - Vai Juvenal, vai ver o que está faltando para elas. Depois irei com a sua mãe.

Minha linda Jussara, mesmo mergulhado naquela dor, eu não conseguia apagar da minha mente o nosso grande, lindo e inesquecível primeiro momento. Eu estava feliz e ao mesmo tempo triste, triste, mas feliz, pois eu jamais imaginei que o nosso primeiro momento fosse chegar entre coisas assim difíceis de explicar. De um lado o meu namoro com Leonor que nem mesmo ela sabia e do outro lado a morte do seu pai que nem eu nem ela estávamos esperando. Tudo era difícil de entender. Logo vi o meu pai que chegou na casa de Jussara e ali ele deliberava as coisas como se fosse agora o chefe da família. A minha mãe também não ficava para trás. Dava até para perceber que Jussara tinha perdido seu pai, mais ganhou outro, e recebendo como recompensa mais uma mãe. Eu estava ali perto de Jussara que segurava a mão de sua mãe que já nas últimas me disse    

- Juvenal! Promete-me cuidar da minha filha? Promete?

            Eu segurando a mão de Jussara e da mãe dela não pude deixar de dizer:

            - Não deixarei a sua linda filha desamparada senhora. Eu prometo em cuidar dela. Pode ter certeza.

            Depois que falei aquilo, senti o semblante de Jussara mudar, parece que ela queria que a mãe dela soubesse que ela já era minha mulher. Eu também tive vontade de dizer a ela. Mas acho que já não dava mais. Ela já tinha partido. Tinha seguido o seu grande amor. Pois para mim, eles não passavam de um casal de eternos pombinhos. Por muitos anos de convivência nunca ouvi sequer uma só discussão entre os dois. Aquele era verdadeiramente um modelo de casal. Era o que se pode dizer. Uma dádiva de Deus. Foi difícil passar aquele resto de dia e aquela noite de velório. Uma que eu tinha vindo de uma festa, nem mesmo tinha dormido direito. Mas suportei, pois o que eu mais queria na minha vida era poder cumprir com o meu trato que fiz no leito de morte para a mãe de Jussara. Cuidar da linda Jussara. E eu estava lá, cumprindo o meu trato. Sei que aquela tarde fúnebre para mim ao pôr-do-sol, que me levava a uma eterna recordação. Quando vi aqueles dois caixões serem encobertos de terra e que eu jamais veria aquelas duas pessoas que fizeram vir ao mundo a minha linda Jussara. Sei que eu chorei. Eu não ia chorar, mas fui obrigado a chorar. E chorei o quanto pude chorar. Não consegui conter aquele  turbilhão de lágrimas que desceram dos meus olhos. Foi quando murmurei:

            - Adeus amigos. Eu amei vocês. Os amei de todo o meu coração. Que Deus conceda-lhes um bom lugar.

            Sei que falei olhando para Jussara ali do meu lado. E que transmitia para mim em seu lindo semblante, muita paz. Pois até me disse:

             - Eu te amo...

            Não respondi o que ele me disse. Da minha garganta não saia nada a não ser emoção. Saí daquele cemitério abraçado com Jussara. Minhas pernas pareciam não querer andar, mas tive que ir. Ir e enfrentar uma nova vida. Jussara agora era totalmente minha. Eu era o tudo que restou na vida dela. Sentia o seu corpo leve e suave que parecia flutuar ali do meu lado. 

            Aquela coisa singela, indefesa, e ao mesmo tempo uma rocha. Pois vi muito pouco as suas lágrimas ali. Bela e formosa até mesmo na dor. Aquilo me fazia grande. Mesmo diante do acontecido eu me sentia grande do lado dela. E o tempo passou como se fosse um sonho. Já há mais de trinta dias eu não tinha ido ver Leonor. Pois estava muito ocupado resolvendo os problemas de Jussara. Ela me pedia para vender tudo que ela tinha e que comprasse uma grande chácara que tinha perto da casa do meu pai. Assim eu fiz. E depois que estava tudo acertado Jussara me falou:

            - Sabe amor! Sinto que alguém clama por você. Gostaria de saber quem é. Eu sei que só tenho você nesse mundo. Não quero que nada venha a lhe acontecer. Não quero ver você triste. Pois que ama não pode ver o seu amor triste. Vá buscar esta pessoa para perto de nós.

            Fiquei por instantes meio confuso e murmurei:

            - Como posso confessar tamanha situação!

            De modo que Jussara relatou:

            - Meu amor, não fique confuso, você sabe que sou sua desde criança. Não vejo motivo de ficar assim. Lembra-se daquele dia lá no pátio da escola? Aquela menina era eu. Eu cresci com o seu sorriso. Sei perfeitamente o que você sente. Até muitas vezes sei o que você está pensando. Nós somos uma só pessoa, eu te amo de verdade. Não quero de maneira alguma te ver triste. E nem também esta pessoa que também te ama. Vá atrás dela. Pois todas as noites ela chama por você. Vá meu querido, vá...

            Não tive como dizer não à minha querida Jussara. Pois pela maneira especial que ela falou não seria apenas um pedido de alguém que ama de verdade, e sim uma ordem. De maneira que passei aquela noite pensando na ordem da minha querida Jussara. E já dia após o café da manhã, eu fui ao encontro de Leonor. No entanto, depois que me despedi de Jussara, saí caminho afora carregando no meu coração a certeza de que eu teria de enfrentar a fúria do senhor Marcos que deveria estar muito nervoso com tanto tempo que já havia decorrido do meu compromisso. Sei que seria uma grande batalha. Eu ia ter que ficar com as duas, porque esta era à vontade da minha querida Jussara. Levar Leonor para perto de nós. Eu já estava chegando na casa de Leonor, sentia o meu coração bater acelerado, parecia que eu estava com medo, ou uma outra coisa que não dava para saber... Já era noitinha lá na fazenda Lagoinha, lá no pé da serra. Quando percebi que desmontei do meu cavalo e foi entrando. Encontrei o senhor Marcos na sala, e ele foi logo me dizendo:

            - Demorou mas veio. Isso é o que significa ser Homem?

  Não o respondi. Sei que ele me fez perguntas. Porém não lhe dei respostas, só sei que perguntei:

   - Onde está sua filha?

  - No quarto - Informou a dona Cleuza meio triste.

   - Nem pedi licença, foi até o quarto, e lá estava Leonor prostrada na cama que só lhe restava o couro e o osso.

   - Querida!

   Foi esta palavra que encontrei quando vi a tristeza que existia naquele lindo rosto iluminado pelo mudo lampião presente numa pequena mesa. Vi nos olhos de que eu disse para ela:

            - Levante moça, a vida ainda não acabou. Sinto que agora é que ela vai começar. Eu vim te buscar.

            - Na experiência que fez, encontrou você com outra Juvenal? - indagou a senhora Cleuza entrando no quarto.

            - Não tem nada a ver senhora, eu gosto dela tanto quanto gosto da outra. E ainda mais que Jussara está órfã de pai e mãe.  

            - Vai se casar com a minha filha para ser madrasta da sua amante? - indagou o senhor Marcos com ar de revolta.

            - Não senhor Marcos, pretendo me casar com as duas.

             - E se eu não quiser?

            - Não sei querida, só sei que o quê tem em minha mente não é nada de ruim. No meu peito está presente a satisfação de poder fazer você e Jussara as mulheres mais felizes da terra. Pois, foi até ela mesma que pediu que eu viesse te buscar. Ela me Disse que a sua alma chama por mim. Por isso estou aqui para te levar.

            - Não acha que está querendo muito, Juvenal?

            - Não depende de mim senhor Marcos. E sim do amor que sinto por elas duas. E sei que sou capaz de fazê-las felizes.

            - Acho muita ousadia sua.

            - Entendo senhor. No entanto estou disposto a esperar o tempo que for preciso. Espero pela sua morte para que eu faça a sua filha feliz.

             - E se você morrer primeiro!

            - Deus é o encarregado disso senhor. Porém, sei que Ele permitirá que eu viva muito tempo e que o senhor também, assim viverá, pois, o que eu sinto por sua filha, é uma coisa muito sublime. Acho que só pode ser coisa de Deus.

            Sei que falamos, discutimos, e até que eles concordaram me deixar ficar no quarto com Leonor. E ali. Por instante fiquei olhando para ela. Depois me assentei na sua cama e deixei que ela colocasse a sua cabeça no meu colo, eu fiquei passando a minha mão em seus cabelos e dizendo a ela:

            - Logo estaremos casados Leonor. Quero entrar na igreja com você e Jussara.   - Será que ela vai gostar de mim?

            - Sim, é claro que vai. Ela me ama desde quando o nosso tempo de criança. E jamais faria algo que me deixasse triste. E deixar triste quem eu amo e que me ama.  Posso afirmar que o meu amor por você e por ela, nunca irá se apagar da minha mente e nem do meu coração.

            Eu falava  com  Leonor  e  percebia que  os seus pais estavam nos escutando. Pois, logo que chegamos num acordo:

            - Venham jantar filhos! A comida está na mesa!

            Notei que a atitude da dona Cleuza era simplesmente ver a sua filha feliz. Eu também estava com ela, era esse o meu desejo e o da minha querida Jussara. Sei que aquela coisa de preconceito, sociedade, que fosse tudo para o inferno. Eu queria mesmo era eu e elas. Fomos então para a sala...

            - Pode se assentar aí Juvenal.

            Ordenou o senhor Marcos.

            Notei no semblante dele um pouco de tristeza, mas no fundo, eu sentia que ele também estava gostando da idéia. Via nele a satisfação de ver a sua filha sorrindo ali na mesa conosco. Pois, depois do jantar, fomos para o alpendre da casa contar histórias. Mais tarde os pais dela foram dormir e nós ficamos lá no terreiro da casa olhando as estrelas que pareciam piscar os olhos para nós. Vi que Leonor se perdia na imaginação dava para perceber que ela vagava pelo imaginário e se perdia na beleza do céu. Ela até sorria e contava as estrelas. E num mudo momento, nos entregamos um ao outro, lá mesmo no terreiro sobre a areia e sob o lindo lençol de estralas que nos cobriam. Parece que me esqueci de  tudo. Só no dia seguinte acordei com o som do berrante que o senhor Marcos tocava chamando as vacas para o curral. E eu deitado de barriga para cima, pude ver os raios de sol que entravam pelo telhado enfumaçado pelo passar do tempo.

            - Oi amor!

            Exclamou Leonor, abrindo aqueles lindos olhos e me entregando aqueles lindos lábios corados que eu nunca iria me cansar de beijá-los.        - Dormiu bem meu amor?

             - Melhor não podia ser.

            - Já é hora de se levantar. Vamos tomar café.

            - Sim minha querida.

            Levantei-me com ela e fomos para cozinha enquanto ela me dizia:

            - Estou disposta ir embora com você.

            - Vai deixar os seus pais sozinhos?

            - É, acho que é hora de deixar os dois sozinhos, como tudo começou.

            Fiquei feliz em perceber a inteligência daquela moça que agora era minha mulher. A minha segunda mulher. Eu estava totalmente contente com tudo aquilo. Fiquei um pouco envergonhado de estar à mesa tomando café, e a dona Cleuza tinha ido apanhar água na cisterna. Porém fui interrompido quando Leonor relatou:

            - Amor! Eu sempre imaginei que o meu amor viesse um dia à noite para me buscar. Eu dormiria com ele, e no dia seguinte ele me levaria para um lugar que tivesse muitas plantas. E ali numa casa grande, todas as manhãs, o  meu amor regaria comigo um lindo jardim.

            Quando Leonor falou em muitas plantas veio em minha mente a chácara de Jussara. Eu não tinha dito para ela nada daquilo. Seria uma grande coincidência. Foi que notei que tudo aquilo que eu estava vivendo já era nada mais do que um plano arquitetado num tempo bem antes de mim. Arquitetado por alguém muito especial, pois apesar de parecer estranho o que estava acontecendo, eu, no entanto me sentia muito feliz. Tudo indicava que aquilo era de Deus. E sendo assim eu me sentia na obrigação de lutar para que tudo desse certo, para que eu não envergonhasse nem Jussara e nem Leonor. E eu ia fazer tudo para dar tudo certo. Como isso meu Deus, me dê entendimento para que eu possa dar conta de tudo, e não lhes deixar faltar nada. Que afastasse de mim as línguas daqueles que ao em vez de se preocuparem com suas vidas, vivem aí se metendo na vida dos outros. Eu implorava a Deus para que tudo desse certo, e olhando perdidamente para os lindos cabelos de Leonor. De modo que falei:

            - Já temos a casa, as plantas, o jardim, e ainda Jussara para nos ajudar a regá-lo.   Está lá à nossa espera.

            Eu sentia no fundo da minha alma que Leonor não falava aquilo por falar. Ela estava verdadeiramente feliz. E eu nem tinha como comparar a minha tamanha alegria.        

- A minha mãe está chegando da fonte  Juvenal,  vem  vindo  com  a  lata  d'água  na cabeça.

            - Como ela é linda, hem. Leonor! Será que quando era nova se parecia com você?

            - Isso mesmo, só que tinha o cabelo curto - argumentou o senhor Marcos que vinha chegando do curral.

            - Por que agora ela usa os cabelos compridos?

            - Porque esta coisa linda que fez você vir de longe...

            Nem precisava o senhor Marcos falar. Sei que eu disse a ele:

            - Estou muito feliz com ela senhor, e te prometo fazer até o impossível para quê ela possa estar sempre linda como é. Deixando assim a sua mente para amar com alegria, esta pessoa que te fez e faz feliz, e que agora também me faz, por permitir o meu amor com Leonor.  Pois, aproveito esta oportunidade para dizer ao senhor e a dona Cleuza que Leonor irá comigo.

            Depois  que falei  aquilo,  percebi  que  o  senhor  Marcos  ficou  meio entristecido ao sentir que Leonor ia embora. Assim voltei a comentar:

            - Sei que vai ser muito duro para o senhor e para dona Cleuza. Também será igual para mim e para Leonor.

            - É este o destino de todos, não é? Vão morar juntos ou vão se casar?

            - Nos casaremos no Sábado. O senhor e a dona Cleuza estão convidados para serem meus padrinhos de casamento por parte de Jussara, o meu pai e a minha mãe, serão os padrinhos de Leonor.

            - Acha que vai dar certo Juvenal, a vida a três?

            - Não vejo nada de errado senhora, eu amo as duas na mesma intensidade.

            Percebi no olhar da dona Cleuza, um tom de desconfiança no tocante ao casamento. Porém o senhor Marcos estava confiante em minha palavra. Sei que dos olhos de ambos desciam lágrimas. Quando Leonor se despediu.

            Eu falei:

            - Aguardamos vocês no casamento.

            Eu não era lá o príncipe encantado, eu era o verdadeiro amor. Sei que deixamos a fazenda Lagoinha inerte lá no pé da serra, e fomos embora, vivermos felizes depois do nosso casamento. Esse foi um  pouco  complicado.   Porém  foi tudo conforme o que eu queria. Vivi muitos anos com as duas. Como fomos felizes. Pois cada um de nós procurava fazer tudo perfeito para que nada saísse errado. Leonor e Jussara pareciam ser duas irmãs, desde o primeiro momento que se viram, ficaram amigas. E anos depois o pai de Leonor morreu. A mãe dela veio morar com o meu pai e a minha Mãe. Mais tarde a minha mãe morreu. Isso causou muita dor em Jussara. Abateu-lhe uma grande febre e ela acabou morrendo. Dias depois meu pai teve um infarto e acabou morrendo. Fiquei desgostoso. Vendi tudo que tinha na cidade, comprei uma grande fazenda, aonde fui morar com Leonor e a sua mãe. Não demorou muito tempo a mãe de Leonor morreu. Só restando agora eu e ela. E vivemos o tempo que Deus nos concedeu. Não tivemos filhos, de maneira que acolhemos um casal pobre e passamos para eles tudo que tínhamos, na condição de que eles cuidassem de nós até o nosso fim. Primeiro foi Leonor que morreu. Anos depois eu vim para cá. Estou aqui neste lugar frio. Deste lado está Jussara e do lado esquerdo Leonor. Eu fico aqui no meio delas eternamente. Ah! Queria dizer uma coisa. Nunca despreze alguém que te ama. Por mais impossível que lhe parecer o jeito deste alguém te amar. Sabe! Vou lhes recitar dois poemas, uma é para Jussara, e o outro é para Leonor. Se por acaso algum deles for bom para você, pode ficar com ele. Elas não vão precisar mais deles... Já foi muito bom para elas e por que não dizer ótimos para mim. Foi eu até os recitava sempre que eu podia para vê-las felizes do meu lado. Quando me refiro de felicidade eu quero simplesmente relatar que é tudo aquilo que está distante de pontos de vistas, de julgamentos, de saber se isso é melhor ou pior do quê aquilo. É como se fosse uma coisa suave como um pouco de lã sendo assoprado lentamente para o vazio do infinito céu. Não compreendo uma coisa. Sei que estou agora impossibilitado de poder voltar ao passado e começar tudo de novo. No entanto se eu pudesse voltaria como criança lá naquele maravilhoso ninho aonde eu nasci. Ver o meu pai sorrir a cada dia com aquele sorriso que não tinha tamanho.  Aqui no silêncio interminável eu só tento encontrar aquelas frases que ele gostava de repetir nas  manhãs de sol e tempestade, nas tardes de alegrias e tristezas, que nessa última foram poucas, nas noites de luar e escuridão, nas madrugadas quentes e frias. Você deve estar sorrindo de mim! Assim eu acho melhor irmos aos poemas... Poemas esses que parecem ser na verdade um gesto de poder agradecer por tudo de maravilhoso que aconteceu a nós três. Sei que eu e elas fizemos parte de um grande e interminável poema que é a vida.

 

 

Para Jussara

 

Bela, desde pequena,

 

Minha menina, que tanto amei, hoje sei.

 

Sei que nada pode comparar,

àquela singela, pura e meiga.

 

Flor, bela na vida e no amor,

 

Simples, em tudo,

 

Com muita pureza, amou-me, com certeza.

 

Sei, o quanto ela me fez, feliz, feliz, feliz.

 

Eu sempre quis, quis dizer ao mundo,

 

Em voz que brada nas alturas, no infinito.

 

Na longa estrada, do grande amor, da minha, eterna e incomparável Jussara.

 

Minha Jussara, que com quem, quero viver, 

 

Eternamente.

 

Juvenal 

 

   Para Leonor

 

Formosa, Longe de tudo,

 

O que pensar, dela, ainda é pouco.

 

Sempre foi, foi sim, a mais bela,

 

Mais em amor, mais sorridente,

 

Mais em alegria, mais resistente,

 

Mais na vida.

 

Mais pura, mais nos dias,

 

Mais em que pensar,

 

Mais no querer,

 

Mais desejo,

 

Mais na conquista,

 

Mais em tudo.

 

Obrigado meu amor, por ter me dado,

 

Seu calor,

 

Desde o dia,

 

Que te conheci.

 

Juvenal

            Foi muito bom. Se eu tivesse te conhecido teria quem sabe compartilhado tudo isso com você, Contudo na vida é uma coisa de cada um, um presente individual que Deus dá a quem Ele bem entender, Porém, no meu humilde ponto de vista, muitos jogam este lindo presente pela janela da ignorância, onde jamais pode encontrar. Estou aqui entre ales duas, neste frio túmulo. Não vou dizer que não sinto saudades das coisas que vivi com elas. Pois sinto, Muita saudade. Agora eu vou. Adeus.

FIM

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