UM CAÇADOR
JOÃO RODRIGUES
Na margem direita do Rio Carinhanha, na altura do quilometro 60, partindo da cidade de Carinhanha, vivia um homem que só gostava de caçar. Morava ali numa pequena casa de paredes de enchimento. Ele com a sua esposa chamada Isabel, seu filho Joaquim, a sua filha Tereza, e também vivia com ele a sua inseparável companheira de caça a cadela lampreia. Aquele homem não fazia nada mais na vida além de caçar. Todas as tardes ele e a cadela lampreia saiam para o mato em busca da caça. A sua querida esposa ficava em casa cuidando dos seus filhos e confiante no poder da sua cadela lampreia que com o seu faro perfeito nunca tinha lhe decepcionado. Ela sempre acuava a caça. E logo que Isabel ouvia a cadela lampreia acuar, já colocava a água no fogo, na certeza de que em seguida o som incomparável da cartucheira do seu marido, avisava o sertão que mais uma caça ia parar na panela do caçador. E assim o sol nascia e entrava lá nos confins do sertão baiano, como Num interminável poder de eternas repetições. Um dia, no entanto, não se sabe porque, aquele homem e a cadela lampreia saíram para caçar. E assim que ela entrou na mata acuou a caça. Cumprindo de uma maneira natural o seu papel. Naquele momento o coração de Isabel se alegrou ao ouvir o latido da sua cadela. Pois sabia que logo ouviria o tiro da cartucheira do seu marido. Com um sorriso no rosto ela colocou a água na panela e acendeu o fogo. Assentou-se ali numa cadeira de balanço e os seus olhos fixados nas chamas que aqueciam a panela se misturaram nas imagens de indecisões e interrogações por não ouvir o tão esperado tiro. Aquele dia a senhora Isabel, esposa daquele caçador não escutou o tiro. A sua mente vaga, vagava ao longe procurando o motivo de porque o seu esposo não ter atirado. O que teria acontecido a ele... O certo é que fogo apagou, a água esfriou e já noite foi que primeiro chegou a cadela lampreia, acordando assim a sua dona que dormia na cadeira de balanço lá na pequena cozinha da pequena casa nos confins do sertão. Minutos depois chegou o seu marido e disse:
- Oi querida!
- O que aconteceu? Eu não ouvi o tiro!
Romão então com um olhar triste e inexplicável falou:
- Eu não tive coragem de atirar na caça minha querida. A caça era muito bonita. Ela era linda! Não pude atirar...
Isabel ficou pensativa. Não conseguia de maneira nenhuma registrar em seu coração ou em sua mente o motivo que levou o seu marido a não ter atirado na tal caça linda que se referiu. E matutando lá no interior da sua rude mente o que tinha acontecido. Aquilo foi muito difícil para ela entender. Pois quantos anos ela dividia com ele ali naquela casa situada no barranco do Rio Carinhanha. Ele nunca tinha tido um comportamento estranho quanto aquele. Não, não dava para entender. De modo que aquela foi uma noite horrível para ela, seus filhos e a própria cadela lampreia que uivava lá no terreiro com fome e procurando inutilmente entender o que tinha acontecido. Ela tinha sim, cumprido o seu papel. O que estava acontecendo com o seu dono. Esta era a dúvida da pobre cadela lampreia. E também a dúvida da sua dona de não conseguir entender o porquê do seu marido não ter atirado na caça. Aquela foi uma noite de tristeza, uma noite de suspense, uma noite de indecisão, para todos que viviam naquela pequena casa. Como poderia ser, um homem já naquela idade. Um respeitado caçador. Muitos anos vivendo ali. E só depois de tanto tempo ir encontrar com uma caça que tinha esta tal beleza a ponto de lhe tirar a coragem de atirar nela. Ele vivia daquilo. Era a sua sobrevivência. Não se tratava de um esporte. Ou uma brincadeira qualquer. Era o seu jeito de viver. Ele tirava dali o sustento da sua família. E justo ele encontrar aquela caça bela, linda que não teve coragem de atirar. Naquela noite quase ninguém dormiu. E veio o dia seguinte. Dia que o nosso senhor bom Deus comanda sem nos pedir opinião. E veio o dia com um sol radiante, soberano, bem distante das vontades idiotas de muitos humanos com cara do cavalo, com o nariz de borracha e a face cheia de grandezas e maldades. Não, aquele sol estava além dessas coisas nojentas dos comuns chamados humanos. E o astro rei subiu ao céu como se fosse uma brasa ardente dando vida a vida dos que vivam ali nas brenhas do sertão. A tarde logo chegou, o sol já se despedia da terra, e novamente o caçador com a sua inseparável cadela lampreia saíram para caçar. E eles seguiram, deixando ali Isabel preparada para refazer tudo o que era de costume aos longos e felizes anos de alegrias que viveram ali. Até ontem, o maldito dia da caça bonita. E não demorou muito tempo para Isabel ouvir os fracos latidos da sua cadela lampreia. De modo que com um farto sorriso no rosto, Isabel atiçou o fogo na panela e se assentou na sua cadeira de balanço. No entanto, mais uma vez não ouviu o tão esperado tiro da cartucheira do seu marido. A cadela lampreia mesmo com fome cumpriu o seu papel. Ela acuou a caça, porém, o homem não atirou novamente... Duas horas mais tarde, aquele homem chegou na sua pequena casa. Observou na cozinha que ali a panela estava no fogo, porém, o fogo estava apagado, só restava as cinzas debaixo da panela e a sua querida Isabel não estava ali. De forma que ele entrou na sala, Isabel não estava lá também, não estava também no quarto de Joaquim e nem mesmo o seu filho estava lá. Entrou no quarto de pequena Tereza, Essa também não se encontrava ali, nem a sua amada Isabel estava no seu quarto. Finalmente ele sentiu a falta da sua Isabel. Ali no quarto onde vivia com a sua amada Isabel. Onde agora também estava sem ninguém. De modo que perdido o caçador procurava com os seus olhares de tristeza por todos os lados, ali no quanto daquela pequena casa onde por muitos e muitos anos ele viveu feliz com a sua amada Isabel. Um frio intenso e misterioso percorria o seu corpo, parecia regar o seu coração com um sangue amargo lhe fazendo sentir uma coisa inexplicável. Onde estaria agora a sua linda e amada Isabel! Ele queria dizer a ela que a caça daquele dia ainda era mais bonita do que a de ontem. Contudo, não foi possível. Pois no grande e frio espelho da aconchegante penteadeira estava escrita com batom vermelho a seguinte carta:
- Fazenda Jenipapo, 16 de Julho de 1953.
Meu inesquecível Romão.
Venho através desta humilde missiva informar ao senhor que a partir desta presente data não posso estar aqui neste abençoado lar onde juntos com os nossos filhos e a nossa cadela lampreia passamos momentos que nunca poderei esquecer.
Sei que foram bons os momentos que jamais os encontrarei em toda a minha vida. Quero deixar claro que a minha decisão é uma questão de sobrevivência. Nada posso fazer para ficar aqui. Sempre te respeitei e te amei enquanto era um caçador. Enquanto não achava as caças bonitas. De modo que estou indo embora, e vou com o meu coração repleto de dor. No entanto, sei que não posso ficar. Foi muito bom ter te conhecido Romão, muito bom ter vivido com você. Agora estou indo a busca de um caçador. Da mulher que tanto te amou. Isabel.
- Ela era sim, muito bonita! - exclamou Romão.
Romão saiu para o terreiro da pequena casa com a carta em sua mente. Pois a sua intenção era lá contar a sua cadela lampreia o que tinha acontecido. Contar que agora restaram apenas eles dois ali. Ele ia dizer a sua cadela lampreia o quanto estava triste com aquela carta que estava escrita com o batom vermelho no espelho da sua penteadeira. Contudo ao chegar no terreiro, para aumentar ainda mais a sua dor, ele só encontrou o singelo rastro da sua cadela lampreia que tinha com o seu apurado faro seguido estrada a procura da sua dona Isabel. A sua companheira de muitos e muitos momentos de alegria. A sua dona Isabel.
- Até você lampreia!
O grito triste de Romão ecoou por todo o vale do Rio Carinhanha, no dia 16 de Julho de 1953. E todos os que passam por aquela estrada de areia que margeia o Rio Carinhanha, vêem aquela casa e comentam:
- Ali vive um homem muito triste. Dizem que ele era muito feliz com a sua linda esposa, feliz sim, enquanto ele era um caçador. Só que depois que ele começou achar as caças bonitas a sua linda esposa se foi em busca de um caçador...
FIM
SONHOS
SONHOS
JOÃO RODRIGUES
Agora gostaria de convidar você para seguir por aí, junto iremos ouvir as histórias dos sonhos que me contaram. Eu também vou contar alguns que sonhei.
Bem, em primeiro lugar vou contar um dos meus. A esse quero dar o título de “A CIDADE DAS PESSOAS DO ROSTO FINO”.
No sonho eu estava dentro de um trem de ferro, o qual parou numa cidade no qual tinha suas casas construídas com ferro.
Eram casas pequenas, mas, no entanto saia de dentro delas às pessoas, os seus habitantes. Eram pessoas entranhas, tinham o rosto fino.
Parecia ali um ponto de parada do trem, sei que saí para tomar café e percebi que aquelas pessoas com rosto fino, tinham também os seus pés como se fossem pés de aves. Além disso, de uma forma exemplar elas se vestiam de roupas coloridas, eram muito bonito o modelos de suas roupas, até me fez sentir inveja... Como era bonito, muito...
No entanto me senti contrariado com a maneira exótica delas tomarem café com canudo, pois o rosto fino que tinham não lhes permita ser como a gente.
Dava até uma coisa ruim em mim, de modo que resolvi ir para o trem, porém este já tinha ido, sei que no sonho fiquei meio triste que apenas meus olhos podiam ver lá na distância o tal trem seguindo...
Quando o trem se foi me senti com muito medo de ficar ali na cidade das pessoas com o rosto fino.
Saí andado pela linha de ferro com medo de olhar para trás, pois no sonho eu tinha medo de ficar ali e também ficar com o rosto fino igual aquelas pessoas, assim sai andando sem olhar para trás, fui...fui...
- Ei moço, ei...
Olhei para trás...
- Vamos, vamos...
Quem me chamava era um carro, e parecia que o carro andava sozinho, mas no banco do passageiro tinha uma mulher estranha.
- Entre e dirija o carro, entre.
A mulher ordenou-me, assim vi que já não estava mais naquela cidade, pois o rosto dela não era fino como os das pessoas das roupas coloridas.
Não compreendi o que teria conduzido aquele carro até ali, uma vez que não tinha motorista, mas antes eu dirigi aquele carro do que ficar naquela cidade.
De modo que me assentei no banco do carro e saí dirigindo para o lugar que a mulher mandava.
- Vamos filho, vamos rápido, vamos...
A voz da mulher era uma voz estranha, mas como era estranha eu até fiquei com medo dela, porque era muito estranha.
- Mas para onde devemos ir com tamanha velocidade, hem, para onde?
- Ge, ge, ge re re re.
- Eu não quero saber de ge, ge, coisa nenhuma, pra onde estamos indo mesmo?
A estrada que íamos parecia não acabar, sei que especialmente ela era uma estrada bem diferente de todas as estradas que eu já tinha andado, parecia um sonho, eu parecia não saber que estava sonhando, mas não conseguia saber o mistério da estrada.
Lá bem adiante resolvi não obedecer ao que a mulher tentava falar, ou que falava, porém eu nem mesmo estava dando ouvidos a ela.
- Vou mudar de rumo - murmurei comigo mesmo.
Mas antes de parar, voltei a insistir comigo.
De modo que quando pisei no freio o mesmo não obedeceu, como vi o meu corpo quente se sentir na dor como seria a partir daí como seria.
- A senhora é louca, não podia fazer isso, não podia.
E aquela coisa ficou sorrindo de mim, aquele sorriso esquisito, naturalmente eu sei que aquele era sorriso, sorriso estranho eu não gostei muito do tal sorriso.
E assim fiquei sem definitivamente saber o que fazer descer não podia, a velocidade era muito grande, não dava mesmo condições para descer.
- Já que é assim mulher do sorriso louco eu vou, me...
Nem terminei de falar, toquei a mão no volante e resolvi ir para a ribanceira, me chocar com ela e tudo não deixando assim nada.
- Vai tudo pro...
- Não faça nada - argumentou a mulher
- Por que sua coisa do sorriso?
Ela sorriu novamente e de modo que percebi que o carro não obedecia ao volante.
- Meu Deus! Não obedece ao volante, que tipo de coisa é essa. O que é essa coisa estranha?
Pois mais estranho foi quando pode encontrar a coisa do carro, o volante na minha mão ele se soltou, assim percebi que tudo estava perdido, de modo que pedi a mulher:
- Será que não dá pra senhora me deixar no lugar onde me apanhou?
- Você quer voltar lá pra casa?
- Que casa você está querendo dizer? - indaguei a mulher com surpresa.
- Se pra casa do povo do rosto fino.
- Não quero saber de ir pra aquele lugar, não quero mesmo.
- Então dirija com a mente, é só pensar.
- Não estou entendendo?
- Pense, pense, pense o que você quiser pensar, pense...
Não conseguia entender o que a mulher falava, mas se ela disse que era para pensar eu comecei a pensar, pensei, mas o meu pensamento no sonho era um pensamento meio bobo eu nem tinha mesmo o que pensar, mas pensei ir para muito longe, fingi como se fosse mesmo longe daquela cidade das pessoas da cara fina, do rosto fino.
Logo que pensei vi que o carro abandonou a estrada e suavemente saiu voando.
- Nossa, está voando!
Falei como se fosse uma criança feliz ou encantada com tamanha beleza, sei que o carro flutuava com muita suavidade.
- Está gostando? - perguntou a mulher.
- Sim, estou aqui em cima, é muito bom. Quando terminei de falar a mulher falou:
- Então pule, não preciso mais de você, não quero saber de pessoa que gosta de voar, quem voa na verdade não tem bom pensamento, pule vamos pule.
Nem dei o meu ponto de vista, sei que uma coisa me tirou de dentro do carro e logo me vi voando.
- Meu Deus, estou em apuros, será que estou sonhando, será que isso é sonho, será que como as pessoas dizem que muitos não sabem que estão sonhando quando sonha.
Lá embaixo eu avistava que era a cidade das pessoas do rosto fino eu dizia:
- Não. Eu não posso cair nesta cidade.
Vendo o meu corpo flutuando como se lá embaixo estivesse alguma coisa que não permitia que eu descesse.
- Está bem, deixe que eu vá pra muito longe, assim não vou cair nesta cidade de pessoas estranhas. Deus, ajude que eu voe, voe, voe...
Mas nada adiantou, pois logo pude perceber que o meu corpo pesava e em menos de um segundo eu já estava perto do chão, mas sobre a linha do trem... Eu gritei:
- Prefiro que o trem venha e passe por cima de mim do que ficar neste lugar, seria muito melhor do que ficar aqui, eu não quer, não quero...
Sei que foi difícil, mas quando eu próprio desejava tal coisa o trem veio e cai sobre ele.
Senti aliviado de poder me sentir feliz de andar naquele trem, eu estava cansado, sei que dormi e acabei acordando em minha casa, mas acordando de verdade.
De modo que esta foi a história que aconteceu em meu sonho e agora vamos ouvir a história que um amiguinho meu tem pra contar:
- E você Betinho, o que tem mesmo pra contar?
- Eu sim, é um sonho.
- Como se chama o seu sonho?
- Não sei, sei que sonhei.
- Está bem então, foi um sonho sem nome.
- Sei que estava eu e meu primo.
- Onde vocês estavam?
- Vagando, sei lá, vagando de uma maneira diferente. Sei que estávamos numa casa de um conjunto, e lá na casa muito rapidamente o carro veio e se chocou na parede e matou o dono da casa.
- E depois?
- Eu sei que depois que o homem morreu. Nós já não estávamos lá, e sim na minha casa e o carro veio também nos perseguir, assim corremos para casa do nosso vizinho e lá a mulher abriu a porta.
- Ela abriu a porta rapidamente?
- Não, demorou um pouco, sei que estávamos aflitos, pois o carro vinha em nossa direção.
- E quando ela abriu a porta, o carro entrou junto com vocês?
- Não, o carro passou subindo a rua.
- E o que mais?
- Ah, não sei, só isso mesmo.
Bem vejam o sonho do nosso amiguinho, não foi muito grande.
- Deixe-me contar o meu também?
- Sim, pode contar, vamos ouvi-lo também.
- Eu estava com o meu amigo fazendo um trabalho de som na sua casa, e sei que a caixa do som deu defeito.
- Mas o que aconteceu, qual é mesmo o seu nome?
- Dani, e do meu amigo e Je.
- Sim Dani e aí?
- Ficamos notadamente tristes, pois som é uma coisa que quando pára não tem graça.
- O que vocês fizeram então?
- Não consegui entender, sei que lá mesmo no meio da multidão de pessoas surgiu um homem grande, muito alto, e nos emprestou as suas caixas de som.
- Como eram estas caixas?
- Grandes. Cada caixa dava duas das nossas, ele era muito grande.
- E depois no que se deu?
- Não sei, sei que acordei e disse para mim mesmo.
- O que você disse?
- Que besteira foi isso?
- Ótimo Dani, e volte sempre para contar os seus sonhos que colocaremos em nosso livro dos sonhos.
Bem amiguinhos por hoje é só, depois continuaremos com outras histórias de sonhos, não se esqueça de escrever os seus, devem ser histórias maravilhosas que não devemos ter medo delas, pois tudo é sonho, onde não tem problemas, por isso devemos sonhar a vontade...
Fim
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