A VELHA DO NARIGÃO
JOÃO RODRIGUES
Marquinho tinha um amiguinho com quem gostava de ir todos os dias à tardinha no mato apanhar lenha.
Certo dia porem:
- Maria, Marquinho está ai?
- Sim dona Tereza, ele está brincando.
- Antônio está ai com ele?
- Não, Marquinho está sozinho, Antônio não está aqui!
Quando Marquinho ouviu a mãe de Antônio à sua procura dele disse:
- Mamãe, a dona Tereza não sabe pra onde Antônio se foi?
- Acho que não - respondeu Maria sem fazer muito caso no que o filho falou.
- Eu vou ao mato onde Antônio gosta de ir - argumentou Marquinho consigo mesmo saindo escondido de casa.
Marquinho sabia que o lugar que Antônio gostava de ir era lá no pé da serra do pau preto.
- É aqui o caminho que vai ao pé da serra do pau preto - murmurava Marquinho.
Quando ele começou entrar pela floresta adentro ouviu alguém falar.
- Venha Antônio, é muito bom lá, vamos.
Marquinho escondido por entre as ramagens avistou o seu amigo indo com um menino pretinho.
Marquinho ficou pasmo quando viu que o seu amiguinho parecia estar sonhando e o menino preto dizia:
- Vovó Narigão gosta muito de fazer bolo.
Marquinho ficou pensando:
- Vovó Narigão! Nunca ouvi falar nesta vovó!
Assim Marquinho seguiu os dois...
Logo a noite chegou lá na casa de Antônio estavam todos preocupados e a preocupação aumentou quando perceberam que Marquinho também assumiu.
Marquinho, no entanto, não estava preocupado com o que estava ou estivesse acontecendo lá em sua casa, muito menos na casa do seu amigo, o que lhe interessava agora era desvendar o segredo da vovó Narigão.
- Pra onde será que eles foram - argumentou Marquinho murmurando na escuridão já no pé da serra.
Mas não demorou muito o seu pesadelo, pois logo foi surpreendido com um grande barulho acompanhado de uma risada:
- Bruuuuuuu, hahahahahaha hahahahahaha hi hi hi
Atrás daquilo surgiu um clarão e lá Marquinho viu uma pequena casa e uma velha muita feia com um grande nariz dizendo:
- Eu vou fazer um bolo, um grande bolo pra vocês.
No clarão Marquinho viu Antônio e o menino pretinho.
- Ei, vocês, onde estão vocês - gritou Marquinho.
O eco do grito de Marquinho retumbou por toda a serra com um grande espanto, aves que já estavam agasalhadas saíram voando perdidas na escuridão, porém, lá estava na casa da velha do NARIGÃO Antônio e o menino preto.
- Meu Deus! Parece que estão encantados - argumentou Marquinho consigo mesmo.
- Vou procurar aproximar-me, quem sabe eles me vejam...
Assim Marquinho aproximou-se e já bem perto da casa ainda escondido por entre a relva olhava no semblante dos garotos e sentia que eles estavam felizes...
Na verdade até Marquinho ficou com inveja dos meninos, pois o quanto era linda a casa. Eles, porém, estavam na cozinha e a velha dizia:
- Vai ser um grande bolo que vou fazer...
Ela disse entrando num quarto da casa e pela janela Marquinho viu e ouviu o que ela tramava.
- Vou fazer um bolo de pedras, eles vão comer pedra pensando que é bolo de verdade. Eles vão virar pedra hehehehehehehe.
Marquinho aproveitou a oportunidade enquanto a velha estava dentro do quarto e foi até a janela da cozinha e disse:
- Antônio, hei Antônio!
Pobre Marquinho que o chamava inutilmente, parecia que o seu amiguinho estava mesmo encantado, pois ele e menino pretinho não o ouvia.
Logo Marquinho tentou esconder, pois a danada da velha do NARIGÃO vinha falando:
- Agora a vovó vai fazer um grande bolo pra vocês meus queridos, ré rééééééé.
Tanto ódio naquele instante se apoderou de Marquinho que ele gritou.
- Ela está mentindo, é mentira dela.
Mais uma vez Marquinho ficou triste em perceber que o seu amigo é o menino pretinho estavam mesmo encantados.
- Meu Deus o que devo fazer para ajudá-los - relatou Marquinho entrando na mágica casa para enfrentá-los frente a frente.
Mas quem disse que Marquinho conseguiu entrar ali. Um vento forte vinha de dentro daquela casa iluminada que não dava pro Marquinho entrar, mas até que ele ficou bem pertinho da velha horrorosa e ela dizia:
- Esquidravagalume, meu bolo é muito bom, vai ser bom pra cada um, eles vão virar pedra.
- Eu não vou deixar sua Esquidravagalume.
Quando Marquinho falou esquidravagalume as luzes da mágica casinha apagaram-se e da porta da casa saiu uma grande onça.
Marquinho assustado com a onça ficou deitado no chão bem quietinho, a onça olhou, olhou e depois voltou pra dentro da casa e as luzes voltaram a ficar acesas.
Agora foi que ficou muito mais difícil de desvendar o segredo da velha do NARIGÃO.
Seria ela uma mulher de verdade ou uma onça que até já tinha comido o seu amigo e o menino pretinho...
Marquinho teve até vontade de chorar, pois quando ele gostava de Antônio, mas uma coisa ele sabia.
- Era só falar o nome estranho que a velha virava onça, assim ele murmurava:
- Se eu falar o nome estranho ela vai virar onça e onça não faz bolo, assim eu vou salvar os meninos...
Marquinho foi então lá pra janela da casinha e a miserável velha estava preparando o bolo encanto dizendo:
- Vai ser um grande bolo de pedra, é pra valer, quero ver aqueles bobos virar pedra, vai dar tudo certo, ré ré ré ré ré ré ré ré ré ré ré.
Marquinho então voltou, apanhou uma grande pedra e jogou na cabeça da velha.
- Ai ai ai, quem fez isso comigo!
Marquinho se escondeu e percebeu que a velha não era totalmente encantada, notou, no entanto que ela existia de verdade e que virava onça, restava agora saber se os meninos estavam mesmo encantados ou se estavam hipnotizados.
Assim Marquinho foi ao mato retirou muita ramagem e amarrou em seu corpo e foi perto da casinha e falou:
- Esquidravagalume!
Ah! Foi logo, a velha virou onça e saiu pra fora da casa e ficou perto de Marquinho pensando que ele fosse uma moita.
- Agora eu te mato sua onça idiota - gritou Marquinho batendo um pau na cabeça da onça.
Naquela hora que Marquinho bateu o pau na cabeça da onça, houve uma grande explosão e quem estava ali no chão era o seu amigo Antônio.
- Antonio, é você?
- Ai, onde estou, onde estou?
Marquinho jogou fora o pau e disse:
- Já é noite rapaz, o que está fazendo ai?
- Não sei Marquinho, só sei que vim apanhar lenha e de repente uma coisa estranha se apoderou de mim.
- Que coisa estranha? - indagou Marquinho.
- Não sei explicar com muito detalhe, só sei que tinha uma velha do NARIGÃO que falava em um bolo, mas logo ela virava onça.
- E do que era o bolo?
- Ela dizia que era um bolo, mas não dizia de que.
- E tinha mais alguém com você?
- Não, só tinha ela, e sei que um menino pretinho, ele corria comigo. Falava umas coisas estranhas, mas eu não conseguia entendê-lo.
- Lembra-se de mais alguma coisa?
- Sim, de uma casa, uma casa muito bonita, com muita luz.
Marquinho não quis dizer ao seu amigo que tudo que ele falara, ele tinha visto, pois, nem tudo que a gente vê é bom falar, ainda mais estas coisas de velha do NARIGÃO.
- Vamos embora Antônio, logo você vai se esquecer disso, você deve ter dormido ou sonhado, veja só a floresta está escura!
- É, pode até ser apenas um sonho, mas nunca vou me esquecer.
Assim Marquinho e o seu amigo voltaram para casa levando consigo uma história e um segredo que nunca poderia ser revelado, pois, Antônio poderia ficar com raiva dele se soubesse que fora ele que bateu o pau em sua cabeça para quebrar o encanto da velha do NARIGÃO.
Mas, quem seria o menino pretinho, de onde seria ele - murmurava Marquinho se perguntando:
- Será que ele não tem nenhum amigo que pudesse fazer quanto a mim para quebrar o encanto da velha do NARIGÃO ou será que ele seria apenas uma coisa do encanto, será que quando eu quebrei o encanto a velha voltou ao normal lá em sua casa e a mesma coisa veio a acontecer com o menino pretinho!
Desta forma Marquinho ia pensando enquanto caminhava para casa e com isso contar a sua mãe o que tinha acontecido.
- Meninos, onde estiveram, argumentou Maria mãe de Marquinho.
- Eu sabia onde encontrar Antônio, mãe.
- Mas devia ter me avisado.
- Está bem mamãe, da próxima vez eu avisarei.
No mesmo instante a mãe de Antônio veio chegando, abraçando o filho e dizendo:
- Meu querido, você é tudo que sua mãe tem.
- Será que a mãe dele também o encontrou?
- Deve ter encontrado Marquinho - argumentou Antônio.
- O que vocês estão falando? - indagou Maria.
- Não é nada de especial dona Maria! - exclamou Antônio abraçando Marquinho e dizendo:
- Obrigado meu amigo, não fosse você eu estaria encantado para sempre.
Antes de Marquinho responder ao seu amigo a campainha tocou:
- Marquinho, vá atender a campainha.
- Sim mamãe.
E quando Marquinho abriu a porta...
- Olá Marquinho!
- Escritor João Rodrigues, o que faz por estas bandas?
- Vim lhe falar da minha nova história em sua homenagem.
- Qual, a da velha do NARIGÃO?
- Sim Marquinho, você gostou do novo estilo?
- Gostei, mas gostaria de saber o que aconteceu com a velha e o menino pretinho?
- Não só a velha como a onça e o menino pretinho, a mágica casa, você, e em fim, todos são apenas imaginação.
- Oba, então não aconteceu nada com ele?
- Não, mas o que eu quis dizer é que é...
- Não, pode deixar, eu já sei, sei...
E naquela noite na casa de Marquinho foi uma grande festa, e João Rodrigues deixou muito claro a todos os meninos que nunca deveriam ir ao mato sozinho, e muito menos a noite, pois algo de ruim poderá acontecer.
Fim
Nenhum comentário:
Postar um comentário